Junketsu no Maria – Conclusão

E se você tivesse que escolher entre salvar vidas, colocando a sua em risco ou abrir mão de seus poderes em nome do amor? Venha conferir em Junketsu no Maria.

 

Num mundo tão lindo como esse porque as pessoas erram tanto?

Junketsu no Maria: Sorcière de gré, pucelle de force (Maria, a Bruxa Virgem: Bruxa por vontade, virgem por obrigação) é um anime histórico de fantasia com 12 episódios que se passa na Idade Média. Produzido pelo Estúdio I.G, com direção de Goro Taniguchi, o mesmo criador da franquia Code Geass. Adaptado do manga de três volumes de Masayuki Ishikawa, publicado pela editora Kodansha.

Maria é uma bruxa que vive em meio a uma floresta na França no período da Guerra dos Cem Anos (de 1337 a 1453), no entanto ela odeia guerras e por conta disso está sempre atrapalhando as batalhas com suas aparições repentinas, invocando criaturas místicas gigantes para separar os exércitos inimigos. Ela conta com a ajuda de sua succubus Artemis e o incubus Priapos, chamados de seus “familiares”, que em suas formas originais são corujas, muito fofinhas por sinal. Apesar de ser uma bruxa, algumas pessoas da vila próxima de onde ela mora recorrem à Maria quando precisam de ajuda, ignorando o atrito com a igreja católica, inclusive Joseph, um jovem em especial que parece gostar bastante dela.

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No entanto sua interferência no mundo dos humanos chama a atenção do Arcanjo Miguel, que desce para julgá-la por suas atitudes. A princípio de prontidão para matá-la com um poder obviamente superior ao dela, o arcanjo é impedido de tal ato ao ser barrado por Joseph, que declara seu amor à jovem e com isso os céus decidem dar uma segunda chance à Maria. A partir daí ela é amaldiçoada a perder seus poderes no dia em que abster-se de sua virgindade. Não parando por aí, ela é proibida de usar magia diante de outras pessoas e, para obrigá-la a cumprir com essa exigência, Ezekiel – a Lança de Miguel – é incumbida de vigiá-la.

Se tratando de uma bruxa bastante obstinada, Maria obviamente não deixa de praticar magia para apartar as batalhas, causando distrações para que Ezekiel não tenha como provar que ela descumpriu com a ordem que lhe foi dada. Assim como os familiares de Maria, Ezekiel também assume uma forma humana e outra animal, sendo essa de uma pomba. Esse trio de criaturinhas fofas é o que mais colabora para as cenas divertidas do anime, pois cada um tem seu temperamento totalmente diferente, além da própria questão da virgindade da Maria, é claro.

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Artemis é a familiar mais antiga de Maria, extremamente sensual e espontânea. É quem a conhece melhor e tem grande intimidade para entender a bruxinha; Priapus, por sua vez se torna alvo de piada. Uma vez que as corujas são transformadas de acordo com a forma humana que Maria conhece e ela nunca viu um homem nu,  o principal fator que o tornaria um incubus, ele não possui, deixando uma nuvenzinha de incógnita sobre o lugar, literalmente; Ezekiel, por ser uma “intrusa no ninho”, é a que mais sofre “bullying” dos outros dois, rendendo cenas divertidíssimas.

O anime além de fazer referência à própria Virgem Maria, também cita La Pucelle, que para quem não sabe é Joana d’Arc, também intitulada de La Pucelle d’Orléans (A Donzela de Orléans). Em 1920 foi canonizada pelo Papa Bento XV para dois anos mais tarde ser declarada padroeira da França. Sugiro que quem não conhece a história de Joana d’Arc, pesquise, pois ela foi uma figura bastante marcante na Guerra dos Cem Anos. Obras sobre ela não faltam, como livros, filmes e seriados. Recomendo assistir a adaptação cinematográfica com a Milla Jovovich, que teve uma ótima atuação e conta toda a história da vida dela desde criança.

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Voltando ao foco principal do anime, o mais interessante é que apesar de conter ecchi, a história não é apelativa. Maria não é o tipo de personagem que está desesperada para perder a virgindade, pelo contrário. Desde o início todos que descobrem que ela é virgem, insistem para que ela perca logo, isso antes e depois dela receber a maldição. Ela, no entanto, é bastante tímida quando questionada sobre o assunto. Apesar da abordagem do anime ser ao redor desse dilema dela, de perder ou não a virgindade, o bom é que toda a história abrange muito mais do que isso e o anime passa uma mensagem positiva para os tempos de hoje também, de que ninguém deve seguir a cabeça dos outros quando se trata da sua própria intimidade.

