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Analisando: K-ON! O Filme

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Quase um ano se passou, mas felizmente nós, ocidentais, tivemos acesso ao filme de K-ON!. Lembro de ter lido a notícia do anúncio do filme e posteriormente ter assistido ao blu-ray do show ao vivo das dubladoras em que tal anúncio foi feito… tudo isso fazendo o hype crescer pois, afinal de contas, eu havia me tornado um fã da série.

Com a chegada do blu-ray do filme em terras nipônicas, o filme chega a nós também e eu pude conferir em alta-definição, numa grande TV, sentado numa confortável poltrona, o “retorno” das membros do clube de música leve.

Para descartar logo comentários sobre a parte técnica, se a série já era muito bem feita, o filme levou isso a um nível ainda melhor. A animação está extremamente fluida, cenários belíssimos e uso inteligente de CG. Precisa de mais alguma coisa no quesito técnico? Não, né? Então avançando…

No filme, as meninas estão prestes a se formar e querem fazer algo de diferente nos seus últimos dias na escola. Decidem então embarcar numa viagem de formatura para Londres, o berço de grandes músicos. Ao mesmo tempo, as quatro veteranas quebram a cabeça para criar uma música de presente para Azusa, sua caloura que ainda ficará um ano na escola, longe delas. Claro que com elas, nada pode sair de maneira fácil. Nem a viagem, nem o presente.

A primeira coisa que me chamou a atenção no filme não foi algo bom. Na verdade, foi algo que me deixou um tanto apreensivo no começo… o filme demorou pra engrenar. Demorou bastante até. Se você assistiu ao trailer ou leu alguma sinopse, sabe que o foco do filme seria a viagem para Londres… mas até elas decidirem ir, passaram-se cerca de 20 minutos e até elas irem de fato se foram já quase 40 minutos. Quase metade do filme (de um total de 110 minutos aproximadamente excluindo créditos finais) se passa sem chegarmos no plot central. Tudo isso para a parte de Londres durar só mais 40 minutos e ainda termos 20 minutos para se resolver o plot da Azusa e dos últimos dias na escola.

Essa é minha crítica negativa ao filme. Parece que os produtores e diretores esqueceram que migraram para uma mídia diferente e trataram do filme como um grande episodiozão da série, o que ele não é. Por causa disso, a distribuição de tempo ficou um tanto quanto problemática. Mas ao mesmo tempo nós temos um exagero na ambientação do espectador que parece que o filme tentou agradar também a quem não viu a série. E essa indecisão de ser um filme pra quem viu a série ou ser um filme por si só deixa toda a organização um tanto confusa.

Mas tudo bem. Como eu disse no meu post sobre o porquê deu gostar de K-ON!, o foco da série é no feeling, na sensação de ligação que o espectador tem com as personagens e isso, sem dúvida ainda está presente nesse filme. Temos situações de comédia intercaladas com situações corriqueiras do dia-a-dia como foi com a série, fortalecendo assim os “laços” com o espectador.

Falando nas personagens, eu gostei bastante da forma como elas foram introduzidas numa situação fora do lugar comum, tendo que “sobreviver” num país estrangeiro e as situações cômicas em que isso resulta, como elas serem confundidas com uma banda convidada na abertura de um restaurante japonês.

Pegando o gancho daí, vale reparar também no choque cultural pelo qual elas passam. É engraçado ver, por exemplo, que a maioria delas nunca foi a um restaurante de sushi e que aproveitam a ida a Londres para entrar em um (mesmo que saiam de lá sem nada no estômago). Para muitos ocidentais, sushi é prato corriqueiro para os japoneses, o que não é bem verdade.

E falando na parte cultural, eu achei muito bem feita a reprodução de Londres. Seja no character design diferente para os ocidentais, seja nos veículos, seja no cenário… ficou tudo muito bem feito. Achei legal também o fato das personagens terem que falar inglês em vários momentos. Fico irritado quando em animes as pessoas viajam pra fora e continuam falando japonês normalmente.

Sendo bem sincero com vocês, se não viram a série, não percam tempo vendo o filme, não terá tanta graça. E se não gostaram da série, não vejam mesmo o filme. Mas se você gostou da série, assim como eu, assistam e curtam o momento. Dificilmente teremos algo novo de K-ON tão cedo, se é que teremos um dia.

