Roteiro e Escrita: Star of the Giants – O Sofrimento dos Personagens

Sangue, suor, lágrimas e mais algumas secreções: como nos identificamos com o sofrimento dos personagens.

“Se o desejo, que se aloja na raiz de toda a paixão humana, puder ser removido, aí então, morrerá esta paixão e desaparecerá, consequentemente, todo o sofrimento humano”.
Buda

Em 1966 foi lançado na Shonen Magazine o mítico manga Star of the Giants (Kyojin no Hoshi), de Ikki Kajiwara e Noboru Kawasaki, que praticamente lançou as bases que qualquer manga shonen de esportes deveria seguir. Nele, conhecemos Hyuuma Hoshi, um jovem jogador de baseball, filho de um grande ex-pitcher (lançador) que, após se ferir na segunda guerra mundial, teve que abandonar a carreira e desconta suas frustrações com surras constantes no filho.

Hoshi, apesar do tratamento desumano que recebe em casa, decide seguir a carreira como basebolista para honrar o pai espancador e se entrega à um treinamento ainda mais desumano, com direito ao uso de uma geringonça de treino corporal de eficiência duvidosa e certamente nociva ao desenvolvimento muscular: principalmente de jovens ainda em fase de crescimento.

No entanto o público-alvo, os jovens japoneses nascidos após a Segunda Guerra Mundial, adoraram a obra e se viram nela. Frutos de famílias moralmente humilhadas após a derrota do Japão, com seu país destruído, tendo que dar, literalmente, o sangue para que a indústria japonesa se reerguesse, a geração “baby boomers” do velho Yamato se identificaram demais com o protagonista.

Uma forma muito eficaz do leitor se identificar com um personagem é possuírem um paralelo em termos de objetivos e desafios na vida. Vamos falar um pouco disto nesta aula de hoje.

O Ministério da Saúde adverte: musculação com aparelhos esdrúxulos, sem o devido descanso e supervisão de um profissional podem causar lesões permanentes!

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Aula 5: Cativando seu público com o tipo de sofrimento certo

Na aula anterior, explicamos que um protagonista deve sempre enfrentar algum tipo de desafio, algum tipo de questão que precisa resolver ou superar. E se o personagem sofrer muito para atingir o objetivo… melhor! Podemos até ficar com pena, receosos, mas a recompensa do final feliz após toda a via crucis, será muito mais saborosa.

Numa Carta Apostólica de nome Salvifici Dolores, o falecido João Paulo II escreveu: “Tal é o sentido do sofrimento: verdadeiramente sobrenatural e, ao mesmo tempo, humano; é sobrenatural, porque se radica no mistério divino da Redenção do mundo; e é também profundamente humano, porque nele o homem se aceita a si mesmo, com a sua própria humanidade, com a própria dignidade e a própria missão.”

Pode-se dizer que, na humanidade, os problemas e os sofrimentos são a questão central que move as pessoas. É a motivação principal que fez o homo sapiens sair da caverna e ir para o apartamento duplex com ar condicionado. O tédio é a vida livre da necessidade. Tanto a ciência quanto as religiões parecem concordar que o que realmente move o ser humano é o desejo de se conseguir mais coisas (chamado de “missão” pela religião e “ganância” pela ciência). E o sofrimento seria o preço a se pagar por isto.

Já repararam que filmes tristes ou atores que interpretam personagens trágicos sempre são maioria nas nominações do Oscar?

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Naturalmente, uma forma do leitor/expectador/ouvinte se identificar com um personagem é o fato deles possuírem vidas parecidas e dilemas parecidos. No exemplo que citei no começo, do manga Star of the Giants, hoje o personagem Hoshi seria considerado um otário por aguentar tanta humilhação só para ganhar um torneio de baseball – um objetivo que apenas uma pequena parcela dos japoneses ainda vê como ideal de adolescência.

A juventude do século XXI possui um ritmo de vida diferente. Os mais velhos poderiam dizer que a geração Y e Z têm uma “vida mais fácil”, mas isto é apenas uma bobagem que velhos contam para tentarem se valorizar diante de uma juventude que, embora não esteja mais lutando para ter comida na mesa, tenha outros desafios igualmente difíceis e que não existiam no passado. Se antes uma pessoa de classe-média era considerada vitoriosa simplesmente por conseguir sobreviver razoavelmente, hoje precisa ter comida gourmet, internet, netflix e ainda ser feliz, satisfeita e descolada.

