Suas paixões – O que a sociedade aprova ou não

Por que certas paixões são mais aceitas na nossa sociedade do que outras?

Nas últimas semanas a franquia de Pokemon ganhou destaque no mundo inteiro através do lançamento do seu jogo Pokemon Go, um free-to-play de realidade aumentada voltado para smartphones iOS e Android desenvolvido pela Niantic Inc., Nintendo e a The Pokémon Company.

Para jogar só é necessário uma coisa crucial: andar por aí… pela cidade, pelas florestas, pelo mundo todo! E quando o localizador disser que tem um pokemon por perto, o jogador deve apontar a sua câmera para o local onde está a criatura e tentar capturá-la. Naturalmente, à medida que mais e mais pessoas começarem a jogar, haverá outros “treinadores pokemon” em busca dos mesmos bichinhos – sobretudo os mais raros. E então batalhas irão começar entre os jogadores.

O game já alcançou o top de verbetes mais procurados no Google desde o seu lançamento. Vídeos de várias pessoas dirigindo-se para certas áreas onde há um pokemon raro são exibidos na internet. Diversos estabelecimentos comerciais, conhecidos como “Pokemon-friendly”, permitem que as pessoas entrem e capturem possíveis bichinhos que estejam naquela área – e, obviamente, aproveitam para fazer uma graninha. Empresas de marketing estão simplesmente maravilhadas com o case de sucesso desta marca.

… porém, nem tudo são pokebolas e flores…

Cartaz aconselha jogadores a "beberem uma cerveja e repensarem suas escolhas na vida". Alcoolismo tá liberado então?

Cartaz aconselha jogadores a “beberem uma cerveja e repensarem suas escolhas na vida”. Alcoolismo tá liberado então?

Desde que a febre começou não faltam pessoas comentando o quanto isto é estúpido, que existem coisas mais importantes na vida do que “caçar pokemons”, sem falar nos riscos de se praticar este “e-sport” em locais onde há pouca segurança.

Notícias de pessoas sendo assaltadas, presas ou acidentando-se ao entrar em locais perigosos/proibidos começam a ganhar destaque. Como tudo na mídia, o lado negativo sempre acaba sobressaindo-se. E ao que parece a maioria das pessoas ditas “normais” apoia o lado negativo e pensa que o jogo é, no mínimo, imbecil. Vários “entendedores” da psiquê humana reforçam velhos conceitos de que “os jovens estão abandonando o mundo real” e coisas do tipo com a crescente presença da tecnologia.

No entanto, é curioso notar que muitas destas pessoas não parecem tão preocupadas assim com a saúde e bem-estar existencial dos outros quando se refere à paixões como bebidas, futebol, baladas e outros. Uma série de outros problemas sociais são diminuídos diante dos problemas dos nerds e otakus. A maioria das pessoas, sobretudo as que estão na casa dos trinta anos e além, ainda possui uma mentalidade do tipo: “Não vou gastar vinte paus em gibizinho se posso comprar cerveja com isto”.

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“Todo mundo se divertindo com um jogo gratuito que promove exploração, exercício e conhecer novas pessoas. Jornalistas: como eu posso fazer isto soar ruim?”

A bem da verdade é que existem sim, muitas coisas na vida mais importantes que jogar videogame, mas as pessoas que acusam os fãs de cultura pop de se distanciarem da realidade aparentemente não são capazes de seguir o próprio conselho. Dizem que os nerds se “entorpecerem” em seus mundos de fantasia, quando estes “normais” passam horas assistindo televisão, bebendo, discutindo assuntos irrelevantes.

Talvez estas pessoas precisem aprender uma coisa: compartilhar desgraças, beber e criticar as pessoas não vai fazer o mundo virar um lugar melhor: sair da frente do computador e fazer algo é que criará um mundo melhor. E pelo menos é isto que muitos jogadores de Pokemon Go estão fazendo: levantando a bunda da cadeira e indo caçar seus bichinhos. AINDA não ajuda a melhorar o mundo? Talvez, mas é um começo.