[nggallery id=6] Quase um ano se passou, mas felizmente nós, […]

Outrage – Violência e Traição na Yakuza

Takeshi Kitano é conhecido por seus filmes sobre a yakuza, porém, ele ficou dez anos sem retormar essa temática até que chegamos a Outrage. Um filme cru, sem muito romantismo, que nos mostra uma corrente de traições em uma das instituições do crime mais respeitadas do mundo.

A História

Durante o tempo que passou na prisão, o chefe Ikemoto fez um pacto de irmandade com um chefe de fora de seu clã, Murase. Sendo avisado pelo seu oyabun (chefe do clã a que pertence) de que esse pacto não estava sendo visto com bons olhos, ele ordena a um de seus subordinados, Otomo, que “dê um trato” em Murase. Apesar de saber que se tratava de uma traição, respeitou as ordens de seu chefe e fez o trabalho. Porém, essa ação desencadeou uma reação em cadeia que revelou não só Ikemono, mas boa parte de seu clã tinha “culpa no cartório”. Otomo agora tenta sobreviver no jogo como um peão da velha guarda cujos costumes não mais interessam a quem quer o poder da organização.

Comentando…

Eu escolhi esse filme por dois motivos claros: 1 – Eu sempre me interessei por filmes sobre mafia (qualquer que sejam) e 2 – porque tava de fácil acesso lá no Netflix. Conhecia o diretor apenas de nome e não sabia nada sobre esse filme. Em uma pesquisada rápida, vi que não se tratava de uma bosta, então fui em frente.

O filme é recheado de boas atuações, cenas dramáticas, cenas de violência e muito conteúdo que, para as pessoas que não estão acostumadas com os rituais e estruturas da Yakuza pode ficar um tanto confuso no começo.

É difícil acompanhar tantos nomes, cargos, quem é subordinado de quem, etc. Eu mesmo só consegui identificar quem seria o personagem principal já com alguns bons minutos rodados. E mesmo assim eu pude perceber que o filme não tem bem um personagem principal, existe um núcleo principal onde as coisas acontecem. Mas obviamente que a maioria das coisas acontece em torno de Otomo, então vamos deixar ele como o principal.

Como eu disse na introdução, esse filme é cru. Não tenta romantizar a Yakuza e apesar de mostrar-nos as grandes casas, belos carros, finos ternos, etc, também nos mostra a realidade dos ternos amassados, da violência, dos “escritórios” improvisados, etc.

Outro destaque, é que esse não é um filme de época. Tudo se passa nos tempos atuais e isso nos mostra como a yakuza é ainda uma realidade muito presente no Japão moderno. A cena em que um yakuza está sentado numa barraquinha de comida na rua e a cada visitante que chega ele vai falando que tá fechado só porque ele tá lá e não quer ninguém do lado dele exemplifica bem isso. O dono da barraquinha não tem poder nenhum ali.

Tecnicamente falando…

Outrage tem uma estética que oscila entre o cult e o maisntream. Não há grandes efeitos especiais, mas há um certo senso de grandeza no que é mostrado. A cena inicial do filme com a reunião dos chefões é um exemplo disso. Apesar da falta de falas e de toda a narrativa visual, existem muitas pessoas em cena, num cenário grandioso, com carros, figurinos, cenografia, etc.

A direção e edição de Takeshi Kitano pode ser um pouco confusa de se absorver no começo. Não segue bem as tradições do cinema a que estamos acostumados, principalmente ao fato de não dedicar tempo explicando o que se passa na tela. As coisas acontecem e cabe ao espectador assimilá-las.

Para fechar…

Esse filme é altamente recomendado. Principalmente se você se interessa por esse mundo do crime organizado japonês. É um retrato não romantizado e um tanto destrutivo da organização que representa um significativo aspecto da cultura japonesa. Não é um filme bonito. Os atores não são bonitos. As cenas não são bonitinhas. Mas é um filmaço. Não chega a ser o Poderoso Chefão da yakuza, mas vale a assistida.

Takeshi Kitano é conhecido por seus filmes sobre a yakuza, […]

Sword of the Stranger (Sutorenjia: Mukou hadan, 2007) – Não me empolgava assim com um filme há muito tempo!