Dramas e Dramédias relacionados à busca de dinheiro sempre fazem sucesso entre a geração Y

Dramas e Dramédias relacionados à busca de dinheiro sempre fazem sucesso entre a geração Y

Pode-se ver isto claramente se analisarmos os filmes que mais têm feito sucesso e mais são comentados nos últimos tempos. À Procura da Felicidade é um filme totalmente centrado na busca pelo dinheiro – sim, tem a questão familiar embutida, claro – onde ele seria a solução de todos os males. Os Estagiários é uma ótima comédia onde dois vendedores fracassados recomeçando suas vidas no Vale do Silício. Se há algumas gerações anteriores E o Vento Levou celebrava o amor como o bem mais valioso de uma mulher e Et o Extraterrestre celebrava o valor da amizade, hoje estes problemas se tornaram secundários diante da busca do dinheiro. E não, isto não é uma crítica nem aos tempos antigos nem ao contemporâneo, é apenas uma análise neutra de como as coisas funcionam hoje em dia.

Se quer conquistar os adolescentes ou os adultos de hoje, preste atenção em qual é o maior motivo de seu sofrimento e tente pegar este dilema e transferi-lo para seus personagens.

Durante muitos anos filmes, livros e novelas direcionados ao público feminino sempre mostravam uma protagonista em busca do seu único objetivo: amor. Porque este deveria ser, em tese, o único objetivo que mulheres deveriam ter. Em O Diabo Veste Prada temos uma jovem estagiária que está tentando fazer de tudo para contrabalancear sua carreira e sua vida pessoal, ao mesmo tempo que tenta atingir o topo da cadeia alimentar na sua empresa e agradar à patroa. E, embora no final ela decida realmente jogar tudo pro alto em nome dos seus amigos e dos seu namorado ela ainda é recompensada com um bom emprego em outro lugar – se fosse um filme dos anos 50 a personagem certamente seria recompensada com um casamento e uma vida doméstica. Não, não, este final seria inaceitável para as mulheres da geração Y.

Ficar doente de tanto trabalhar: um ideal de vida japonês

Ficar doente de tanto trabalhar: um ideal de vida japonês

Isto não quer dizer que, de vez em quando, vemos autores tentando retomar velhos modelos. No manga Bakuman, de Ohba e Obata, o protagonista Mashiro se torna tão obcecado em fazer seu manga que acaba caindo doente. E mesmo no hospital ele insiste que quer continuar a desenhar. Pior: logo após sair do hospital e o editor questionar se ele deve permitir que Mashiro continue a desenhar porque ele poderia morrer por excesso de trabalho igual ao tio dele, o personagem diz “Vai ter sido a minha escolha!”. Certamente esta é a frase que todo dono de indústria japonesa mais amaria ouvir: a descriminalização do karoshi (morte por excesso de trabalho) vindo da boca da própria vítima!

No entanto este tipo de ideal não ‘cola’ mais, pelo menos não tão facilmente. E isto porque estou falando do Japão! No que ouvi a respeito em fóruns e blogs ocidentais, esta “fase do hospital” foi, sem dúvida, a que os fãs de Bakuman mais detestaram. Não há muitas pessoas hoje em dia que se identifiquem com este tipo de sacrifício incondicional pelo trabalho – os tempos são outros.

Isto nos lembra de uma coisa: dependendo do país, os ideais de sofrimentos são diferentes. Se quiser conquistar o público do país onde você vive, preste bem atenção nos objetivos e motivos de sofrimentos destes. Ah, e isto vale também para o local onde você mora: quem vive numa casa de pau-a-pique na zona rural tem objetivos e sofrimentos diferentes de quem vive num condomínio num bairro classe-média, que é diferente de quem vive no Morro do Alemão, que é diferente de quem mora numa mansão do Morumbi… e assim vai.

Segue, agora, uma pequena lista de objetivos que você pode colocar para seus personagens e que muitos leitores vão se identificar:

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Lista de Objetivos Populares e suas Via Crucis

Dinheiro

Eu cheguei a citar o dinheiro como um “Curinga” de objetivo na vida de qualquer pessoa em qualquer país, e isto é verdade. Seja nas classe baixa, média ou alta, seja nos Estados Unidos, no Brasil, no Japão, na Alemanha, na Índia ou em qualquer outra nação capitalista, o dinheiro será sempre uma grande fonte de felicidade.

