TIGER & BUNNY

Em um ano dominado pela sombra de Mahou Shoujo Madoka Magica, é notório que a grande surpresa deste seja um projeto de baixo custo do famoso e enorme estúdio Sunrise, no qual uma ideia bem-sacada executada de forma simples, eficiente e com muito carisma causou uma comoção tal que é o anime não-Gundam de maior repercussão para aquele desde Code Geass [que já nasceu estelar, afinal é a união do character concept do famoso grupo CLAMP com uma ideia de um dos diretores mais conhecidos no mundo do anime, Goro Taniguchi [Mugen no Ryvius, Planetes]]. Afinal, qual é o segredo do sucesso de TIGER&BUNNY? Este é merecido? Pode vir a influenciar novas produções? As respostas para estas perguntas e muito mais nos próximos parágrafos.

Wild Tiger, o carismático protagonista - via SoftBank

Sinopse: Heróis lutando contra o crime. Em um reality show. Patrocinados pela Pepsi.

Em Sternbild [obviamente inspirada em Manhattan], cidade localizada em uma terra alternativa aonde alguns seres humanos denominados NEXT possuem superpoderes, existe um reality show chamado Hero TV no qual super-heróis [em uma apreensão japonesa do conceito ocidental/estadunidense conhecido por todos nós] combatem o crime em uma competição/gincana televisiva – dentre eles o inicialmente combalido Wild Tiger, que começa a viver uma crise de meia-idade – afinal, ele trabalha em um ramo que clama pelo auge da forma física.

Eis que Barnaby Brooks Jr., possuidor do mesmo poder multiplicador de força de Tiger, surge – jovem, cool, estiloso e com uma armadura que faz a velha roupa colada de Kotetsu T. Kaburagi [nome real de nosso protagonista] ficar prontamente ultrapassada e nossa história começa – afinal, após um primeiro episódio dedicado a mostrar o contraste entre os dois protagonistas, o empregador destes [a empresa Apollon Media] decide que devem formar a primeira dupla de heróis da história da cidade.

Apesar de termos um anime focado nas personagens [character driven], particularmente na dupla principal, a estrutura criada como base para o drama principal florescer é digna de nota: tanto a abordagem de heróis como simples empregados de grandes corporações e quase verdadeiros artistas de circo é – mesmo que não inédita – uma ideia esperta como a tática de colocar marcas reais como patrocinadoras é ao mesmo tempo comercialmente e criativamente esperta; querendo ou não, o fato da Blue Rose anunciar a Pepsi e não uma Popsi traz maior imersão ao espectador – afinal, é um elemento comum na vida deste. E sempre é bom que a indústria diversifique suas fontes de renda, afinal desta maneira torna-se menos suscetível a eventuais crises em algum dos elementos de sustentação do mercado.

Barnaby Brooks Jr., jovem e perfeitinho - via BANDAI

Tiger & Bunny, imenso carisma

A ideia pode ser esperta e o character concept/hero design do mítico Masakazu Katsura [Video Girl Ai, Zetman] pode ser lindo, mas o que segurou muitos espectadores durante os primeiros – e apenas razoáveis – episódios foram os simpáticos personagens apresentados no muito bom Primeiro Episódio, particularmente Wild Tiger.

Não é a toa que este – que me perdõem os fãs de Okarin – é o personagem masculino mais marcante de 2011: o moreno trintão, ativo, impulsivo e falastrão como um protagonista de battle shounen mas razoavelmente consciente de sua situação e responsabilidades [inclusive carrega o pesado fardo de esconder sua profissão de sua amada filha Kaede] pode não ser em sua concepção um grande personagem, mas além de ser um sopro de ar fresco em uma mídia dominada por adolescentes é também bem aproveitado pelo roteiro e executado pela direção, sendo tremendamente humano. Sim, Kotetsu T. Kaburagi além de ser um baita de um herói, principalmente por ter um grande coração, seria um belo parceiro de bebida.

Já Barnaby Brooks Jr. ou Bunny [como Tiger o apelidou em tom inicialmente de deboche e depois de afeto] pode não ser tão carismático, mas também é um personagem que inspira esse sentimento – é cool até demais [fato que irrita principalmente os “quentes” brasileiros, mas atrai admiradores principalmente em um país como o Japão], justificado por um clássico passado triste, mas também é um personagem tridimensional e com evolução leve e calculada proporcionada pela série – o que justifica seus fãs mesmo entre pessoas não-fujoshi; lembrando que este público também emcampou fortemente TIGER&BUNNY [principalmente no Japão] e é um dos pilares das altas vendas de qualquer produto relacionado lançado com a marca – afinal, dos grandes sucessos de 2011, foi o menos calculado e o mais surpreendente.

