Tony Wong – O rei do Manhua!

Os japoneses tiveram Tezuka, os Estados Unidos tiveram Eisner, mas quem a China tem como maior referência em quadrinhos? Conheça Tony Wong!

“De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos.”

Confúcio

O manhua, os quadrinhos chineses, já tiveram sua origem pincelada NESTE post. Hoje vamos conhecer um dos seus maiores nomes: Tony Wong! Um dos quadrinistas mais ativos da China e do mundo!

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Nascido em Hong Kong em 1950, seu nome verdadeiro é Wong yuk Long. Enquanto a China passava por uma violenta mudança política nos anos 60 e 70, sua cidade, na época ainda sob domínio dos ingleses, conseguiu escapar quase ilesa. Lá, as artes floresceram e o manhua ganhou forma. Com apenas 13 anos de idade ele já começou a trabalhar profissionalmente com ilustrações e arte-final numa editora.

Suas maiores influencias eram o japonês Takao Saito, criador do Golgo 13, e o conterrâneo Ma Wing-shing, criador do (desconhecido) Chinese Hero.  Devido à poderosa ocidentalização, os quadrinhos americanos também tiveram uma grande influência no seu trabalho. Em 1972 lançou sua primeira série que se tornaria um clássico chinês dos quadrinhos, sendo publicado ininterruptamente até hoje:  Little Rascals (Lau Siu Man no original), hoje conhecido pelo nome de Oriental Heroes (Lung Fu Man). Contava a história de três jovens chineses irados, lutadores de Kung-Fu do barulho, que viviam mil e uma confusões! Nesta época sua arte ainda estava se desenvolvendo, mas já era muito boa para os padrões dos artistas do país na época.

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A histórias tinha a temática do Kung Fu, pincelada com alguns dramas dos jovens da época. Com a popularidade dos filmes de Bruce Lee, o chamado Wuxia (ou ainda “kung-fu-farofa”: aquele que mistura artes marciais com fantasia e exageros) começou a pegar força tanto no cinema quanto na literatura e quadrinhos. Hoje é o gênero de quadrinhos que mais vende na China, tal qual os B-Shonen no Japão ou os Super-Heróis nos Estados Unidos.

Algo que vale destacar desta série era sua intensa violência explicita – provavelmente com a intenção de atrair público. Isto complicou a situação da série, pois na China rolava uma lei que proibia “violência extrema” nos quadrinhos (irônico, já que nos anos 70 o país estava executando professores com tiros nos miolos…), então o sr Wong teve alguns problemas com a censura. Abaixo, alguns exemplos da hyper-violência da série:

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Pode-se ver que além da influência dos filmes Wuxia, Tony Wong também pegava carona nos filmes Exploitation, que se tornaram muito populares nos anos 60. Tratavam-se de obras cinematográficas de baixo custo onde a violência, a depravação e o sexo rolavam soltos (pode-se dizer que as obras de Quentin Tarantino são uma versão “leve” destes filmes). Mas ele conseguiu contornar a lei abrindo a sua própria editora e bolando o seu próprio esquema de distribuição através de um pseudônimo: Jademan Wong. .

Sobre a série Oriental Heroes, ela continua sendo publicada até hoje, mas com um traçado bem diferente. veja a comparação abaixo:

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As obras de Tony Wong mal são conhecidas fora da China, mas onde quer que passam, deixam sua marca. O autor também é um dos mais ativos do mundo – desenhando cerca de 30 a 40 páginas por semana! Sua editora é a maior que publica quadrinhos no país (chegou até a ser acusada de monopolizar o mercado) e praticamente todos os jovens artistas chineses mimetizam o seu traço.

Além do seu eterno Oriental Heroes ele criou diversas outras obras, como Drunk Master 1 e 2Weapons of the Gods, Dragon Tiger GatesBuddha’s Palm… sim, todos no estilo Wuxia! Ele também foi o artista de uma mini-série do Batman em Hong Kong – seu trabalho mais conhecido nos Estados Unidos, por motivos óbvios.

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Aos 65 anos, Mestre Wong possui uma vitalidade de dar inveja em muito artista japonês. Suas obras são sempre garantia de sucesso na China e, pouco a pouco, começam a ficar mais conhecidas fora do país graças, em parte, á divulgação indireta dos mangas japoneses. É certo que seu trabalho poderia ter muito mais penetração na ilha de Yamato, não fosse um movimento xenófobo que ronda o Japão desde que a China ultrapassou o país como o segundo mais rico do mundo.

Conseguir acesso a seus trabalhos é sempre uma tarefa ingrata e suas obras, por serem extremamente extensas (Oriental Heroes é dividido em dezenas de “temporadas” com no mínimo 700 edições cada!), são complicadas de serem publicadas em outros países. Mesmo assim, fica aqui o registro deste grande mestre-gafanhoto dos quadrinhos!

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Os japoneses tiveram Tezuka, os Estados Unidos tiveram Eisner, mas […]

4 thoughts on “Tony Wong – O rei do Manhua!”

  1. Parece que se você amassar uma destas revistas ela vai sangrar tanto são os golpes, cortes e lutas que tem. E eu tenho a teoria que o governo chinês fez algum experimento com o Tony Wong para ele ter mudado o estilo dele assim.

  2. Realmente um Grande Mestre. Fiquei impressionado com a comparação de traços e que traço fodástico. 30 a 40 página por semana? Socorro! Excelente.

  3. Os Manhuas são muito fodas, eu estava procurando alguns quando me deparei com seus post, na verdade ainda estou procurando alguns que estejam em português por ai e se puder Manhwas também. Eu adorei as obras chinesas e coreanas mais que as japonesas e isso se deve ao estilo único de The breaker e Feng shen ji, então caso tenha algumas obras em mente peço que me diga para que as leia. Obrigado pela atenção e sucesso sempre.

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