Como eu fico feliz após assistir a um bom filme. E para ser um bom filme, você não precisa ser extremamente profundo, psicológico… basta você cumprir com competência o que se propõe. Eu escolhi Sword of the Stranger para esse Anikenkai Movie Week pois sou fã de obras sobre o Japão antigo e não é de hoje que escuto bons comentários sobre esse anime do estúdio BONES que, curiosamente, é dirigido por Ando Masahiro, o mesmo diretor de Hanasaku Iroha, anime que agradou e desagradou muita gente.

A História

Kotaro é um pequeno garoto que vive em um templo abandonado com seu cachorro, Tobimaru. Um dia, eles são surpreendidos por um homem cochilando em seu templo. Sem tempo para apresentações, um grupo de samurais e espadachins chineses aparecem no lugar e o misterioso homem acaba salvando a vida do garoto. Acontece que Kotaro está sendo perseguido por soldados chineses a mando do imperador da dinastia Ming por um motivo misterioso. Temendo por sua vida e com seu cachorro envenenado por um dardo inimigo, o garoto decide “contratar” o homem para protegê-lo, oferecendo o que seria uma pedra preciosa. Eles precisavam chegar até a cidade para comprar remédios para Tobimaru e depois partiriam para um templo onde Kotaro estaria seguro. O homem, que passou a ser chamado de Nanashi (“sem nome”, em japonês), aceita a oferta e levará Kotaro a seu destino. Mas os chineses precisam urgentemente do garoto, o seu tempo está terminando e eles não querem ter que ficar no Japão para mais uma temporada de espera para voltar. Mas ao mesmo tempo, alguns samurais não estão muito contentes de seu senhor estar fazendo acordos com os chineses e deixando eles construírem um forte em seu território.

Comentários Preliminares

Como eu disse logo no começo, Sword of the Stranger não é um filme profundo. Na verdade, chego a dizer que se você costuma assistir filmes (sejam animados ou não) sobre esse período da história japonesa, você com certeza já se deparou com elementos dessa história em outros filmes de samurai. Porém, eu respeito quem consegue pegar algo comum e transformar em uma obra extremamente divertida de se assistir. Em momento nenhum a história faz você aproveitar menos o filme. Eu diria até que conseguiram deixar a história simples, mas competente e principalmente, convincente e plausível. Não há aqueles claros artifícios roteiristicos para dar emoção artificial à história.

Os personagens são bem caracterizados. A chatice infantil de uma criança que teve que sobreviver sozinha no mundo, no caso, Kotaro; o ronin que abandonou a vida de Samurai por algum motivo misterioso em seu passado e hoje decidiu nunca mais desembainhar sua espada, Nanashi; o samurai que aspira crescer cada vez mais em sua vida e está descontente com os acordos de seu senhor com os chineses, Shogen; o bárbaro ocidental que se juntou ao exército chinês unicamente em busca de um bom adversário, Luo-Lang; o líder do grupo chinês que coloca os desejos do imperador sempre em primeiro lugar, mas que acaba tendo pensamentos maliciosos para favorecer a si mesmo, Bai-Luan… São esses e outros personagens que seguram a trama e a deixam interessante do inicio ao fim, relação entre eles e suas motivações funcionam bem.

E não tem como não associar Nanashi à Kenshin Himura (o personagem principal do anime Samurai X). Talvez isso tenha me feito gostar ainda mais do filme, trouxe uma sensação de “hum… já estive navegando por essas bandas… legal voltar”.

As Lutas e a Direção de Arte

Esse filme pode não ser uma obra-prima no que se diz a história, mas sem dúvida nenhuma, sua qualidade técnica é acima do normal. Em filmes nós normalmente temos um orçamento maior a disposição dos animadores, por isso é comum recebermos um produto final tecnicamente bom, porém, Sword of the Stranger tem um algo a mais.

Para começar, tem a questão do character design. Nesse filme nós temos vários personagens relevantes para a trama. Uns mais, outros menos, mas é impressionante como que a equipe de produção tomou cuidado em tratar cada um como um indivíduo único. Não só na aparência, mas também na maneira como ele se movimenta, como ele luta, com que arma luta… um trabalho primoroso que não é comum vermos por aí. Até as armas recebem um cuidado especial.

