Joshiraku – Primeiras impressões

Um anime cheio de diálogos comuns para que os espectadores possam realmente aproveitar o quão fofas são as personagens. 

“Actioni contrariam semper et aequalem esse reactionem”. 

Toda ação gera uma reação, já diria todo mundo citando de forma incompleta a terceira lei de Newton. E de certa forma podemos fazer um paralelo com aquilo que faz sucesso no mundo do entretenimento. Tudo que faz um grande sucesso – seja bom ou não – será copiado. Mas além de ser copiado também será alvo de reações contrárias.

Certamente vocês devem ter ouvido o imenso sucesso que foi a música Friday da cantora-mirim Rebecca Black. Todos nós vimos, nem todos gostaram (eu gostei), muitos odiaram. Pouco tempo depois surgiram outras dezenas de garotas de 13 anos com vozes duvidosas com músicas e clipes peculiares. Mas também surgiram coisas como isso aqui:

Paródias! Uma das melhores formas de criticar, satirizar e ironizar algo, especialmente com grande atenção. Certamente o mundo dos animes não estaria livre disso. Assim, era de se esperar que uma hora ou outra algum autor mais ácido (e mais conhecido) viesse trazer um pouco de ironia a um tipo de anime que vem ficando cada vez mais popular: slice of life com garotas kawaii conversando sobre nada muito relevante e sendo kawaii. K-ON! está aí como o grande bastião desses animes, apesar de não ser de longe o primeiro a usar sua fórmula, é provavelmente o de maior sucesso até hoje. Lucky Star, Sora no Woto… não é difícil lembrar de vários exemplos.

Com essa ideia em mente chega nesse verão a adaptação do manga que une o traço de Yasu (Toradora), na medida para dar o efeito moe às personagens fora do padrão Kyoto Animation, com os diálogos perigosos de um verdadeiro língua de cobra que é Kouji Kumeta, autor de Sayonara Zetsubou Sensei.

Retomando o primeiro parágrafo desse post, mais do que uma descrição objetiva para o leitor, ele é na verdade retirado (e levemente adaptado na tradução) diretamente do primeiro episódio de Joshiraku, nova obra do estúdio J.C. Staff.

E por que dizer o óbvio se não para usar o óbvio como um sarcasmo? Sim, pegue suas garotas kawaii, cada uma seguindo um estereótipo plano, mas de brinde leve diálogos ácidos em uma paródia que minuto a minuto critica de forma não tão velada a ode à fofurice japonesa.

Joshiraku, sendo bom slice of life que é, não conta história, mas gira em torno de um grupo de cinco garotas que apresentam rakugo – uma tradicional forma de comédia japonesa  – e depois se reúnem para conversar. Basicamente só. E é justamente nesses diálogos, algo tão próprio e bem usado por Kouji Kumeta em sua obra mais famosa, que o veneno começa a escorrer por cada acetato.

Em uma das críticas mais contundentes desse primeiro episódio, as garotas começam a perguntar o que as outras fazem normalmente (enquanto uma delas grita para não ficarem fazendo perguntas obviamente sem sentido em um diálogo normal). O diálogo vai se afunilando, até chegarem a conclusão de que as coisas que mais fazem são justamente aquelas mais básicas ao ser humano: comer, dormir e… conversar, conclui abruptamente uma das garotas. Ahn?! É óbvio que o mais correto seria “comer, dormir e se reproduzir”, as bases da sobrevivência da espécie humana. Mas que tipo de garota moe faz ou pensa em sexo senão por motivos cômicos? Elas só comem, dormem e conversam. Fim.

O episódio segue dentro desse esquema, misturando piadas visuais, críticas sociais, trocadilhos com a língua japonesa, diálogos frenéticos e randons e até brincando consigo mesmo e com seus espectadores. Questiona-se até mesmo o valor da animação de Joshiraku, visto que são tão poucas coisas para serem animadas que faria mais sentido deixar apenas em manga. Mesmo aqueles que assistem ao anime de formas não legais são alvos das críticas. Literalmente não sobra para ninguém.

Joshiraku se infiltra em público que muitas vezes é tão voltado para si e alienado que possivelmente muito passe batido e essa seja uma obra realmente apreciada por aqueles que são o alvo da piada. Mais do que parodiar, criticar, se faz isso de uma forma fluida, atraindo e afastando fãs do estilo.

Tecnicamente não há do que reclamar. Até pela real falta de necessidade de se animar muitas coisas, aqui há um certo apreço maior pelo traço do character designer Masayoshi Tanaka (Ano Natsu, Ano Hana, Toradora), criando um contraste ímpar entre o que se vê e o que se ouve (ou lê no nosso caso).

E mesmo dentro da crítica sobre esse parnasianismo nipônico onde a “beleza” e a pureza das personagens são muito mais importantes do que elas próprias e suas histórias, temos algum apreço por questões mais técnicas do rakugo. Dificilmente alguém vai aprender ou se aprofundar no tema, mas é sempre um algo a mais pra se ver.

Por fim, temos ainda o melhor encerramento da temporada. Por mais que Hyadain não seja considerado uma Yoko Kanno ou uma Yuki Kajiura, mestras das músicas em animes, é impressionante notar o que esse cara vem fazendo nos animes menos cult.

Se você não tiver medo de ver uma boa crítica ser construída sobre algo que você gosta (Hey, sou fã de K-ON!, Lucky Star e outros do estilo, não me entendam mal) ou simplesmente gostar de uma boa ironia, não deixe de conferir Joshiraku, uma verdadeira pérola dessa temporada de verão!

