Conheça o jeito Johnny’s de atrair fãs no Japão e no mundo

Se você acompanha música japonesa (j-pop), provavelmente já teve ter ouvido falar sobre o império fonográfico da Johnny & Associates (Johnny’s).

A agência é uma fábrica de grupos e idols (アイドル, ídolos) masculinos, fundada pelo excêntrico Johnny Kitagawa, em 1962. Esses artistas são treinados, geralmente desde crianças, a dançar (com coreografias e pulos), falar em público, interpretar, usar o carisma para conquistar o público, fazer caras e bocas, além de saber se virar em entrevistas e a fugir de perguntas pessoais.

A Johnny’s é detentora dos direitos de imagem e produção artística de tudo que envolve os grupos criados e promovidos por ela, como Arashi (meu grupo favorito), SMAP, Hey! Say! JUMP, Kankani8, NEWS, KinKi Kids, V6, Tokio, Shounentai, A.B.C-Z, Sexy Zone, Kis-My-Ft2, entre outros. A empresa também investe em duplas e artistas solos, como Tegomass (Tegoshi Yuya e Masuda Takahisa, ambos do NEWS) e Yamashita Tomohisa (ex-NEWS).

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Johnny’s = idols

No Japão, idol tem significado único e vai além do conhecido no ocidente. Em solo japonês, significa ser capaz de cantar, dançar, atuar em doramas (novelas japonesas) e filmes, apresentar programas de TV, modelar e fazer comerciais. Claro que nem todos os Johnny’s pegam o pacote completo. Um ou outro prefere focar a carreira em uma das áreas. Exemplo disso é o Ikuta Toma, que foi instruído para ser membro do Arashi. Contudo, acabou se tornando ator, sem deixar de fazer comerciais e modelar, claro.

Os idols (a nomenclatura vale para mulheres e grupos femininos também, como AKB48) são comercializados na indústria musical nipônica como objetos de desejo utópico, que despertam paixões platônicas, principalmente em adolescentes.

Eles precisam cuidar da imagem de bons moços, ou seja, não podem agir ou falar verdadeiramente, apesar de ter de mostrar que tudo que aparece na TV é puro e real. Além disso, são pressionados a esconder seus relacionamentos amorosos das fãs, quase sempre fervorosas e possessivas, para evitar a queda de popularidade, que é muito comum após o anúncio de namoros e casamentos por partes deles.

A política interna, que gera muita discussão, defende a ideia de que é preferível evitar qualquer flagra e polêmica na mídia. Obviamente, deslizes acontecem e as revistas de fofoca estão sempre prontas para divulgar qualquer nota ou foto. A mídia agradece, mas as vendas de álbuns e singles não.

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Os limites da vida pessoal (ou ausência dela)

Recentemente, um dos membros do Arashi, Ohno Satoshi, foi flagrado com uma suposta namorada e as fotos foram publicadas por um tabloide. O assunto só não foi muito adiante, porque ele faz parte da boyband masculina mais famosa do momento e, por isso, acaba sendo um tanto protegido. Após um show, uma revista divulgou um pedido de desculpas às fãs por parte dele, afirmando que a moça em questão era apenas uma amiga e que eles não se encontrariam mais.

Achei o fim da picada, porém, não se sabe se essas aspas eram realmente do líder do grupo. Torço para que não sejam. Observando situações como essa, tenho ainda mais certeza do quanto deve ser triste viver envolta de uma carapaça, onde é preferível manter um personagem a ser você mesmo.

Um exemplo que representa bem a rebeldia e saco cheio de tantas regras é Akanishi Jin (ex-integrante do KAT-TUN). Além de abandonar a boyband que fazia parte para estudar inglês nos Estados Unidos, casou e abriu uma conta no Twitter (@Jin_Akanishi), algo impossível para quem faz parte da Johnny’s.

Depois de vários desentendimentos, acabou saindo da agência. Só é chato ele ter perdido os direitos do último álbum que lançou, mas o que importa é que agora ele tem a liberdade que queria. Nem era fã do cara, mas depois de tanta demonstração de personalidade e ousadia, comecei a prestar mais atenção nele. E o trabalho dele é bom. Quem não conhece, dê uma chance!

Johnny’s fora do Japão

A maioria dos grupos nunca se apresentou fora do Japão. Apesar de ter fãs espalhados pelo mundo todo, a Johnny’s acredita que ser forte em território nacional é mais importante do que espalhar o nome das boybands pelo mundo. É tão absurdo que a agência faz questão de não publicar os videoclipes no YouTube, ato que só comprova a imagem de “autossuficiência” que ela quer passar.