Mas se tivermos que destacar algo em meio a esse já excelente aspecto técnico, seriam as lutas. Há muito, mas MUITO tempo eu não via lutas tão bem animadas e, principalmente, coreografadas! Excelente, excelente mesmo! Você pode ver que os animadores tiveram um enorme cuidado em representar o estilo de luta de cada um e uni-los de maneira grandiosa em cada uma das lutas. Não temos aquelas lutas em que a câmera fica chacoalhando o tempo todo, vários feixes de luz e linhas de ação pra lé e pra cá e nada dos personagens. Aqui conseguimos acompanhar todos os movimentos e seus resultados como se fosse num filme de carne e osso. Belíssimo! Essa competente direção de arte torna cada luta única e faz o espectador vibrar a cada espadada!

Ah, e os cortes… caramba, os cortes. Os caras não tinham um corte padrão do tipo, espadada aqui -> sangue voa pra lá… nada disso. Aqui o cara corta, perfura, acerta a cabeça, um braço, o tornozelo, a coxa… é tudo muito nítido e real. Trabalho de mestre e recebe aqui meu verdadeiro apreço.

Considerações Finais

Sword of the Stranger foi, sem dúvida, um dos animes de ação que mais me divertiu! Foi prazer imenso assisti-lo do começo ao fim. Não teve nenhum momento em que a peteca caiu. O filme não fica chato. Até na hora em que o garoto tá cuidando do cachorro logo no começo do filme, nós temos coisas acontecendo que prendem nossa atenção e fazem a gente ficar ansioso pelo que está por vir.

Claro que recomendo o filme para todos, especialmente para quem gosta de histórias do gênero! Divertido do começo ao fim!

Como eu fico feliz após assistir a um bom filme. […]

Os Últimos Dias da Terra (Sekai saigo no hibi, 2011) – E tinha que ser um filme bizarro.

Eu estava navegando através da biblioteca de filmes japoneses do Netflix americano e parei nesse, Os Últimos Dias da Terra. Um dos motivos para isso foi o ano de produção. Um filme recente, de 2011… seria uma boa falar sobre. Outro motivo foi a ambientação. Um filme que trata do apocalipse iminente cria uma atmosfera propícia para um desenvolvimento estapafúrdio e personagens tomando decisões complexas baseando-se nesse desfecho inevitável. O resultado de tudo isso, você confere a seguir…

A História

Kanou está no último ano de sua vida escolar e está completamente entediado de tudo e de todos. O mote de sua vida é estudar bastante, entrar numa boa faculdade e não se tornar um homem como seu pai, uma pessoa com uma péssima formação acadêmica e desempregado. Um dia, durante uma de suas aulas, ele depois de tirar um cochilo acorda e vê um homenzinho em cima de sua mesa. O pequeno homem careca de meia-idade diz ser Deus e que um tal de “Ele” está na Terra e vai destruí-la em até dois anos. O pequenino então passa a missão à Kanou dizendo que ele tinha que derrotar “Ele”. Mas Kanou, simplesmente ignora a “missão” e decide mudar seu modo de viver. A partir de agora ele faria o que quisesse, como quisesse, quando quisesse, onde quisesse, com quem quisesse.

Comentando

Provavelmente vocês repararam que eu coloquei uma única foto nesse post. O motivo foi que essa foi a única foto que vi do filme antes de assisti-lo. É a foto do poster e passa justamente a ideia de que a ideia de curtir a vida adoidado realmente estará presente no filme. Mas eu achava que o personagem principal seria o digníssimo cidadão com orelhas de coelho na hidromassagem… não é. Viram o estudante com cara de que tá muito chapado a esquerda da foto? Ele é o nosso “herói”. Sim, o personagem principal, o cara que deveria estar curtindo a vida adoidado, está com cara olhando pra um monte de mulheres de biquíni e uma hidro.

Pois bem, me restava é ver o filme, mesmo com esse “probleminha”. Ainda poderia ser um bom filme. O começo nos dá a ideia de que a coisa vai engrenar, de que o filme pode ser bom, mas, infelizmente, o filme nunca “chega lá”.

