Paranoia Agent

Há mais ou menos uns 3 anos eu olhei Paranoia Agent e por algum motivo não me lembrava de quase nada, então inventei assistir de novo e eu só posso dizer uma coisa: esse anime é espetacular!

Paranoia Agent é um anime lançado em 2004 que é composto por 13 episódios, foi criado pelo mestre Satoshi Kon e produzido pela Madhouse.

Paranoia Agent começa contando a história de uma designer chamada Tsukiko que se tornou famosa após criar uma personagem chamada Maromi que se tornou uma grande franquia vendendo chaveiros, pelúcia e outros produtos. Porém os problemas iniciaram quando ela começou a ser pressionada a criar um novo personagem, mas não consegue. Então a Tsukiko que já era deslocada e perseguida pelas suas colegas devido ao seu sucesso passa também a ser pressionada por seu chefe. Quando chegou ao ponto de não aguentar mais ela foi atacada por um garoto de patins e com um bastão dourado. Com o decorrer de uma investigação sobre o incidente tudo aponta que Tsukiko inventou essa situação para se livrar do compromisso do trabalho, só  que então acontece o segundo ataque.

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Paranoia Agent é um anime que utiliza uma narrativa de episódio por episódio, cada um conta uma história fechada mostrando a vida de uma pessoa e tem como plano de fundo os ataques do Shonen Bat (assim fica conhecido popularmente o agressor). E em alguns episódios enquanto é narrada a história de uma pessoa é mostrado de relance como andam as investigações que são feitas para descobrir quem é o autor dos ataques.

Eu particularmente tenho algo contra esse tipo de narrativa que utiliza de episódios com “histórias fechadas”. O meu grande problema com esse formato é que só 20 minutos quase nunca é tempo insuficiente para desenvolver algo de qualidade. “Uma história complexa, que consiga te apresentar personagens novos e fazer com que você se importe com eles não pode ter ao todo só 20 minutos”, pelo menos era isso que eu pensava, então apareceu Paranoia Agent para dar um tapa de luva no meu rosto.

O Satoshi Kon consegue desenvolver as histórias dentro desse anime tão bem que quando você está assistindo o que menos importa é quem ou o que é o shonen bat, mas quem vai ser a próxima pessoa que vai ter sua história contada, quais serão os temas de sua vida e como eles irão ser abordados.

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Cada história contada nos episódios tinha a capacidade de ser um filme, mas elas foram compactadas em episódios de 20 minutos. O segredo disso é que Satoshi Kon soube o que falar e quanto falar. Ele conseguiu isso por que descartou tudo aquilo que não era extremamente necessário para o desenvolvimento da história e se aprofundou imensamente naquilo que é importante.

Um exemplo de descartar o desnecessário é um episódio em que o foco da história era a conversa entre alguns personagens, tudo que não era relevante para desenvolver essa história foi descartado, como o que faziam da vida esses personagens, como se conheceram e até mesmo os seus nomes. “Mas eles não tinham nomes?” Tinham, porém para o telespectador entender essa história não era necessário saber os nomes e as histórias por trás desses personagens então isso não foi posto no anime, pois seria um desperdício de tempo.

Já um exemplo de aprofundamento nos aspectos corretos é a personalidade dos personagens. A grande maioria dos personagens são portadores de distúrbio de personalidade ou psicopatias, como dupla personalidade, delírio de grandeza, paranoia e autismo.

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E quando são abordados esses fatores psicológicos é de uma forma extrema. Mesmo com os personagens passando por situações que não se encaixam totalmente com o cotidiano brasileiro é possível sentir o sofrimento e angústia que eles estão passando e até mesmo se identificar com os sentimentos deles. Isso é abordado de uma forma sutil no que condiz com o enredo, porém de uma forma forte em relação ao modo como se vê e o que se sente pelos personagens.

A direção do anime também é espetacular. Prova disso é como foi utilizada a trilha sonora que é sensacional. Também o tom que cada cena é muito bem controlado, o que faz balancear o clima dos episódios, assim eles conseguem passar uma tensão em toda a sua extensão, mas sem perder o peso dos principais momentos.