Não é porque os outros acham careta que você deve se apressar para viver um dos grandes acontecimentos da sua vida. A primeira vez de uma pessoa não pode ser tratada de forma a seguir uma moda, mas sim acompanhando os sentimentos sinceros do coração. Joseph é um rapaz doce, que trata Maria como uma grande amiga e, mesmo a amando, em nenhum momento cobra algo dela, apenas apoiando-a em seu propósito, mesmo que isso signifique que eles não tenham nenhuma relação íntima. Isso é muito bom, por que ressalta o quanto o amor não é algo que precisa de exigências desse nível. É possível, sim, ter um relacionamento com base na paciência, na demonstração de afeto, até que se esteja realmente preparado.

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O ritmo das circunstâncias é mais lento do que o esperado, sendo que o Arcanjo Miguel só desce para punir Maria mais pra frente, não logo no primeiro episódio, o que surpreende um pouco, se tratando do tema principal da história. Não vou mentir que a princípio o enredo de Junketsu no Maria parece uma mistureba louca, contando com bruxas, succubos, valkírias, arcanjos e criaturas místicas, tudo isso se passando na Idade Média com bruxas usando vestimentas totalmente inapropriadas para a época. Apesar dessa fusão inesperada, é algo que dá certo. Cada personagem tem seu papel devidamente encaixado e necessário dentro do contexto. Além disso, o anime é cheio de referências da época, como os nomes dos reis da Inglaterra e da França, os santos venerados como São Jorge, São Martin de Tours e Giovanni, uma possível adaptação do nome de João, o apóstolo e tantas outras coisas.

Um fator injusto seria a questão da Maria ser sempre a salvadora de todo mundo. Obviamente ela não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, mas ao sinal do mínimo conflito ela vai de prontidão interferir, o que sobrecarrega a personagem e se torna uma fórmula repetitiva. Embora isso não diminua a qualidade do anime, até porque as circunstâncias de cada ato dela são diferentes. Isso colabora muito para um diferencial. Ela sempre invoca criaturas distintas como dragão, ciclope, serpente gigante, tarrasque, vouivre; o deus do trovão: Taranis; Melusine: uma espécie de espírito das águas das lendas europeias; Cernunnos: um deus celta representado com chifres (para quem assistiu Mononoke Hime, vai se lembrar do grande deus da floresta). São tantos seres diferentes trazidos das fábulas, que traz um ar lúdico, interessante.

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Equilibre sua própria felicidade diante do mundo.

Essa questão da Maria estar sempre interferindo nas guerras traz certa polêmica, porque questiona até que ponto uma pessoa pode interferir no destino dos outros. Ninguém é o deus do outro e Maria é julgada justamente por interferir na aprendizagem que as pessoas podem ter com as experiências, sejam elas boas ou ruins. Ao mesmo tempo também é possível compreender o lado dela, que diz que as pessoas oram por deuses que não as atendem, que não intervém para salvá-las. Até onde é válido ter esperanças em um deus que você não vê e que não te protege quando você precisa? Os seres humanos estão mais preocupados em se matarem para enriquecer em cima dos cadáveres dos seus inimigos. Até onde você pode considerar que religião e fé são a mesma coisa, se até mesmo os padres conspiram para que haja guerra, mesmo que vidas inocentes estejam envolvidas? As opiniões divergem, afinal muitos almejam a paz, mas tantos outros lucram com a guerra. Até onde isso é a ordem natural das coisas? Afinal para que exista o mal, é necessário o bem e vice-versa, pois um depende do outro para que haja equilíbrio.

A finalização do anime é instigante e surpreendente, mantendo um ritmo acelerado, com acontecimentos fora do esperado. Muitos papéis se invertem, sendo que aqueles que no início eram contra Maria, passam a apoiá-la e protegê-la e outros, que pareciam meros personagens triviais e aparentemente bem-intencionados, se tornam verdadeiros oponentes acirrados e inoportunos. Um simples plano bem arquitetado por um malfeitor faz com que o mundo de nossa bela protagonista vire de cabeça para baixo, colocando em pauta até onde as pessoas são capazes de por a própria vida em risco pelos outros diante de uma situação angustiante.

