Psycho-Pass – Primeiras impressões

Se a temporada de outono começou e começou muito bem, na última quinta-feira foi a vez de uma das estreias mais aguardadas desse período, marcando o reinício das obras do bloco noitaminA em Outubro: Psycho-Pass.

Mais do que falarmos das suas qualidade técnicas, da equipe por trás da obra, é crucial entenderemos primeiro o contexto em que se passa a história. O ano é 2103, um futuro onde foi desenvolvida uma tecnologia capaz de mensurar o potencial latente de criminalidade de uma pessoa através da sua personalidade e estado mental.

Diferente de Minority Report (2002), filme do diretor Steven Steven Spielberg e estrelado por Tom Cruise onde os crimes era previstos antes de acontecerem, Psycho-Pass, apesar de seguir a mesma linha de uma metrópole futurista que controla seus cidadãos em um estado constante de alerta, segue por um caminho diferente e muito mais brutal ao considerar o estado mental de uma pessoa, eliminando aqueles que tem apenas o potencial para fazer algum ato criminoso – mesmo que isso não fosse certo de acontecer.

Neste primeiro episódio somos apresentados à Akane Tsunemori, uma ingênua detetive da força policial local recém promovida após uma brilhante carreira acadêmica que irá co-comandar um grupo de pessoas que possuem um alto potencial criminoso, mas que são usados para caçar outros criminosos pelo pequeno contingente que a polícia vem tendo. Mas como diz um dos personagens no meio do episódio, na vida real todo conhecimento acadêmico da jovem será inútil, pois a realidade é muito mais crua do que se pode colocar em um livro.

Se em Minority Report – e desculpem pelos spoilers do filme a seguir – o sistema quase perfeito acaba se mostrando falho, aqui a situação é muito mais agravante. Como podemos ver claramente no final do episódio, o “Psycho-Pass”, nome da medida de potencialidade latente de criminalidade, é extremamente volátil, principalmente pelas condições mentais a que as pessoas são submetidas. Como um estudante de Psicologia, esse sistema me causou um grande arrepio por quantificar algo tão maleável quanto as emoções humanas.

Olhando com mais cuidado, um sistema que deve possuir apoio da maior parte da população – pelo menos não pareceu o contrário nessas primeiras impressões – por conseguir impedir e eliminar crimes e criminosos, na verdade é um tiro no pé já que a própria condição de controle a que as pessoas estão submetidas – com scanners espalhados pela cidade para detectar qualquer coisa fora do padrão – é um fator que alimenta o sistema, aumentando o número de criminosos.

O sistema anti-criminalidade de Psycho-Pass é o mesmo que apagar fogo com gasolina.

Outra comparação inevitável é com o também anime do noitaminA e da Production I.G, Guilty Crown. Seja pelas origens similares (bloco, estúdio, atmosfera futurista etc) ou pelo hype anterior e posterior a sua estréia, é difícil não temer que Psycho-Pass não siga o mesmo caminho sofrível que seu “primo”. Mas pelo que foi visto existe uma forte diferente entre as obras naquilo que é um dos principais chamativos do mais recente: o roteiro de Gen Urobuchi.

Sim, quem viu Madoka Magica há de lembrar-se dos requintes de crueldade impostos por seu criador. E se lá as coisas pareciam um tanto quanto sádicas por usar-se de garotinhas mágicas, aqui tudo parece mais natural, o que por um lado diminui o impacto emocional que o episódio três de Madoka causou no fandom, por outra acaba criando um prognóstico mais equilibrado do que podemos esperar em Psycho-Pass. Ainda assim neste episódio já vemos que as coisas nesse futuro são complicadas, com estupros e corpos explodindo na sua tela.

Outro ponto animador são as próprias palavras do Diretor Chefe e de Gen Urobuchi em entrevista ao site da Weekly Playboy News quando comentam que não só estão aguentando forte pressão para não incluir elementos que agradem ao público fujoshi, como também proibiram sequer falar de moe durante as reuniões sobre o projeto.

Não é nenhuma surpresa que a parte técnica se mostrou impecável, ainda que não estonteante, com a animação do estúdio Production I.G e o bom character design adaptado do traço de Akira Amano, conseguindo manter seus aspectos mais cruciais, sem que ele ficasse deslocado do resto do quadro.

A predominância de cores escuras lembra um pouco o tom dado nas obras de Satoshi Kon, como Paranoia Agent e Millennium Actress, porém menos vivas para dar uma sensação de produção noir.

Ao casar um instigante argumento, ótima produção técnica e personagens interessantes, Psycho-Pass conseguiu entregar aquilo que prometeu. Agora é esperar pelo resto da série e torcer para ela não GuiltyCrownizar.

E você, o que achou da estréia de Psycho-Pass?

Quer saber que outros animes chegaram nessa nova temporada? Confira o post da Temporada de Outono 2012 do Gyabbo!

Se a temporada de outono começou e começou muito bem, […]

9 thoughts on “Psycho-Pass – Primeiras impressões”

  1. Psycho-Pass, como esperado fez uma excelente estréia. Espero que se mantenha assim. Shin Sekai Yori também foi muito bem. Agora o tal do K não sei não…
    Sobre o Gen Urobuchi, não sabia que ele tinha feito a light novel de Black Lagoon. Vou dar uma conferida em suas outras obras. Gyabbo, você já assistiu alguma coisa dele além de Madoka e Fate/Zero? E o que é público fujoshi?

    No mais, parabéns pelo blog e ótima análise. abs.

    1. O fujoshi é equivalente, para a mulher, o que o ero é para o homem.
      Um exemplo de anime com foco no público fujoshi é o K.

  2. Achei esse primeiro contato com a obra interessante, a ideia chave do roteiro é promissora, associar estresse com criminalidade não é algo novo, mas criar um mundo em que qualquer variação no seu grau de estresse momentâneo pode ser um pretexto para o Estado te eliminar, sendo que a sociedade está de acordo, demonstra criatividade, vamos ver como o roteiro vai ser desenvolvido.
    O único medo que tenho com o futuro da série é que ela se torne algo cheio de clichês, menina boazinha querendo mudar o mundo e mimimimimimi.Já notei algumas frases bem clichês no decorrer do episódio, a primeira cena já me deu vontade de dropar a série, espero que tenha sido um lapso do roteiro.

  3. Primeiramente quero dizer que o seu site ganhou meu favorito depois deste texto. Já pensava em fazê-lo depois dos ótimos textos sobre Hyouka (apesar de eu continuar não gostando do anime, você me fez ver a série de uma forma muito melhor do que eu a via), sobre a temporada de outubro e sobre Shinsekai Yori.

    Quanto a Psycho-Pass, estou esperando que seja o melhor anime do ano e um dos melhores que já vi, tendo em vista que não vi muitos até agora. O único problema que percebi do episódio, foi o fato de que a garota protagonista, mesmo treinada para aqueles tipos de situação e sendo a melhor de sua classe, tenha um comportamento tão contraditório a estes fatos que são citados logo no começo do episódio. No entanto, o que também é citado, é que ela é uma novata completa e que está em uma posição que não poderia ser dada a alguém com total falta de experiência, se não fosse a falta de pessoal dessa agência especial da polícia. Então, por fim, essa contrariedade é quase compensada, mas ainda me incomoda um pouco. De resto, todas as minhas impressões são as suas impressões.

    Me animou bastante saber que os produtores estão fugindo da pressão de colocar elementos de fan-service na série. Talvez esse anime possa se sair melhor do que estamos esperando e talvez até mude algo na indústria… É bem improvável, mas não vejo problema em sonhar um pouquinho.

    Por ultimo, Gyabbo ou qualquer um que ler este comentário, vocês sabem qual os animes previstos para dezembro? Fiquei sabendo que Nekomonogatari: Kuro será lançado. Sendo do mesmo criador de Katanagatai, só tenho boas expectativas. Agora é apressar-se para assistir Bakemonogatari e Nisemonogatari.

  4. “O único medo que tenho com o futuro da série é que ela se torne algo cheio de clichês, menina boazinha querendo mudar o mundo e mimimimimimi.Já notei algumas frases bem clichês no decorrer do episódio, a primeira cena já me deu vontade de dropar a série, espero que tenha sido um lapso do roteiro.”

    Se você acompanhou, pelo menos Madoka e Fate/Zero vc vai notar que personagens com essa “motivação” são normais nos roteiros do Urobuchi, MAS o desenvolvimento desses personagens é que é interessante, não coloco minha mão no fogo, mas é bem difícil pender pro clichê, o plot pode ser clichê, mas espere pelo choque de motivações e ideologias, principalmente com a Akane hehe.

  5. Ótimo post. Gen Urobuchi é meu roteirista preferido e está fazendo um trabalho magnífico em Psycho-Pass. Achei este primeiro episódio sem erros e por isso acredito que não irá ser o próximo Guilty Crown. O que me faz ter quase certeza disso foi o próprio primeiro episódio. Em Guilty Crown, o primeiro episódio é ótimo, apresentando de uma ótima maneira os personagens e tendo muito potencial para ser algo, enquanto Psycho-Pass já é algo em seu primeiro episódio. Além de também ter potencial, ele é mais que isso e conta uma boa história no primeiro episódio, que é auto-conclusiva até. Me lembro de ter lido a entrevista do Gen Urobuchi onde ele disse que costuma mostrar algo estranho para o telespectador no primeiro episódio, apresentar o mundo e os personagens no segundo e fazer um plot-twist no terceiro. Estou ansioso.

  6. Sou o único que gostou de GuiltCrow? Tudo bem que os finais dos arcos são partes descartáveis do anime, mas o desenvolvimento dos personagens e conflitos que cada um carrega foram os que mais me impressionaram. Se ao menos Psycho-Pass herdar essa linha eu vou estar muito satisfeito.

  7. GuiltyCrownizar HAUHUAHUAHUHA… Adorei o termo!

    Eu acho que quem vai GuiltyCrownizar é K! Tá seguindo o mesmo feeling do GC, sendo, para mim, mto mais raso, logo nem me prendi a ele e larguei.

    Psycho-Pass teve uma estréia excelente! Meu medo ao final não foi de ficar como GC, mas ficar meio focado em um possível romance e deixar a tensão de lado.

    Gyabbo, como és estudante de psicologia, me diga uma coisa: nessa idéia de medir a emoção humana para calcular probabilidade de cometer crime, um psicopata seria detectado?

    Por fim, adorei a série, até por me lembrar além de Minority Report, lembrou os filmes de Ghost in the Shell.

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