Bokurano: quando o mecha é apenas coadjuvante

Quinze crianças pilotando um mecha para defender o planeta. Clichê? Errado, Bokurano não é mais do mesmo…

Quinze crianças na faixa dos treze anos fazendo um curso de verão tem seus destinos cruzados quando, ao explorar uma caverna, encontram um “cientista” mantendo um laboratório e os convidando para participarem de um jogo. Tentador, não?

Imagine você pilotando um robô gigante, numa realidade virtual, derrotando os inimigos para defender o seu planeta? Multiplique isso pelo fato de serem pré-adolescentes entediados querendo um diferencial na sua vida. Mesmo com um ou outro jovem receoso, todos aceitam participar e “assinam” uma espécie de contrato. Daí podemos julgar uma premissa rasa, afinal, normalmente teríamos um líder no grupo e o monstro do dia para fechar o roteiro de um anime básico e previsível a ponto do primeiro episódio lembrar Digimon. Só que não é bem assim, a coisa vai bem mais além…

Bokurano, em uma tradução literal, seria algo como “nosso”, ou seja, os escolhidos assumem o controle de um robô, o nomeiam como Zearth e passam a dividir a responsabilidade de lutar para proteger a vida em seu planeta. Entretanto, esta não é a proposta principal da história: por mais que o fato de um robô gigante surgir no meio da cidade destruindo tudo seja assombroso e inexplicável, Zearth acaba exercendo um papel de coadjuvante ao expor a fraqueza, a corrupção, a maldade e a deturpação de valores que existem na sociedade.

Num primeiro momento eu pensei que com a quantidade enorme de personagens para apenas 24 episódios, não seria possível ter um desenvolvimento crível para cada um deles, mas o pior é que tem. Dentro do Zearth, são dispostas quinze cadeiras em forma de um círculo e cada cadeira é diferente, ela existe realmente em outro lugar, já que é a cadeira que o piloto mais gosta. Para guiar os pilotos, ainda temos uma espécie de “mascote” de nome Koyemshi (ou Koemushi). Sua aparência e sua frieza transmitem uma sensação de desconforto, além disso, ele quase não possui expressões faciais, se está sorrindo ou se está sério, mantém a mesma cara. Além disso é branco e tem detalhes em cor de rosa… Parece familiar? Sim, com essa descrição não é nada estranho lembrarmos-nos de Kyuubey, por outro lado, Koyemshi demonstra uma crueldade muito maior.

Por mais que tenham no máximo treze anos, as crianças protagonistas de infantil só possuem a idade. Seus problemas e os de suas famílias são intensos e chocam mas a forma como as cenas são mostradas tornam a temática mais “amena”. Por exemplo, temos assuntos como gravidez na pré-adolescência, prostituição infantil, pedofilia, suicídio, estupro, traição, entre outros, mas muitas coisas são subentendidas, nada é explicitado com o uso de cenas agressivas.

No primeiro episódio temos o cientista, apresentado com o nome de Kokopelli, explicando as regras do jogo, travando uma luta de exemplo e em seguida sumindo. No episódio seguinte, as crianças já tem que começar sua missão e o primeiro piloto a ser escolhido não tem sua personalidade explorada a fundo e, ao final da batalha, ele morre ao cair da superfície externa de Zearth. Até então, todos pensam ser um acidente mas, ao longo dos episódios, descobre-se que o piloto da vez gasta sua energia vital e morre após a luta.

Eis a questão: Vale a pena sacrificar sua vida por uma humanidade corrompida? Vale a pena defender pessoas que algum dia já te fizeram mal? Entre estas estão muitas outras dúvidas que pairam na mente deles e instauram uma tremenda pressão psicológica. A partir de então é uma corrida contra o tempo e o jogo toma proporções enormes já que a sociedade civil se vê envolvida e os órgãos do governo tentam de mil e uma maneiras encontrar soluções e explicações para o problema.

A política e a mídia são assuntos pertinentes na história já que temos a filha de um político e a filha de um jornalista entre as crianças escolhidas, logo, cada um tentará fazer o que pode no intuito de ajudar, porém, a sede de poder vai interferir no processo. Enquanto uns buscam a solução do problema para tirar os escolhidos – e o planeta – do perigo, outros querem apenas se beneficiar da desgraça, almejando mais e mais poder.