A Via Crucis para conseguir dinheiro é que pode ser diferente para cada país. Americanos gostam do modelos do Self Made Man, o cara que sai da empresa para abrir seu próprio negócio. Japoneses ainda acham simpática a ideia de uma pessoa conquistar dinheiro trabalhando em prol da sua empresa e tendo seu patrão como um sensei duro, mas justo. Brasileiros… bem, para quem acompanhou o sucesso da trilogia de filmes Até que a Sorte nos Separe deve ter percebido que o modelo tupiniquim tem mais a ver com a gente esperar o dinheiro cair do céu e tentar mantê-lo a todo custo.

Sofrência: não importa a idade, a classe ou a religião. O povo brasileiro vai sempre se identificar com Dor de Cotovelo!

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Amor

Durante muitos anos o amor foi visto mais como um objetivo feminino – sendo que o objetivo masculino era simplesmente o sexo e a “companheira-troféu”, feita para esfregar na cara dos outros homens como um símbolo de sucesso. Hoje o amor é um objetivo comum à ambos os sexos, mas de uma maneira geral ele não é o fim único: a construção de uma vida bem estruturada em volta do amor também é importante. No já citado O Diabo Veste Prada a protagonista não apenas recupera o namorado, mas consegue um bom emprego para poder conviver com ele.

É bem curioso como em muitos filmes estrangeiros a busca amorosa geralmente mostra circunstâncias externas (distância, família, desentendimentos com dinheiro… olha ele aí de novo!) como a principal via crucis para o amor se concretizar. Se formos prestar atenção nas novelas brasileiras, a via crucis são justamente os triângulos amorosos. As idas e voltas, os amantes tanto do lado de um quanto do outro, a espera de um divórcio de uma das partes… coisas assim. De uma maneira geral, amores puros como Romeu e Julieta não são mais funcionais. Um casal onde ambos os lados tenha seus defeitos e ambos tentam sublimar estes defeitos em prol do outro são mais adequados nos dias de hoje.

Sniper Americano: herói torturado ou assassino de crianças?

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Patriotismo

Ideal démodé, geralmente utilizado mais em épocas de crise e guerra. Antes do 11 de Setembro de 2001, filmes de cunho patriótico não davam mais grandes bilheterias nos Estados Unidos, mas após os atentados terroristas, estes chegaram a atingir picos imensos para, depois, estacionarem num meio termo como em filmes do tipo Sniper Americano, onde temos o lado patriótico e também o drama (mais uma vez, a via crucis) de ter de cometer atos terríveis em prol da nação.

Lutar em prol do país é um tema complicado nos dias de hoje, em qualquer país. Principalmente porque não é fácil fazer isto sem acabar enveredando para um lado político. Os tempos de hoje são majoritariamente apolíticos – MESMO no Brasil e sua crise política atual – e o ideal seria pensar em um personagem que tenta servir o seu país sem ser manipulado por forças superiores, o que é bem difícil.

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O Topo do Mundo

“Ser o melhor do mundo” é um objetivo comum aos fãs de mangas shonen em geral. Durante 40 anos o Japão se manteve como o segundo país mais rico do planeta e lutou muito para superar os Estados Unidos. Mas todo este esforço foi por água abaixo quando eles perderam este pódio para os chineses – um tremendo golpe na autoestima na nação nipônica.

Por esta razão, mangas onde temos protagonistas que usam o velho mote de “querer ser o melhor do mundo” sempre são vistos com desconfiança. Objetivos mais modestos, como “Vencer o campeonato tal” são mais simpáticos, pois estão mais próximos da realidade. E mesmo que os protagonistas não vençam (como no filme Tudo pela Vitória) ainda assim possuímos grande empatia, e talvez até mais identificação, com os personagens após uma derrota.

No Japão, em especial, os jovens japoneses ainda se encontram entre a cruz e a espada: eles querem ainda serem os melhores, mas vivem num cenário ainda mais caótico que o de seus pais profissionalmente falando. Não há mais estabilidade, não há mais garantia de emprego para alguém que se esforce para ter notas boas – tente ser o melhor numa sociedade onde TODOS recebem uma educação de extrema qualidade. Sem falar, é claro, que a dura hierarquia japonesa ainda não evoluiu. Funcionários não devem questionar líderes e, se você é chamado para fazer hora-extra sem remuneração, é melhor fazer porque outra pessoa fará e poderá tomar o seu lugar.