Claro que isso causa revolta nas fãs internacionais, mas ninguém boicota ou faz nada para tentar mudar esse cenário. E é até compreensível. Não é fácil quebrar uma tradição antiga e que dá certo, financeiramente falando. Fora isso, as fãs japonesas parecem não se importar com essa realidade. Afinal, elas têm seus idols por perto e já estão acostumadas ao “jeito japonês” de lidar com a música.

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Mercado fonográfico japonês x cultura japonesa

Para quem não sabe, o mercado fonográfico nipônico é totalmente distinto do nosso. Lá, álbuns e singles ainda têm vendas consideráveis e conseguem bater recordes mundiais. Os japoneses não se importam de pagar pela música e estão um tanto distantes das compras digitais.

A cultura japonesa, em si, funciona de um jeito diferente. Existe uma barreira protetora para que as tradições do país não sejam destruídas. Isso é louvável, mas tudo que é excessivo torna-se doentio. A Johnny’s é um exemplo de protecionismo exacerbado, com boas doses de autoritarismo sob os ídolos criados pela agência.

Até quando esse domínio vai durar?

Difícil saber. Mas uma coisa eu sei: o mundo está mudando e a Johnny’s precisa repensar seus valores, reconhecer que há oportunidade além do território japonês e até aprender um pouco com os coreanos, que estão conquistando o mundo com o k-pop (música pop coreana) e k-dramas (novelas coreanas). Marinheiro que não sabe velejar, afunda no mar.

JACQUE-RODAPE

Sobre Jacqueroll

Apaixonada por cultura japonesa, o que inclui j-music (principalmente Arashi), dorama (novela), JRPGs, literatura, anime, mangá, cinema, idols e o próprio país como um todo.

Se você acompanha música japonesa (j-pop), provavelmente já teve ter […]

2 thoughts on “Conheça o jeito Johnny’s de atrair fãs no Japão e no mundo”

  1. Opa, gostei do post, Jacque! 😀
    Sobre essa questão deles terem que esconder a vida pessoal, eu sinto que isso acontece não só com Johnny’s, me parece ser mais uma questão – maluca e sem noção – da cabeça doentia das fãs da Ásia num geral… o fandom de lá é tudo meio louco, tenho até medo, hahaha
    E essa questão da JE cagar pro resto do mundo, de boas, acho que entre outras coisas, acaba servindo também pra fomentar a hostilidadezinha que o fandom internacional acaba tendo com o fandom japonês. Porque tem sim, fã japa muito folgadas, sem noção e egoístas, não generalizando, mas uma boa parte parece que tem prazer em achar que é mais fã porque tem os caras por perto… fato que pra mim ficou claro depois do Blast no Havaí do Arashi ano passado. Coisa deveras besta, mas enfim… -_-
    Mas sou a favor da Johnny’s repensar nos seus conceitos… nisso os coreanos dão um baile em cima deles! Como dizem também: camarão que dorme, a onda leva, hahaha

  2. Meio atrasada pra comentar, mas como fã de Johnny’s há quase 10 anos tenho que dizer que concordo muito com tudo no post. A política protecionista e reclusa da Johnnys só dá certo porque o público japonês compra muito cd, merchandising e lota show e eles não precisam do mercado internacional pra ficar milionários, e enquanto o público for assim não parece que nada vai mudar. O duro é que isso tem feito o consumo de jpop cada vez mais difícil pra nós. Antes o povo ainda ia em foruns, vc achava outros fãs e downlodas em comunidades fechadas mas até isso o povo vem meio que abandonando. No kpop é tudo tão fácil, os coreanos não tem esse mercado interno todo e estão cada vez mais ansiosos pra expandir interncionalmente, os idols tudo tem canal no youtube, redes sociais, o acesso aos fãs internacionais é mega fácil, e os johnnys cadê??? O compartilhamento de links e vídeos e legendas é tudo na surdina, a gente se sente até meio criminoso de compartilhar as coisas, é difícil conseguir mostrar pros outros e indicar pra tentar conquistar novos fãs pq num tem um linkzinho de youtube (porque se tiver que se esforçar uma palha ou baixar 10mb que seja o povo tb não quer né)… Ai, me sinto tão frustrada, to mais desabafando aqui do que qualquer coisa. E esse negócio do Ohno foi o fim tb, mas nem sei pq é que eu ainda me surpreendo com essas coisas..

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