Cowa! – Série de “terrir” por Akira Toriyama

Corujas e Pirilampos! Conheça Cowa!, a série que o criador de Dragon Ball lançou logo após o seu mega-hit!

“As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem.”

Chico Buarque

Bem-vindos às segundas-feiras do Gyabbo!, onde os bizarros são normais!

O ano era 1997. A Shonen Jump estava sem os seus dois maiores medalhões: Dragon Ball e Slam Dunk. A tiragem do semanário, que no auge chegou a generosos seis milhões de exemplares, agora amargava os dois milhões e pouco! Foi a época em que a revista chegou a perder (temporariamente) o posto de antologia de manga mais vendida para a Shonen Magazine. Para piorar, outro sucesso da revista, Rurouni Kenshin, também caminhava para o seu final.

As facas já estavam afiadas para que os editores começassem a cortar os pulsos (ou a barriga, para quem era mais tradicional), porém a casa editorial conseguiu convencer alguns autores velhos de guerra, como o próprio Akira Toriyama, a voltarem ao batente. E após muito acordo, ele decidiu criar o kodomo (mangá para o público infantil) Cowa!

COWA

Antes de tudo, aconselharia vocês a lerem este ótimo post do blog XIL que comenta algumas curiosidades bem interessantes sobre Dragon Ball – e sobre a disputa entre ele e o Togashi sobre quem é o autor mais preguiçoso. Assim que lerem, podemos prosseguir.

Bem, bem, quem ganha o equivalente a cerca de 10 milhões de dólares por mês sem precisar fazer nada, a troco de que Toriyama iria se coçar para desenhar mais alguma coisa? Só para se livrar da encheção de saco dos editores que batem na sua porta todos os dias! Por isto, de vez em nunca, ele ainda publica uma coisinha aqui ou ali. Mas vamos falar de Cowa! Seu primeiro projeto logo após Dragon Ball.

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A saga conta a história de Paifu, um vampirinho camarada que vive em uma pequena cidade povoada por monstros, dinossauros e mortos-vivos – só que todos muito bonitinhos! Seu melhor amigo é José Rodriguez, um fantasma com o nome latino mais genérico do universo. Temos também o monstrinho indefinido Apone, que é o eterno rival do vampiro – os dois sempre saem no tapa quando se encontram.

Certo dia, enquanto Paifu e Rodriguez brincavam, acabam se encontrando com um humano lutador de sumô chamado Maruyama. O encontro não é muito amigável, principalmente porque os dois monstrinhos morrem de medo dele devido aos boatos de que ele seria um assassino! A fim de se livrar daqueles dois, o humano mostra para Paifu uma cruz improvisada com dois gravetos. Mas ele não esperava que aquilo fosse transformar o vampirinho num macaco giga… opa! Fosse transformar Paifu num “Coalisomem“, uma espécie de versão coala do Lobisomem!

Depois das apresentações básicas o plot da série começa: uma estranha epidemia toma conta da cidade dos monstros e eles precisam urgentemente encontrar uma cura antes que todos morram. A única que pode salva-los é uma bruxa que vive em uma montanha distante. Fazendo um acordo com Maruyama, e contanto com a ajuda desnecessária de Apone, o quarteto parte em busca do remédio.

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É tudo uma gracinha! Um trabalho bem-feito, um roteiro bem bonitinho e amarradinho e uma arte cartunizada simples, porém longe de ser simplória. Tem seus momentos de violência, mas tudo bem amaciado. Ou seja: está anos-luz de Dragon Ball e isto, de forma alguma, é um defeito.

A série é realmente bem curta, tem apenas 14 capítulos. E não, ela não foi cancelada. Alias ninguém com algum juízo na cachola ousaria dispensar qualquer rabisco feito num guardanapo por Akira Toriyama. Obviamente o acordo para que ele voltasse à revista seria que ele pudesse escrever uma série curtinha e bem de boas. Não tenho dados se, durante a publicação de Cowa!, a Shonen Jump ganhou alguma sobrevida na tiragem, mas eu não duvidaria que sim – mesmo que fosse modesta. Alias o mote “A nova série do criador de Dragon Ball” era sempre repetida, só para deixar o leitor a par dos fatos…

A parte “bizarra” dessa série é o fato dela ser tão diferente não apenas de Dragon Ball, mas de tudo o que a Shonen Jump sempre editou. Não temos lutas fantásticas, não temos poderes extraordinários, não temos tramas intrincadas, artes de perder o fôlego, momentos intensos.  O único ponto que daria para dizer que é bem Shonen Jump seria a mensagem de amizade que a saga carrega.

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Não é preciso ser um gênio para perceber que as páginas foram desenhadas praticamente sem esboço. Tudo muito rapidinho e simples. Sem falar na trama bem suave e direta. E o fato dela não ser um shonen, mas um kodomo. Poxa, eu duvido que qualquer editor lá dentro ousaria permitir que uma história deste naipe fosse publicada por um novato ou qualquer outro autor de fama mediana. Mas como é o pai do Goku, então deixa…

De certo modo, Cowa! lembra muito mais Dr Slump; que eu acredito que seja uma série muito mais querida à Toriyama do que o próprio Dragon Ball (ele tentou encerrar a série a todo custo várias vezes!). É humor simples, bacana e bem amarrado.  Com violência apenas pontual. Alias era quase assim que Dragon Ball era no princípio: uma série mais de aventura com comédia do que de ação.

No Brasil, a série foi publicada num volume único pela Conrad em 2007. Vale a pena a conferida. Não só por ser legalzinha, mas para mostrar que titio Toriyama vai muito além dos sayajins.

Corujas e Pirilampos! Conheça Cowa!, a série que o criador […]

6 thoughts on “Cowa! – Série de “terrir” por Akira Toriyama”

  1. Como citou o Togashi, falar de Level E seria uma boa pra próxima semana, afinal, assim como Cowa!, o mangá é um ponto fora da curva na Jump (será que Death Note cabe nesse grupo tbm? Acho que não, né?). Enfim, gosto muito dos teus textos desde o Quadrinhos Gonzo, legal te ver por aqui. Sucesso ;)

  2. Não conhecia essa série, realmente o desenho é superbonitinho ^^ E curtinho, perfeito pra quem tem pouco tempo. Com certeza vou conferir!

  3. Eu coleciono todos os volumes únicos do Akira que foram lançados no Brasil. Só não tenho Nekomajin ainda, mas Cowa sem dúvida é um dos mais divertidos!

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