O menino tem a visão do homenzinho e decide então surtar de vez. Sai de casa, dá uma porrada com um taco de baseball na cabeça de um valentão da escola, sequestra a garota que ele estava apaixonado faz tempo, rouba um carro e sai pela estrada. A primeira parada, loja de conveniência. O motivo? Comprar camisinha. Sim… o cara quer estuprar a menina que ele sequestrou… mas de alguma forma, ela o convenceu a usar uma camisinha. Tá… tudo bem… o cara é um virgem e não quer terminar sua vida assim… é… compreensível esse “desejo”.

Mas a coisa não para por aí. Eles tem que arranjar um lugar. Ele então para o carro na casa de uma mulher cega, que lhes convida a entrar. Lá ele decide que será o lugar. Só que por ser virgem, ele não sabe como colocar a camisinha, não sabe fazer sexo, a menina ri dele, ele fica mais doido, vai até a geladeira pega um pote de maionese e… melhor parar por aqui. Sim, queridos leitores… maionese.

E você achava que esse o “arco do sexo” tinha terminado? Claro que não. Ele ainda faz sexo com a mulher cega, a menina vê e acaba se juntando ao ménage.

Toda essa jornada do ex-virgem até agora dura metade do filme e termina basicamente com a menina começando a desenvolver sintomas de Síndrome de Estocolmo e morrendo logo em seguida… DO NADA! O moleque a abandona num banco de ponto de ônibus e “segue viagem”.

O arco que se segue não deixa a desejar em bizarrice ao primeiro. Mas sendo bem sincero… se você, até esse momento do texto, ainda está com vontade de ver esse filme, eu vou te dar a oportunidade de saber o que acontece a partir daqui por você mesmo.

Comentários Adicionais

Tecnicamente o filme é bem raso. Pouca trilha sonora e bem poucos efeitos sonoros. As armas disparadas não tem nenhum amplificador de som para dar mais impacto às cenas. É como se alguém atirasse com uma arma de chumbinho.

A performance dos atores é tão exagerada e tosca que eu creio que tenha sido de forma intencional. O fato do personagem principal parecer estar chapado a todo momento até acrescenta à ambientação do filme. Nos poucos momentos em que ele sorri, é uma coisa tão desconfortavelmente estranha que você fica até receoso.

Esse filme lembra muito aqueles indie de baixo orçamento dos anos 90 nos EUA… filmes que não se preocupam muito em explicar as coisas, só mostrar elas acontecerem de uma maneira pouco lógica.

Por sinal, explicar é o que esse filme menos faz. Ele até joga a ideia de que o personagem principal pode ser louco (certeza), mas as reações das pessoas ao redor dele mostram que tudo aquilo parece ser mesmo é um sonho, outra ideia que é jogada durante o filme quando o personagem é baleado na mão e não sente dor.

Uma curiosidade é como eles sub-representam o poder de um taco de baseball. Tem gente levando pancada direto na cabeça dele, inclusive o principal, e só saindo um sanguezinho, nada de um crânio esmagado no meio, o que o aconteceria na vida real. Taí mais um motivo pra tudo aquilo ser um sonho.

Considerações Finais

É claro que eu não recomendo esse filme para ninguém, mas se você ficou curioso, vá lá e assista. Ele não é tão difícil de achar com legendas, já que, ao que parece, teve um release nos EUA no New York Asian Film Festival. Mas se prepare para um filme que passa a maior parte do tempo mostrando o personagem principal em situações absurdas, que são encaradas com muita naturalidade por todos, atuações (de repente propositalmente) toscas, não há qualquer explicação do que está acontecendo e muito menos um fim para tudo. Nada se fecha no filme. Assista por sua conta e risco. Depois não digam que eu não avisei que iriam perder uma hora e meia de suas vidas.

Que droga… eu só queria um bom road-movie com uma temática de apocalipse iminente. É tão difícil assim, Japão?

Eu estava navegando através da biblioteca de filmes japoneses do […]

Perfect Blue (Perfect Blue, 1997) – Nunca é demais falar de Satoshi Kon

— O que? Isso não é verdade! Eu não escrevi isso!
— Claro que não. A verdadeira Mima é que está escrevendo.