Blue Rose, DIVA - via Pepsi

E se o elenco de coadjuvantes tem papel reduzido pelo que a abertura faz supor – especialmente na segunda metade – eles também tem personalidades interessantes, mesmo que sem a tridimensionalidade dos protagonistas. Desde Blue Rose [ou Karina Lyle], a heroína idol que quer simplesmente ser uma cantora de sucesso – e que também é a adolescente que tem uma queda pelo “professor” Tiger – até o taxista Ben, grande amigo de Kotetsu e que é lembrado na história no momento em que você menos imagina: eles podem ser papel de parede ao pensar-se em poderes mas T&B não é sobre isso – aqui, eles são personagens que adicionam, que importam, que fazem o espectador querer mais na segunda temporada que com certeza virá. E o fato de serem personagens acessíveis a qualquer pessoa, e não somente aos iniciados como em um Steins;Gate, faz com o que o sucesso deste seja mais abrangente que o da maioria dos animes. Mesmo passando na calada da noite, TIGER&BUNNY atraiu uma audiência maior que a usual para um anime, e teve uma popularidade tal que refletiu-se em feitos como ser a hashtag mais utilizada no Twitter em alguns meses de 2011.

Sky High, Pose de Rei - via USTREAM

Primeiro Cour: Introdução

Sim, TIGER&BUNNY é um anime que pode ser dividido facilmente em duas partes, cada qual correspondente a um respectivo cour da série, sendo que o primeiro é uma grande introdução ao universo, aos personagens e temas desta.

Em um clima agradável, temos inicialmente diversos episódios que apresentam todos os personagens [sendo que alguns dos coadjuvantes tem seu episódio próprio], notadamente a dupla dinâmica Tiger & Barnaby, mas que ao mesmo tempo vão introduzido lentamente a história da série, a qual envolve a misteriosa organização Ouroboros e a pessoa ligada à esta que matou os pais de Barnaby, Jake.

Jake é um vilão simples de história em quadrinhos [afinal, esta é a inspiração ao criar-se T&B] que aparece para testar as convicções dos heróis e mostrar as diferenças dos pensamentos entre os protagonistas – Tiger é um herói clássico, ideal, altruísta em um nível sobrehumano; já Bunny está no jogo apenas por conveniência, sendo que ser herói é um atalho para realizar seu objetivo pessoal e egoísta. Assim, o clássico tema da supremacia dos mutantes sobre os humanos e o traço distintivo primordial de Jake são apenas pano de fundo para o confronto entre os ideais dos protagonistas; assim, quem irá realmente salvar o dia é Tiger, afinal este é o herói de verdade – Bunny é quem tem de aprender o significado real desta palavra em seu real arco de crescimento como personagem.

Fire Emblem, DIVO - via FMV

Além desta boa massa, o recheio que é Jake dominado Sternbild também é bastante divertido, proporcionando as belas cenas de invasão da cidade por asseclas de sua Arlequina particular [afinal, visualmente o vilão é um Coringa bombado] que são a melhor parte da série como ação/aventura – vale ressaltar aqui que TIGER&BUNNY é um drama com apenas alguns toques de ação e comédia, sendo que não é equilibrado o suficiente para atrair quem não é fã do gênero [que prefere ver um blockbuster como Ao no Exorcist]. Até porque proporcionam aos demais heróis o grande destaque destes como uma equipe, mesmo que em papel auxiliar aos óbvios protagonistas.

Segundo Cour: Desenvolvimento – Contém SPOILER

A "loli" Dragon Child - via Calbee e DMM.com

Um ano se passa e agora aparentemente tudo está a mil maravilhas para a dupla de protagonistas, que afinal obteve reconhecimento [Tiger] e finalmente conseguiu encontrar a paz [Bunny]. Porém, a segunda abertura logo mostra que não é melancólica à toa e fantasmas ainda maiores do passado aparecem para tornar a vida dos dois um verdadeiro inferno.

Mesmo a concepção que Tiger tem de heroismo possui seus defeitos – afinal, que pai é esse que larga a filha com a avó para viver seu sonho de herói na cidade grande, sendo que precisa descontar parte de sua frustação na bebida? E quanto a Bunny, a paz obtida com a quase vingança contra Jake é falsa – e a série amarra o fato de Jake não ter sido o verdadeiro assassino dos pais desse muito bem, levantando a óbvia questão: afinal, em histórias de heróis os personagens realmente precisam ser preto no branco, facilmente definidos como bons ou maus?

Tivemos inclusive nesse ponto dicas sobre algo a ser utilizado mais para frente, com a desconstrução do primeiro herói, Legend, mas que provavelmente fica para a segunda temporada juntamente com Lunatic: interessante mas subutilizado personagem que fica na fronteira entre o anti-herói e o vilão.

