Suiiki – Mangá

“E agora a previsão do tempo para amanhã: Será mais um dia quente e seco e a chance de chover é de 0%. Por favor, economizem água!”

O verão está mais do que cruel com uma escassez de água terrível e a previsão do tempo é desanimadora. Com essa premissa, somos apresentados a Chinami Kawakura, uma integrante do clube de natação de sua escola que parece estar sofrendo mais do que os outros alunos, chegando até a desmaiar no meio das atividades do clube. Quando ela acorda, se encontra no meio de um misterioso vilarejo, cheio de rios, verde e com uma chuva incansável. Achando que o tempo finalmente tinha mudado, ela começa a investigar que lugar era aquele, mas começa a sentir novamente um desmaio vindo e acorda em sua escola.

Achando que era um sonho, Chinami volta a viver sua rotina até o próximo desmaio onde novamente vai parar no vilarejo que agora ela percebe estar abandonado e outra vez a chuva lá não para de cair. Ela encontra um garoto chamado Sumio que a leva até uma cachoeira e diz que lá vive o espírito do deus dragão, mas esse garoto e o próprio vilarejo parecem estranhamente familiares para a garota.

Quem será ele e porque ela sonha com esse vilarejo toda vez que desmaia?

Suiiki 2

Suiiki, ou Waters como também é conhecido, começou a ser publicado na revista Monthly Afternoon em novembro de 2009 e menos de um ano depois, em outubro de 2010 teve o seu derradeiro e emocionante final. Concluído em apenas dois volumes com capítulos que chegam a até 35 páginas cada, Suiiki teve o seu reconhecimento através da sua autora Yuki Urushibara que já era consagrada por sua obra mais conhecida, Mushishi. Quem é fã de seinens de fantasia, com certeza vai reconhecer traços da autora logo de cara ao começar a leitura desse mangá.

Aliás, quem é fã de Mushishi vai perceber uma certa semelhança entre os universos dos dois mangás. Suiiki possui o mesmo clima ameno e sereno onde as coisas fluem devagar e calmamente para os seus rumos, sem apressar as coisas e com quadros de ligação entre fatos importantes, que poderiam não estar ali, mas fazem toda a diferença por estar. Quadros com cenários, olhares e expressões que transmitem ao leitor o sentimento de cada personagem são destaques a parte das obras de Urushibara.

Suiiki 3

O plot é muito bem ministrado, deixando uma curiosidade no leitor sobre o que realmente está acontecendo ali, mas de longe é aquela curiosidade que você pula para dar uma espiadinha no último capítulo, é aquela curiosidade em que você fica imaginando isso e aquilo sobre como esse caso irá se resolver, tornando a leitura muito gostosa. A autora é mestra em fazer isso, deixar você interessado no mistério, mas ao mesmo tempo, tranquilo na leitura e sem afobações. Caso você seja um daqueles que lê mangá voando como se não houvesse amanhã para terminar logo, com toda a certeza não vai aproveitar o melhor de Suiiki.

A arte é simplesmente linda! Sabe quando você olha para um desenho e pensa “Nossa, que desenho simples! É muito fácil de fazer isso”, mas quando você olha uma segunda vez, percebe a complexidade da arte dentro de sua simplicidade? O traço da autora faz essa mágica acontecer brilhantemente! Muitas vezes, os cenários parecem meio esfumaçados, dando um ar de mistério e sobrenatural. Ela usa e abusa também das hachuras que só contribuem para deixar sua arte ainda mais bela.

Suiiki 4

Uma coisa que chama atenção e muita gente reclama da arte de Urushibara é o character design de seus personagens, que eles são muito parecidos e às vezes sem muita expressão. Mais uma vez volto a citar Mushishi. Quem leu a obra mais famosa da autora, também fala isso, já que Mushishi era episódico e cada caso novo, com personagens novos, eram muito parecidos com os personagens do caso anterior. Suiiki não é muito diferente se você parar para olhar os personagens envolvidos, mas só terá essa impressão se não entender a proposta da autora para esse caso. Urushibara foge de personagens muito chamativos e expressivos pois eles raramente existem na vida real.

Apesar de suas histórias serem de fantasia, ela quer passar um realismo em seus personagens. Você não vê muito por aí pessoas com cabelos do tamanho de semáforos e azuis ainda por cima. Até pode encontrar alguém assim um dia, mas não é frequente, a maior parte da população parecem pessoas comuns e normais para quem olha. Cada personagem de Urushibara possui os traços de pessoas simples e comuns pois essa é a mensagem que ela quer passar, de que as pessoas são simples e comuns perante os fenômenos da natureza. O foco de suas obras são efeitos sobrenaturais e a filosofia que esses efeitos podem despertar em seus leitores. Os personagens simplesmente não são chamativos porque não devem chamar atenção, já que esse não é o foco de suas obras.

Eles são pessoas comuns como eu e você.

Suiiki 5

Sem falar que é incrível como Suiiki nos traz um pano de fundo estranhamente familiar. A seca e o racionamento de água pela falta das chuvas e as ações do ser humano que nos trouxeram até aqui como represas e o excesso de consumo. Eles não são o foco do roteiro de Suiiki, mas estão lá para serem lembrados. E se você é fã de histórias de fantasia sobrenatural, ou adorou o clima de Mushishi, ou é daqueles que varre a calçada com o jato da mangueira, acho que deveria ler Suiiki…

“E agora a previsão do tempo para amanhã: Será mais […]

3 thoughts on “Suiiki – Mangá”

  1. Gyabbo!

    Vou correndo achar pra ler… Amo Mushishi e amo o traço dessa autora… Concordo plenamente com o que você disse sobre a intenção da autora ao fazer o design de seus personagens. E, sinceramente, nunca achei isso um problema.

  2. Fábio, bom dia!

    Muito boa resenha! A obra parece muito bonita, e seu discurso sobre ela foi muito equilibrado. Me deu vontade de ler novamente a resenha sobre Witches, pelo amigo Gato de Ulthar. (o texto de ambos me parece compartilhar da mesma elegância)

    Ah, mal posso esperar o Dia do Amadurecimento, quando nossas editoras reconheçam nossa maturidade crescente, e hajam nas bancas “seinens” de qualidade como esses…

    Abraço. Té más.

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