Quem está "vivendo mais"? O cara da esquerda ou o da direita?

Quem está “vivendo mais”? O cara da esquerda ou o da direita?

Ser um fanático por futebol e arrumar briga na rua é ruim, assim como passar a vida toda enclausurado no sótão dos pais consumindo livros e quadrinhos sem interagir com as pessoas é ruim também. Temos casos extremos em ambos os lados, mas é evidente como a sociedade vê um jovem caindo de bêbado na rua como uma situação mais “normal” do que um outro jovem que torra boa parte do seu salário em actions figures. Para muitos, “interação social” ainda é sair de balada, enquanto um “hangout online” entre amigos no sábado à noite é visto como alienação.

Mas voltando a falar sobre Pokemon GO, naturalmente, não podemos ser cegos à todas as implicações pertinentes (e perigosas) que o jogo pode trazer. Não seria nada agradável você ter o seu quintal invadido por um bando de gente dizendo que quer pegar um pokemon (isso se eles estiverem falando a verdade). Ou mesmo seria sensato deixar com que jovens mais inconsequentes andem pelas ruas à esmo em busca dos bichinhos virtuais, arriscando a vida em vielas suspeitas ou locais que oferecem risco à integridade física. Entretanto, para ver as vantagens que o aplicativo pode trazer, basta ter um olhar mais atento e empreendedor.

Eis uma lista de coisas que o jogo pode auxiliar, inclusive, no mundo real.

Possíveis Vantagens Sociais e Econômicas que Pokemon GO pode trazer:

  • Mapeamento de áreas perigosas nas cidades que podem gerar uma reação da polícia local para melhor patrulhamento;
  • Incentivo econômico à estabelecimentos comerciais “Pokemon-friendly”;
  • Interação social para os nerds do tipo “reclusos”, incentivo a sair e conhecer pessoas;
  • Criação de um novo mercado de games e aplicativos sociais baseados na tecnologia do jogo.

Estas foram as que eu pensei agora. E você? Acredita que o jogo pode ser benéfico a longo prazo? Acredita que, um dia, uma atitude típica de adolescente não vai ser mais “cair de bêbado”, mas “assistir muitas séries”? Comente abaixo!

Por que certas paixões são mais aceitas na nossa sociedade […]

9 thoughts on “Suas paixões – O que a sociedade aprova ou não”

  1. Sou favorável ao Pokemon Go, pois o jogo estimula interação social e uma fuga do sedentarismo para os nerds, otakus e geeks. Claro, que como toda diversão cabe as pessoas dosarem o quanto se dedicam a esse hobbie para que outros momentos do cotidiano não sejam afetados, bem como a coexistência com outras pessoas. Uma paixão de um otaku/nerd;geek é igual a paixão de qualquer membro de qualquer grupo/tribo. Todas são dignas de respeito e servem para deixar a vida mais gostosa de ser vivida. Contanto que não existam extremismos e violentação dos direitos fundamentais dos outros, toda manifestação de lazer é válida. :)

  2. Sendo bem claro, não me incomodo se o cara está bebendo uma cerveja ou jogando PokemonGO. Não tenho vontade de fazer nenhuma das duas coisas (no momento). Só não quero que, enquanto eu estiver na rua, nenhum bêbado venha me importunar e nenhum nerd fique esbarrando em mim sem nem pedir licença porque estava com os olhos 24 horas na porra do celular. Acho que é um pedido bem sensato.

  3. A questão com Pokémon Go não é fruto somente de visões consideradas “normais” criticando algo “nerd”, mas também das atitudes dos próprios jogadores. Muito do que foi comentado se resume a indivíduos esquecendo de seus entornos, assim atrapalhando os outros e se pondo em risco, e esquecendo dos cuidados a se ter na rua somente por causa do jogo.