Lembram-se que eu falei sobre o karoshi? Bem, o falecido blog OTAKISMO publicou uma matéria anos atrás falando sobre as medidas que as empresas tentaram (hipocritamente) tomar para se evitar isto:

“Algumas medidas foram oficialmente tomadas por parte das principais empresas do Japão. A Toyota, por exemplo, limita o número de horas extras mensais para 30; A Nissan possibilita trabalhar em casa, a Mitsubishi criou o dia sem hora-extra. Nada adianta se não existir o real comprometimento de todos os lados, ao contrário, leis e canetadas que limitam horas-extras podem trabalhar justamente no sentido oposto. Antes ao menos eles recebiam um pouco pelo excedente, agora nem isso quando ultrapassam o limite autoimposto. Não adianta inventar regras contra o excesso de trabalho se a demanda sobre o trabalhador segue inalterada, se a carga de atividades a qual ele deve dar conta não é humanamente possível de ser realizada no tempo útil. O resultado é degradante: o cara leva serviço para casa, ou pior, fica trabalhando no escuro dentro da própria empresa, uma prática que se tornou comum nos últimos anos. Sem receber pelo excedente que ultrapasse o limite, é óbvio.

O resultado disso em demandas sobre o funcionário (denominado ‘colaborador’ nos dias de hoje) são jornadas noturnas, horas-extras remuneradas ou não, trabalho ‘voluntário’, trabalho em casa, trabalho nas férias etc. Para forçar os ‘colaboradores’ nesse sentido, as empresas japonesas oferecem um piso salarial baixo, mas amplos rendimentos baseados em resultado, os tais bônus meritocráticos (a pouca diferença salarial na hierarquia corporativa japonesa é aparente). Desempenhou, vai ganhar muito dinheiro, mas esse nível de desempenho cobra incontáveis horas de labor excedente. E diferente do que imaginamos, as horas excedentes são mal remuneradas, o que traz retorno é resultado, percebam a sutileza.”

Esta é a razão pelo qual, nos últimos anos, muitos jovens japoneses têm adquirido um estilo de vida mais tranquilo, sem ambições, sem grandes expectativas, recusando até mesmo ter namoradas para não terem gastos extras – e estão sendo chamados de vagabundos e afeminados pelos pais e avós, claro. Os chamados “garotos herbívoros”, no entanto, não se importam, com a maior parte dos seus gastos extras centrados na manutenção da aparência com cremes faciais, roupas e alimentação saudável (um costume contemporâneo: quanto mais você percebe que não pode mudar o mundo, mais seus esforço se concentram em mudar a si mesmo no que você pode, como um corte de cabelo novo ou perder peso).

E isto está se refletindo no ocidente: na maioria dos países os jovens da Geração Y e Z terão que trabalhar mais duro que seus pais para poderem manter um padrão de vida de classe-média, sendo que há 50 anos um único pai de família e seu salário era suficiente para sustentar bem uma casa. Os gastos aumentaram e a demanda também.

Apesar de estarmos vivendo um boom positivista de “conquistar os seus sonhos” no Ocidente (sobretudo devido aos livros de autoajuda) o tema de querer ser o melhor do mundo em alguma coisa pode causar mais risos do que empatia para com o leitor.

Precioso!

Precioso!

“Destruir o Um Anel”

Este objetivo representa os “objetivos fantasiosos” como um todo. Salvar a princesa, derrotar a bruxa má, salvar a Terra Média, etc.

Muitos podem achar que, após esta aula, enredos fantasiosos são péssimos para que o leitor se identifique. Ledo engano. A vantagem dos enredos fantasiosos é que conseguimos transmitir o seu objetivo fantasioso para qualquer outro palpável. Conquistar o Trono dos Sete Reinos, nas Crônicas de Gelo e Fogo, pode simbolizar a escalada para o posto de chefe numa empresa – uma empresa cercada de intrigas e traições. Dentro do enredo fantasioso também podemos ter todos os outros objetivos já citados: recuperar o ouro de Smaug (dinheiro), conquistar a princesa Fionna (amor), proteger Winterfall (patriotismo) e ser o maior cavaleiro da história dos Sete Reinos (Topo do Mundo). Ah, sim! E pode incluir também o último objetivo abaixo:

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Vingança

Deixei este por último porque, certamente, é um dos objetivos menos positivos. Mas, ao mesmo tempo, mais forte e que qualquer pessoa em qualquer parte do mundo consegue se identificar: a Retribuição de uma ofensa.