Para saber mais sobre o manga recomenta esta e esta nota no blog Maximum Cosmo.

Um anime cheio de diálogos comuns para que os espectadores […]

8 thoughts on “Joshiraku – Primeiras impressões”

  1. Tenho que comentar aqui, eu acho isso MUITO bizarro.
    Não o anime, o público.

    Veja bem, tem esses moes bobinhos, alguns até retardados mesmo.
    (Alguns de nós) não gostamos, falamos mal, criticamos. Quando passa dos limites “alertamos”. Todos os outros vivem na (mo)excelência, ok.
    Então, vem um anime destes, uma “paródia” (coincidência falar sobre isso hoje, a tarde postarei algo relacionado) sobre todo esse moe, supostamente maléfico, fazendo um sem fim de piadinhas e sketches… isso não é muito retardado? Mais do que o original? Chegar ao ponto de ir além da crítica, combater, e lucrar muito é claro(!), com isso? Se você não gosta da obra que está sendo criticada, tem até nojo, por que você assiste a crítica a ela só para MASSAGEAR O EGO?
    Tipo, “olha só como eu sou hipster e sério, seu babacas imbecis punheteros assexuados, blerh derp derp”.
    Como se essa fosse uma questão assim tão relevante para a sociedade. Pode ser? Sim, mas a crítica, seu valor, é muito fraca. Outras outras fazem críticas de verdade, sérias, RELEVANTES, e nem se percebe, nem fica gritando na multidão tentando chamar atenção.
    Como se chama isso mesmo? É “pérolas aos porcos”?

    E deixando uma opinião pessoal aqui, sobre o “comer, dormir e… conversar”, isso não é o certo?
    Afinal, menininhas moe, inocentes, novinhas, solteiras. Por que o conversar deveria ser substituído por reproduzir? Por que isso é errado, qual o desvio social aqui? Esses animes nesse formato são no máximo escapismo (obras leves), são uma consequência não uma causa de problemas. Veja o exemplo do nosso país onde as garotas trocaram o conversar (e seguramente conversar sobre sexo) e partiram direto para o reproduzir tão jovens. Olha a merda que deu!

    https://i.imgur.com/TBkPz.jpg

  2. Eu assisti finalmente e gostei do resultado. Eu tive medo que a JC Staff estragasse tudo tentando dourar a pílula no anime de Bakuman (o que aqui seria realmente letal), mas não foi o que aconteceu. Na verdade eles foram até um pouco mais além, fazendo brincadeiras sutis com a animação que só seriam possíveis na forma de animação (repare na cena, logo no comecinho do quarto minuto, em que é dito “estão trabalhando tanto para nos animar mesmo que haja tão pouca animação?”). E pensando bem, esse humor está presente até na abertura. Ponto positivo para os caras e mais um acerto com a griffe do Koji Kumeta. :)

    1. Sim, eu reparei nessa parte do quarto minuto, ela fala isso e fazem uma exagero de movimentos justamente como jocosidade, ficou bem legal, são essas coisas sutis que dão um ponto a mais e fazem o diferencial necessário para uma animação.

      Gyabbo!

  3. Acho que vai ser um dos melhores animes da temporada. Visualmente é muito bonito, os traços saõ bonitos e a animação é interessante. A trilha sonora (principalmente na Ending) é muito divertida e o esteriótipo intencional nas características dos personagens é um ponto positivo. Um slice-of-life diferente, acho que é o primeiro a criticar de forma tão contida o gênero. Só espero que não fique repetitivo no decorrer da série, mas aposto como a melhor comédia da temporada.

    1. Não diria “contido”. É uma regra de ouro da sátira se parecer o máximo possível com o satirizado para que o espectador/leitor/o que for simplesmente “pegue” o alvo logo de cara. Então é natural que eles absorvam aspectos estéticos do próprio gênero satirizado. É sempre um risco que a sátira seja engolida pelo satirizado e acabe deixando, por tabela, de ser sátira, e virar um mero exemplar “torto” do gênero que deveria estar arrasando (um exemplo disso é o filme “Não é apenas um besteirol americano”, que começa muito bem, mas depois que a garota “sem graça” deixa de ser a “sem graça”, acaba virando um filme de colegial americano mais comum do que pode parecer a primeira vista). O interlúdio no meio do anime, na frente do teatro de rakugo, apontou para esse risco. Mas por ora eles se saíram bem. :)

  4. Vamos comparar comentários:
    Panina tem pontos em razão; não em geral, mas porque realmente (pelo menos o primeiro episódio) parece muito menos com sátira e mais com o satirizado, que julgo eu foi pela escolha do traço do Yasu. SZS tem um traço afastado de seus “alvos”, o que me fez duvidar da escolha de Kumeta. Mas ele não chegou a deslizar muito, como Lancaster nos disse, e concordo muitíssimo. Como foi dito nas outras matérias do Maximum, aqui linlkadas, julgo paródias necessárias.
    Senhorita, lembro de sua matéria de Moexcelência. Mas também sabemos o maldito destino que aconteceu com a pequena Rin e seu manga. Nenhuma inocência sobrevive pra sempre, tanto da criatura quanto do criador.
    Sem falar da história do antigo Subete, Mawaru Penguindrum, e a criação do Nahel Argama.

Deixe sua opinião