Algo que mostra este total controle sobre o tom dos episódios é que no meio de uma série tensa que trata da história de pessoas com problemas de convívio em sociedade ou problemas psicológicos eles conseguem colocar um episódio leve, engraçado e até pode-se dizer fofo sobre suicídio.

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Esse anime também passa diversas mensagens ao longo da trama. Ao observar pequenos detalhes desse anime fica claro que o Satoshi Kon não tentar só contar uma história, mas também passar alguns pensamentos seus.

Paranoia Agent é repleto de críticas à sociedade japonesa (ou à sociedade contemporânea como um todo). Há críticas ao modo com que as pessoas utilizam a tecnologia, como elas enfrentam seus problemas, como as pessoas tratam seus pais quando eles estão terceira idade, à falta de amor ou somente respeito pelo próximo, à banalização da vida humana, à indústria de animes e à exclusão social que um grupo já formado faz sobre um novo membro. Além disso, também há alguns easter eggs, como referências à Segunda Guerra, RPGs e à Alice no País das Maravilhas.

Parafraseando o Leonardo Kitsune do Vídeo Quest, a minha alegria em ver Paranoia Agent contrasta com a minha tristeza em ter certeza que eu não consegui absorver tudo aquilo que o Satoshi Kon quis passar com essa obra.

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Em um dos treze episódios o nível de qualidade do roteiro diminui consideravelmente, ele é bom, mas tem uma qualidade de roteiro bem menor do que os demais, mas isso não é nada que prejudique a experiência de ver o anime. Porém o único fato que pode desagradar, em um episódio a qualidade da animação cai vertiginosamente, existia momentos em que parecia que as bocas dos personagens eram triângulos que abriam e fechavam. Felizmente essa mudança drástica de qualidade só aconteceu em um episódio (justo no que eu mais gostei, que trágico).

Paranoia Agent é ao mesmo tempo um anime de poucos e de todos. Poucos têm a capacidade de criar um anime com tanta qualidade e tão complexo na sua simplicidade. E todos aqueles que dizem gostar de animes tem o dever de conhecer esta obra. Ele não é um anime de difícil compreensão de sua mensagem central, mas como contêm diversas informações é necessária uma atenção maior para captar mais aspectos do anime.

Paranoia-AgentSe você está procurando um anime que tenha uma história mais adulta e que faça você pensar um pouco então pare de ver outros animes, pare de namorar, pare de comer e pare até de respirar antes de se permitir ver Paranoia Agent.

Sugestões, indicações de animes ou mangás, pontos que vocês queiram ressaltar e críticas é só utilizar comentários e até a próxima.

Há mais ou menos uns 3 anos eu olhei Paranoia […]

8 thoughts on “Paranoia Agent”

  1. “Uma história complexa, que consiga te apresentar personagens novos e fazer com que você se importe com eles não pode ter ao todo só 20 minutos”, pelo menos era isso que eu pensava, então apareceu Paranoia Agent para dar um tapa de luva no meu rosto.

    Cara outro anime que trabalha muito bem historias fechada e que fica muito foda é cowboy bebop. Seria legal que alguém aqui do genkidama fizese um texto sobre ele. Enfim ótimo texto, paranoia agent é foda.

    1. Obrigado pelo elogio, sobre Cowboy Bebop eu o vi há muito tempo, se der tudo certo quem saiba eu assista de novo e faça um texto pra cá. Valeu pela recomendação.