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Em determinados momentos Maria se vê questionando qual o cerne da sua motivação, porque mesmo diante das divergências ela segue irrevogavelmente em frente, contra a guerra e o sofrimento, mesmo que isso cause consequências irreparáveis para si mesma. A conclusão de suas próprias reflexões e o que isso transmite para as pessoas ao seu redor é desenvolvido fabulosamente, abrindo portas para uma nova forma de pensar dentro de um cenário religioso ainda tão rígido da época.

Apenas para atiçar mais a curiosidade eu só posso dizer que a personagem que despertou maiores emoções, trazendo um misto de espanto e encanto, foi Ezekiel, que no começo é extremamente caxias, chegando a ser irritante em determinados momentos, no final fascina com umas das cenas mais doces. No mais Junketsu no Maria não deixou questões em aberto, exceto que poderia ter abordado mais as origens de Maria. Quem eram os pais dela? Como ela foi parar naquela casa na floresta? Questões simples que não foram mais aprofundadas.

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Por fim, o character design do anime é espetacular. A própria Maria é muito lindinha, os outros personagens são sempre bem desenhados, a ambientação dos lugares, cada detalhe dos escudos, lanças, armaduras, bandeiras das batalhas, são minuciosamente trabalhados. O Estúdio I.G está de parabéns pela obra completa, desde a animação, as dublagens, a trilha sonora perfeita para cada cena. Apenas a abertura e o fechamento não se destacaram tanto, mas nem por isso a qualidade do anime é inferior.

Recomendo fortemente Junketsu no Maria, tanto pelas lições filosóficas, pelo visual bem feito, pela OST maravilhosa, pelo conteúdo histórico e mitológico, quanto pela história em si e o grande mistério que será revelado só no fim. Afinal, Maria perde a virgindade ou não? Só assistindo para descobrir!

Sobre Karina Herbsthofer

Artesã, fotógrafa, escritora, otaku, comilona, amante de gatos e dança. Viciada em cheirar livros! Mora no estado de São Paulo. Escreve no blog do Gyabbo! desde 2014.

E se você tivesse que escolher entre salvar vidas, colocando […]

9 thoughts on “Junketsu no Maria – Conclusão”

  1. realmente gostei muito do que vi , gostei bastante da fidelidade com a epoca em que se passa o anime , e outra coisa que me fez perceber , talvez nao faça tanta diferença ou talvez nao, maria nao tem a idade que tem, tanto que a avó da anne diz que a conhece a muito tempo . ta de parabens , foi um otimo texto

  2. Joseph = José. Maria = Maria. Ezequiel vai renascer como Jesus. Jesus está de volta!

    Enfim, brincadeiras a parte..

    Eu gostei muito de Junketsu no Maria, foi o anime estreante da temporada que eu mais curti. Achei a Maria linda =3

    O que mais me agradou foi o fator surpresa, pois pela sinopse parecia ser um anime ecchi daqueles bem sem graça, mas se mostrou um ótimo anime.

    1. Fico feliz que você tenha se interessado por Junketsu no Maria, rui! Quando li a primeira vez sobre o anime, também não me chamou a atenção, mas sabendo quem foi o responsável pela direção e vendo o quanto o character design é incrível, eu resolvi dar uma chance. A princípio o anime pode não se apresentar de forma tão impressionante, mas o decorrer da história é interessante!

  3. Para mim JUNKETSU NO MARIA FOI O MELHOR ANIME DA SUA TEMPORADA ADOREI TUDO DESSA ANIME, OS PERSONAGEM, SUA HISTORIA,SEUS OST,SEU CHARACTER DESIGN, foi tudo FOI PERFEITO ATE SEU ROMANCE,AMEI O CASAL MARIA E JOSEPH, E ADOREI SABER QUE NO FINAL OS DOIS FICARÃO JUNTOS, e sem duvida Maria entro no meu top de personagem preferida

    1. Maria é uma personagem muito bem feita, com personalidade, obstinada, também gostei muito dela. Pessoalmente acho que Joseph deixa um pouco a desejar no começo, sendo talvez simples demais, mas no decorrer da história ele se mostra um ótimo companheiro!

    1. Sim ^^ uma pena que(pelo menos pra mim) deu a entender que esses dois acabaram sendo bem underrateds :| mas espero que os dois não tenham problemas em vendas, principalmente Yona, pra ter uma segunda temporada.

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