Histórias de vingança, como em Kill Bill, Ilíada, O Conde de Montecristo, Hamlet, o seriado Revenge e pelo menos dois terços das novelas brasileiras sempre despertam o nosso interesse. E muito! Talvez nenhum objetivo seja mais ardente na história humana que o desejo de se vingar. “Olho por olho, dente por dente” é uma das mais importantes leis do mais antigo Código Penal da história da humanidade.

O código dos samurais eram bem claro no que diz respeito à moral da vingança, sendo esta até institucionalizada no Japão Feudal: uma pessoa poderia matar outra se fosse comprovado que era um ato de vingança. Lobo Solitário, de Kazuo Koike e  Goseki Kojima, um dos mangas mais famosos no ocidente, é todo pautado no desejo obsessivo de vingança de Itto Ogami. De fato muitas obras de samurais tem como pauta a retribuição por uma ofensa.

Todo tipo de vingança vai encontrar ecos nos dias de hoje: vingar-se de um assassino de famílias, vingar-se de um marido ruim, vingar-se de um chefe, vingar-se de uma injustiça cometida por uma autoridade, vingar-se de uma amante, vingar-se de um familiar… todos estes plots vão encontrar um público. E a via crucis será a lenta e tortuosa agonia do nosso personagem até atingir o clímax e estiver diante do seu inimigo…

… ou, podemos até pensar neste objetivo de forma positiva, não? Quem tal um protagonista que coma o pão que o diabo amassou e, no final, descobre que a melhor vingança contra quem lhe prejudicou é lhe esfregar na cara a sua própria felicidade?

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Sofrimento: nossa identificação

Por que nos identificamos com o sofrimento alheio?

Mecanismos de empatia são fortes nas pessoas porque fazem com que nos espelhamos naqueles que estão em dificuldades. Ou seja, nós nos vemos ali. Se você já passou por um problema semelhante ao que o outro está passando a sua solidariedade tende a ser maior – como se estivéssemos consolando à nós mesmos tardiamente.

Existe também um mecanismo nos seres humanos que faz com que nos lembremos muito mais de um problema e de um sofrimento do que de uma alegria. Trata-se de um traço da evolução humana feita para sobrevivermos: lembramos mais da experiência da dor para que evitemos passar pela mesma situação de novo. O problema é que isto nos torna eternas vítimas e nos impede se ser felizes.

Oh, mas este mesmo mecanismo é vantajoso para autores e diretores de filmes tristes: devido à nossa identificação, sempre acabamos pensando que filmes tristes mediano são melhores que a melhor das comédias. John Lennon teve uma vida familiar difícil e era um poço de rancor (não se deixe enganar pela letra pacifista de Imagine), porém suas letras trágicas em Nowhere manWhatever Gets You Thru the Night, Mother, Help! e a super dor-de-cotovelo How do You Sleep? mostram uma tendência do Beatle de se identificar mais com a dor. Ao contrário de Paul McCartney que teve uma infância feliz, uma família que o apoiava e escreveu músicas simpáticas e caseiras como Good Day Sunshine, Penny Lane, Here, There and Everywhere, Ob-la-di- Ob-la-da e só uma ou outra música mais triste, como Yesterday e Hey Jude. Ah, sim! E ele também compôs uma música que foi uma ótima resposta ao rancor de Lennon logo após os beatles terminarem: Silly Love Songs. E apesar de, musicalmente falando, McCartney ser superior à Lennon, ainda preferimos Lennon e sua tristeza.

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Ying e Yang: O Positivo e o Negativo

Resumindo…

Bom, trocando em miúdos, quando for criar um desafio ao seu personagem, pense no público alvo: lutar contra monstros é uma alegoria comum à todas as idades (representa um desafio qualquer), mas se for na vida real pense bem quais as dificuldades daquele grupo de pessoas e tente replicá-las nos seus personagens.

Bom esforço com seus textos, bro! Eu me empatizo com seu esforço!

Sangue, suor, lágrimas e mais algumas secreções: como nos identificamos […]

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