  2. Eu realmente acho que Paranoia tem seus ótimos pontos, mas esse definitivamente é o trabalho mais “fraco” do Kon. Acho que vale ressaltar aqui que essa é uma obra feita com várias ideias que ele tinha para personagens de filmes que não tiveram espaço nas telas pra serem aproveitados e então ele colocou todos em uma série. Mãs… muita coisa ali “conversa” com o que o diretor já fez em suas obras. A gente vê aquele maníaco por bonecas em um certo episódio que é, talvez, um tanto parecido com o Himuro, de Paprika, tem a mulher de dupla personalidade, onde uma é toda acatada e outra com uma imagem voltada à parte sexual (Paprika x Atsuko, só que trabalhadas de forma diferente) e por aí vai. O interessante é ver como ele trabalha todos esses conceitos diferentes e faz com que eles conversem através do shounen bat. Shounen bat, que por sua vez, traduz perfeitamente toda a crítica social ao Japão que o autor do anime faz ao longo de suas obras: a pressão social x o que você é ou quer ser (só não tem isso em Millenium Actress).

    Mas falando do anime per se, é notável o quão genial (e essa palavra se encaixa muito bem aqui) o anime é nos seus 7 primeiros episódios. A existência do Shounen Bat é desde o começo dúbia, já quer você nunca ouve sobre as características do garoto da boca da Atsuko, ouve sim a partir do boca-a-boca das pessoas. Todos os mistérios são interligados e todos seguem para algum lugar, até depois do episódio dos suicidas.
    Mas pra complementar o que dissesse de bom sobre a série, é legal comentar que cada personagem representa um aspecto social, uma crítica e etc. Isso é muito bom. De resto, só consinto com o que está no texto. Mas como eu disse, acho esse o anime mais fraco do Kon, então certeza que nem tudo são flores nele.

    A partir do episódio do suicídio, a série perde totalmente o foco já que aquele episódio não tinha nada a ver com o conceito do garoto do bastão (no máximo brinca com ele), se desligou do mistérios anteriores, esquece os personagens e esquece também do principal, que é o shounen bat (chega até a mostrar o rosto do vilão, o que não faz nenhum sentido), pra só nos últimos episódios explicar os mistérios levantados sem explorar mais quase nenhuma nuance dos mesmos. E isso é meio triste, principalmente porque os episódios fechados são muito bons e trazem muitos valores interessantíssimos. Esse episódio dos suicidas mesmo é muito bom fechado, mas todo o ponto deles já estarem mortos e tudo o mais não contribui em nada pro plot principal. Dessa segunda metade, o episódio que se salva é o da fofoca. Não só pelo conceito do shounen bat funcionar metalinguisticamente, já que a mulher recebeu a visita do shounen bat porque ela estava desesperada pra ter uma história do shounen bat, como também por mostrar o quanto essa lenda urbana estava se espalhando. Mas esses personagens da segunda metade tão pouco importam que lá no fim, quando a série mostra que esse tratamento pela violência não funciona, eles mostram os personagens do começo de novo, não os do fim. Ah, e tem a mulher do policial, que era uma personagem importante e foi apresentado lá pelo episódio 10.

    Enfim, Paranoia Agent é um anime que tem muitos bons valores, da parte técnica ao roteiro e à temática, mas tem muita coisa ruim também.

    Comentário não ficou tão bem escrito, mas tô com uma preguiça monstruosa de revisar.

    1. É na verdade o que você falou sobre a segunda metade depende do ponto de vista, eu por exemplo vejo o Shonen Bat mais como uma forma de contar as histórias de cada episódio do que como a trama central do anime, por isso não me incomoda. Porém se você vê ele assim, como trama central, então se torna um defeito.

      1. É ponto de vista e não é. Eu vejo o Shounen Bat, em parte, como uma forma de contar histórias, também. Mais um conceito do que qualquer coisa. Isso a série mostra e seria até meio idiota de reclamar. O problema é que desde o começo eles fazem várias ligações entre os mistérios e mantém os personagens trabalhando em cima do conflito de cada um por vários episódios. E aí abandonam isso. Quer dizer, não é tão ponto de vista assim, porque a série apresentou um monte de coisa e largou e isso, nesse caso, foi bem negativo.

  3. Paranoia agen faz parte de uma selecao de animes que nao sao populares para o publico convencional, apenas quem tem um Qi a mais vai se interessar pela historia…

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