Mas em outro aspecto, o das origens do Hero Show, o arco final consegue mostrar com o bom e surpreendente vilão Maverick que há certa podridão no modelo de heroismo mostrado no anime; afinal, os herois são claramente manipulados nas mãos de um homem ambicioso e sem escrúpulos capaz de qualquer coisa por poder, até praticamente destruir a vida de uma criança como Barnaby.

Porém o clímax de T&B, a semelhança da primeira temporada de Code Geass, deixa a impressão de que poderia ser melhor – aqui, os problemas [principalmente como derrotar o grande vilão; porque antes disso temos partes geniais como a interação entre Tiger e sua filha Kaede e todas suas ações até conseguir recuperar a confiança de seus companheiros de heroísmo] são resolvidos basicamente na força de vontade e no poder da amizade inigualáveis, principalmente de Wild Tiger [após muito sofrimento por parte desse].

Tudo isso rumo a um final feliz, clichê e algo deslocado onde o status quo mantém-se praticamente o mesmo – e a última cena é bem clara quanto a história apenas estar começando… Soa demais como um final improvisado feito na medida para alavancar facilmente uma continuação em vez de um outro que fecharia com louvor a série. Divertido, mas poderia ser melhor.

Rock Bison, forte como uma rocha - via Gyu-Kaku

Parte Técnica

Como dito acima, TIGER&BUNNY nasceu como um projeto secundário da Sunrise [e da BANDAI], portanto teve um orçamento limitado à sua disposição. Mesmo sendo bem-utilizado [tanto que tivemos um primeiro episódio sensacional], o fato de ser uma série com constante ação [e para complicar, com um character design complicado de desenhar] fez com que a falta de dinheiro fosse notada, particularmente no CG não-detalhado e de baixo custo e na instabilidade do traço no geral. Claro que um fandom extenso e obcecado faz com que qualquer mínimo defeito seja notado – como no caso da Poorfag em Madoka Magica].

Quanto à trilha e músicas em geral – incluindo as de abertura e encerramento – não há muito o que comentar sobre o apenas eficiente trabalho de Yoshihiro Ike [Blood: The Last Vampire; Freedom]; apesar de que o trabalho do Unison Square Garden na primeira abertura foi efetivo para dar o clima da série [mesmo sabendo que a música não foi feita exclusivamente para o anime].

DAI NIPPON!, como diria Origami Cyclone - via Animate e outros

Conclusão

TIGER&BUNNY está longe de ser um show perfeito, mas consegue oferecer um anime fresco, com elementos interessantes criativamente explorados em uma obra que soa nova e original – desde o moderno conceito de algo metalinguístico de heróis patrocinados por empresas reais que atuam em um reality show, até um protagonista totalmente diferente do padrão atual [que faz um Ouma Shu [Guilty Crown] ser uma escolha óbvia para agradar o público – e isto também está funcionando]; claro que criar nas graças das fujoshi – afinal, temos aqui o oyaji moe presente – também ajuda.

Mas se há algum aspecto que faz o anime sair da vala do bom e acima da média para tornar-se esta experiência inesquecível para muitos é sem dúvida o elenco de personagens bem-construído e imensamente carismático. Como destacado em todo um parágrafo acima, estes personagens, presentes em uma obra que dá todo o suporte para eles brilharem, realmente devem ser lembrados por muito tempo pelo público e assim ser o grande legado de T&B para a indústria de anime.

HEROES.

P.S.: Saiu a notícia de que estão em produção dois filmes de TIGER&BUNNY – aparentemente contendo apenas material inédito; sem dúvida uma boa notícia – e esperada desde o término da exibição em TV – que mostra principalmente que o filme deve focar sua história nos dois heróis que dão título à obra.

As fujoshis AMAM esse tipo de coisa, NÉ?

Em um ano dominado pela sombra de Mahou Shoujo Madoka […]

8 thoughts on “TIGER & BUNNY”

  1. A Sunrise fez parecer tão fácil algo que os estúdios (e autores) parecem já ter desistido (ou ter preguiça) de fazer, que é criar personagens com quem realmente nos importamos. É só ver a chuva de personagens iguais nos vários animes a cada temporada.

    E poxa, até a equipe de produção do anime shippa Tiger/Bunny. ):

  2. amigo, estava lendo e adorando seu review, ate a parte em que voce disse que wild tiger era mais carismatico do que okabe rintarou.

    parei de ler ali, e nem vou continuar lendo, depois de ler tal baboseira, so me resta fechar o seu site e nao voltar aqui nunca mais

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