Em suma, Bokurano é surpreendente, extremamente dramático e, apesar da parte de tratar sobre ficção científica, é muito realista. Este não é o tipo de história que à primeira vista me atrairia, porém, o anime vai para o meu hall de “as aparências enganam”. Esta foi uma breve review sobre o anime; quem fez uma review bem interessante do mangá foi o Judeu Ateu e pelo que pude perceber, a história vai bem mais a fundo nesta versão.

A propósito, para quem não me conhece, sou a Josi, muito prazer :D! Meu blog original é o Moon Dots mas, porém, todavia, contudo, passarei a colaborar aqui no Nahel Argama também.

Quinze crianças pilotando um mecha para defender o planeta. Clichê? […]

9 thoughts on “Bokurano: quando o mecha é apenas coadjuvante”

  1. Ótima introdução. Esse anime é com certeza um dos mais únicos que já vi e é dos meus favoritos. Quem gostou de Madoka Magica, certamente vai gostar tambérm de Bokurano, já que ambos pegam um estilo juvenil e clichê e preenchem de realismo e drama. Na minha opinião, Gen Urobuchi se baseou bastante em Bokurano para criar Madoka.

  2. Sempre tive essa impressão também, do Kyuubey ser uma “cópia” do Koyemshi, apesar dos dois receberem abordagens BEM diferentes no final, ambos são extremamente parecidos no começo. Essa caracterização de “Neutral evil”, sabemos que há algo suspeito (e ruim) por trás deles, mas não sabemos exatamente o que é.

    O que ouvi falar da versão anime (que AINDA não vi) é de que muda bastante no final, boatos de que teve muita briga entre o Mangaka e o Diretor, o chefe da versão animada discordava totalmente da visão do autor original (mangá na época estava a 1/3 de ser completado) e mudou muito do final da história, não sei se isso se confirma, mas parece que o anime termina muito mais “felizinho” (teve essa impressão pelo que assistiu?)

    Mas que a abertura é FANTÁSTICA, é, até arrepiei na primeira vez que vi, sendo que já tinha lido quase todo o mangá.

    De qualquer jeito, concordo com o que você disse, Bokurano com certeza não é o que parece, guardadas as devidas proporções e quase um Solanin encontra Evangelion 😀 Não sei porque e tão pouco visto 🙁

    Ótimo texto 🙂 (só não esqueça de sempre exigir pelos seus direitos trabalhistas do qwerty, não vai cair na mesma armadilha que é a monarquia escravista de OUTROS blogs XD)

    1. Eu não sabia dessas tretas aí com o mangaka e o diretor… Mas mesmo com todas as desgraças ocorridas, dá pra dizer que o final foi “feliz” sim, agora fiquei curiosa pra ler a versão mangá já que pelo teu review e pelas imagens eu presumi que o negócio fosse mais a fundo!
      Ah sim, a abertura é de arrepiar, todas as cenas que aparecem estão no anime, até quase o último episódio, mas sem “spoilear” nada :D!
      Agora que deixei de ser “chefe” pra virar “funcionária” vou exigir todos os meus direitos trabalhistas, pode ter certeza! xDD
      Obrigada pelo comentário ^^!!

  3. Josi no Nahel ^^ (acho que só eu me surpreendi). Infelizmente, ainda não assisti esse animê (mas, já adicionei à lista).
    P.S.: Eu sei quem é o rapaz que comentou ali em cima ^^

    1. Eu também me surpreendi o.o, sério mesmo!
      Bah Suzi, coloca aí na lista mesmo pq vale a pena, é bem intenso o!
      Huahuahuaha e ele comentou por vontade própria, nem falei nada ^^!! <3

  4. Eu gosto bastante de séries assim. Como sempre digo, não me importo de ter mecha na história, desde que os mechas não sejam a história e sim PARTE DA HISTÓRIA. Eu já tinha ficado muito interessada quando ouvi o áudio review do Judeu Ateu, mas agora fiquei ainda mais com vontade de assistir e ler o mangá, principalmente por ambos seguirem caminhos opostos. Isso é bacana 😉

    Enfim, bom post e parabéns pela sua participação no Nahel Argama.

    1. Obrigada, Beta :D!
      Eu hesitava em assistir mas valeu muito a pena. Quando puder, acho que vai ser o tipo de série que vai gostar :D!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *