“Kawaii”: além da fofura

kawaii

Kawaii é muito mais do que uma palavra: é um fenômeno cultural.

A palavra é tão repetida nos mangas e animes, tão importante no vocabulário japonês que muitos otakus hardcore ocidentais preferem falar que algo ou alguém é “kawaii” do que usar palavras correspondentes em seus próprios idiomas (fofo, cute, etc). Dizem que não há como expressar exatamente o que a palavra significa – e tenho que admitir que dá para entender o porquê.

O “kawaii” tem origens antigas. Seu significado inicial era “rosto radiante” e com o tempo foi mudando até chegar ao que é hoje. Essencialmente, quer dizer “fofo, bonitinho, adorável” e se tornou praticamente parte da identidade nacional do Japão. Grandes empresas e órgãos públicos – até mesmo a polícia – têm mascotes fofinhos decorando seus escritórios. Além de ser quase que onipresente nos mangas e animes, o “kawaii” também aparece na moda, nos produtos alimentícios, enfim, em praticamente tudo. Há vários exemplos notáveis do crescimento do fenômeno “kawaii” no Japão e sua expansão para o exterior. Vejamos alguns.

Babados, laços, fitas, acessórios fofos são as marcas das meninas "kawaii"

Babados, laços, fitas, acessórios fofos são as marcas das meninas “kawaii”

  • Em 2009 o Ministério de Relações Exteriores japonês nomeou Misako Aoki, Yu Kimura e Shizuka Fujioka como “Embaixadoras das Tendências da Cultura Pop Japonesa”. Com vestidos cheios de laços, rendas e babados, e portando muitos acessórios fofos, elas tinham a missão de promover a cultura pop japonesa através da imagem. Acabaram conhecidas como Embaixadoras Kawaii. Atualmente Akemi Matsuda é a Embaixadora Kawaii no Brasil;
  • A ANA – All Nippon Airways possui 10 aviões com a figura do fofíssimo Pikachu pintada em suas laterais;
  • A Sanrio, dona da Hello Kitty e vários outros personagens igualmente fofos, possui o seu próprio parque temático. A gatinha que é sinônimo de “kawaii” e seus companheiros rendem cerca de 1 bilhão de dólares por ano para a empresa;
  • O Dicionário Collins de Inglês no Reino Unido incluiu o verbete “kawaii” em suas edições desde 2014, com a definição de “estilo artístico e cultural japonês que enfatiza a graciosidade, usando cores brilhantes e personagens com aparência infantil”.
  • O australiano Richard M., conhecido como Ladybeard, ganhou fama no Japão fazendo performances fantasiado como uma idol no melhor estilo “kawaii”.
O australiano Ladybeard. O "kawaii" atrai ocidentais também

O australiano Ladybeard. O “kawaii” atrai ocidentais também

Dessa maneira, podemos ver que existe uma conotação afetiva irresistível nas coisas/animais/pessoas “kawaii”: eles têm uma aparência agradável, e são infantis, dóceis, amorosos. São os filhos pequenos que fazem o pai esquecer do cansaço de um dia duro de trabalho. É o minúsculo porquinho-da-índia que serve de distração para o estudante estressado. Sim, a palavra “kawaii” também pode ser usada no sentido de “amado”, “querido” ou “adorado” ou até mesmo como verbo, por exemplo, “musuko ga kawaii” => “(ele/ela/você) ama muito o seu filho”. Nos animes, é comum ouvir um veterano/senpai dizer a expressão “ore/watashi no kawaii kouhai” => “meus queridos calouros/novatos/subordinados”. Essa mistura de afeto e desejo de proteger expressada pelo “kawaii” também existe em relação a amigos/subordinados mais jovens.

“Kawaii” também pode definir o jeito de se fazer alguma coisa. Se você vai pedir um favor ao seu chefe, não importa se você é homem ou mulher, deve procurar fazê-lo de um jeito agradável, suave, não-agressivo… em resumo, de um jeito “kawaii”. Como podemos ver, o conceito não se refere apenas à aparência física, mas também a comportamentos, gestos, atitudes. Assim, até mesmo um brutamontes como Arnold Schwartzenegger pode ter alguma coisa de “kawaii”.