    Quanto à primeira imagem, me parece mais que os proprietários queriam impedir que jogadores invadissem sua propriedade. Além disto, o final não diz, necessariamente, para se embebedar, mas sim para “ir ao bar, pedir uma cerveja *e usar este tempo para repensar na vida*”. Neste sentido, o objetivo em si não seria beber, mas refletir ao fazê-lo.

    Eu particularmente não tenho nada contra nenhum dos “lados” – aspas pois a popularidade de Pokémon Go não se limita a “nerds” – mas penso que apresentar os “normais” como beberrões hipócritas enquanto o “outra parte” é mostrada como “seres inofensivos saindo da reclusão” é tão exagerado e parcial quanto as críticas que comentam. No fim, ambos os lados fazem o mesmo.

    Quanto ao jogo, tenho tão pouco interesse nele quanto tenho à sua suposta “antítese”, simplesmente por não me parecer interessante. Então, sinceramente, não tenho muito a comentar nesta parte. Mas, mesmo que as pessoas saiam de suas masmorras escuras para jogar na rua, elas ainda estarão olhando para uma telinha brilhante a todo momento, ignorando o que ocorre do lado de fora. Se o lado positivo é “sair e se exercitar”, o lado negativo pode ser “estender o mundo virtual ao real e se prender de vez, 24/7, no mesmo”.

    1. O fato de usar “ir num bar e tomar uma cerveja” mostra sim um celeuma social de que isto seria a “coisa certa a fazer”. Não quis dizer que o dono QUIS que o cara que lesse aquilo se embebedasse, apenas apontei – no próprio uso de uma expressão para salientar um ponto de reflexão – que certos vicios são mais aceitáveis que outros.

      Vivemos numa sociedade onde vícios possuem medidas: se embebedar é ruim, mas é normal – ficar 48 horas num videogame é ruim… e patético. Compreende?

      E pessoas que não olham para os lados na rua existem, inclusive, entre aqueles que não jogam Pokemon Go e criticam que o faz. Pessoas com vidas sociais bastante ativas e que não enxergam as coisas ao lado quando ficam em seus “zaps zaps” porque um app de interação social sem bichinhos de um desenho animado é mais normal.

      Mais uma vez, o seu comentário demonstra: Os usuários alienados de Pokemon Go (nerds ou não) são mais mal vistos do que os usuários alienados dos Zaps Zaps

      1. Eu concordo que, assim como Pokémon Go, aplicativos de celulares em geral acabam por alienar aqueles que se prendem ao aparelho todo o tempo. E não, eu não penso que bêbados se jogando em carros e baladas sem isolamento acústico devam ser ignorados pela sua frequência e história e sim ser tratados como algo a ser resolvido.

        Todavia, os problemas causados por bêbados e afins não altera o que ocorreu com o lançamento de Pokémon GO: indivíduos se esquecendo do que tinham por “senso comum” até então e se jogando contra carros; tumultuando áreas residenciais e espaços públicos, atrapalhando a passagem de carros e; indo a lugares perigosos e/ou de entrada proibida, pois há um pokémon por lá.

        E algo que gostaria de reforçar é que, embora Pokémon seja uma franquia de jogos de plataforma, sua versão para celular é bem similar a jogos como FarmVille, no sentido em que é destinado para as massas matarem seu tédio com atividades repetidas e sem fim aparente. Portanto, não diria que a visão popular quanto a videojogos convencionais seja tão difundida neste pequeno joguinho de criação de bichinhos, embora existam.

        Por fim, penso que as críticas, enquanto não entrarem em conspirações e misticismo, sejam bem válidas e se os jogadores não tomarem cuidado, as autoridades terão de intervir, como já está acontecendo em alguns lugares, tanto por avisos como por meios menos amigáveis.

  4. Acho interessante as pessoas que criticam Pokemon Go proferindo a palavra realidade, como se a vida delas fossem corretas e de única realidade (ou o que quer que isso signifique); é muito fácil julgar, mas compreender é algo que falta em muito. No final das contas as pessoas só querem ser felizes.

    Muito bom o texto.

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