Até Okumura Rin, o filho de Satã, tem seu lado fofo

Até Okumura Rin, o filho de Satã, tem seu lado fofo

Quem já leu tutoriais de manga em japonês deve ter reparado que aconselham que mesmo heróis superpoderosos devem ter algo de “kawaii” para atrair o público. E se você prestar atenção, verá que praticamente todos os heróis japoneses tem sim, alguma coisa de fofo, se não for na aparência, com certeza na personalidade: pode ser um medo ou mania, um jeito de coçar a cabeça quando fica envergonhado ou de mexer com os pés quando fica impaciente, qualquer coisa que tenha um quê de infantil, de cativante.

Dizem que o “kawaii” se tornou popular no ocidente por sua qualidade totalmente inofensiva, alegre e agradável, sem traços do exotismo e austeridade da cultura japonesa tradicional, o que lhe permite atingir um público muito variado. Concluindo, o “kawaii” não é apenas uma palavra, é um fenômeno cultural que ultrapassa as fronteiras do Japão.

Fofinhos e perigosos: os irmãos Alluka e Killua

Fofinhos e perigosos: os irmãos Alluka e Killua

Quem diria que coisinhas adoráveis e fofas teriam tanto poder?

E você, gosta de personagens “kawaii” nos mangas e animes? Tem alguém na vida real que chamaria de “kawaii”?

FONTES:

Wikipedia (inglês)

Globo – Portal G1

Ladybeard.com (japonês)

Sobre liviasuguihara

Instrutora de inglês, "arteira", amante de animes e mangás. Você também me encontra no Twitter (@lks46), no Behance (https://www.behance.net/lksugui7ac5), e no Instagram (liviasuguihara).

Kawaii é muito mais do que uma palavra: é um […]

9 thoughts on ““Kawaii”: além da fofura”

    1. Haha, o frufru ocidental sempre fascinou os japoneses XD Talvez justamente pelas mesmas razões que o kawaii foi aceito mais facilmente pelo Ocidente: por ser vistoso e não-ameaçador.

      Valeu por comentar, Luna ^__^

  1. Eu até gosto de certas coisas kawaii referentes a personalidade (como a Umi, de Love Live, ou a Kurisu, de Steins;Gate), mas eu acho meio chato quando eles só botam isso em alguma obra e “ligam a placa de neon” e jogam na tua cara dizendo: “Óh, isso aqui é só pra vender, desconsidere a história, não leve a sério!”

    1. Realmente, Douglas, tudo o que é mal trabalhado acaba ficando chato e desagradável. O kawaii bem feito faz a gente querer bem um personagem, o mal feito pode fazer a gente odiar.

      Obrigada por comentar ^__^

  2. Kawaii is life! Eu não consigo imaginar minha vida sem estes elementos! O binômio Kawaii+MOE é o que dá sentido à minha paixão pelas obras japoneses (e, em um futuro próximo, às chinesas e indonésias…). Como a autora do texto bem destacou, “…o conceito não se refere apenas à aparência física, mas também a comportamentos, gestos, atitudes…”, é exatamente esta combinação que move o meu imaginário.

    E é exatamente este sentimento de “afeto” que mais sinto falta em muitas produções nacionais (com raríssimas exceções, como o divertido “Princesas do Mar”, do Yabu; e ComboRangers -também do Yabu- e Holy Avenger, do Cassaro e da Petra Leão – principalmente o comportamento de Sandro Galtran, Petra e da Odara!).

    Enfim, foi uma ótima análise introdutória. Gostaria até de uma versão “2.0” no futuro, com muitos outros elementos e seu impacto na arte ocidental (leia-se, cartoons americanos). Até.

    1. Oba, fico feliz que tenha gostado do texto, Haru ^__^ De fato as produções nacionais não tem muito de kawaii. E sim, Princesas do Mar, Combo Rangers e Holy Avenger são ótimos! Para mim até o Tork tem uns momentos fofos, haha…

      Valeu por comentar!

  3. era bom se fosse somente sentar e assitir mais o estilo kawaii se voce curte todo mundo curte inclusive aquelas gentinhas e o povo japones que foi endeusado por voces como se nao possuisem defeitos,ve se consegue achar na internet o porque que eles fazem isso ou se simplismente fazem por fazer,ele diz estilo,arte etc, mais arte musica e universal etc,eu tenho meus gostos pessoais e eu jamais se aliaria a pessoas assim.

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