Satoshi Kon é um dos grandes diretores da história da animação japonesa. Sua pequena, porém excelente, filmografia é recheada de pequenos clássicos. Dentre eles, o primeiro filme de sua carreira como diretor, Perfect Blue, de 1997. A escolha por esse filme foi curiosa. Eu queria falar de alguma obra de Kon e pensei em pegar obras mais… obscuras… para comentar, mas esse filme ficava sempre na minha cabeça. Desde que comecei com o Anikenkai, um filme que gostaria de falar sobre era Perfect Blue. Queria dizer para os meus leitores o que eu acho, o que eu vi, o que eu senti vendo esse filme. Claro que milhares de outros sites/blogs já comentaram sobre esse filme. Por que ele merece. Mas ainda assim, eu gostaria de deixar registrado aqui meu ponto de vista sobre esses fantásticos 81 minutos de filme.

A História

Mima Kirigoe é uma idol que decide largar sua carreira na música para se tornar uma atriz. Sua carreira cresce em meio a cenas de sexo e ensaios eróticos. Seus antigos fãs desaprovam tais atividades, principalmente um stalker chamado Uchida. Traumatizada pela perseguição de seus fãs, inclusive através de uma página/diário na internet onde são postados acontecimentos detalhados do seu dia a dia, e a cena de estupro, Mima começa a ter diversas alucinações. Tudo piora ainda mais quando pessoas ao seu redor começam a ser brutalmente assassinadas.

Comentando

Eu acho esse filme incrível. Sem dúvida, um dos melhores que eu já assisti. A incerteza que permeia a cabeça do espectador ao acompanhar a história de Mami é muito bem desenvolvida. Você fica o filme inteiro se indagando o que é verdade e o que é mentira. Afinal, o filme é narrado pelo ponto de vista da própria Mami, que está sofrendo com severas alucinações. Não dá pra confiar em NADA que é mostrado. Mesmo após o final do filme você ainda fica pensando o que de fato ocorreu e o que era invenção da cabeça da personagem.

Outro ponto interessante é a imagem formada do fandom de idols no Japão. Pessoas obcecadas por essas jovens cantoras. Obcecadas ao ponto de moldarem a realidade em prol de sua obsessão. Faz a gente pensar sobre como algumas dessas meninas devem sofrer com a perseguição de doidos como o Uchida. Este, por sinal, caracterizado como um ser humano de aparência deplorável. Uma pessoa que gera completa repulsa.

Uma coisa que é dita no filme e que a mais pura verdade, é que a indústria de idols hoje é algo de nicho no Japão. Apesar delas serem bem populares, o grande lucro vem dos idol-otaku. São eles que compram infinitas copias de um single, são eles que estão ligados em todos os programas de TV, compram todos os DVDs, etc. Por causa dessa devoção, esse idol-otaku se sente dono do seu objeto de admiração. Essa questão é posta bem em evidência durante o filme.

Durante toda a história, eu fiquei tentando fazer conexões e correlações para tentar amarrar toda a história antes dela acabar. Normalmente eu consigo fazer tal coisa, mas em Perfect Blue, confesso, o final foi uma surpresa. O fato deu até hoje não conseguir saber o que de fato aconteceu e o que não aconteceu, colaboram para essa sensação de surpresa. Não há como negar a bela forma como esse filme foi conduzido pelo diretor.

Considerações Finais

Eu tive que me segurar nesse post. Ao mesmo tempo que eu queria falar sobre todos os aspectos presentes nessa obra, eu me seguirei. Fiz isso pois acredito ainda que muitos de vocês que estão lendo esse texto agora nunca viram esse filme. Espero que eu tenha conseguido o meu objetivo de fazer vocês enxergarem de que se não viram ainda, tratem de arranjar um jeito de ver! Eu acho exagero quando as pessoas dizem que algo é essencial para qualquer fã de animação japonesa, mas olha, no caso de Perfect Blue, isso se aplica bastante.

Deixo aqui um post pequeno, se comparado ao meu desejo de escrever (nem na parte da história eu quis detalhar muito), mas que passa bem o que eu senti ao assisti-lo e o por quê eu acho que vocês devem assisti-lo.

Se quiser mais informações sobre o filme, recomendo FORTEMENTE o texto da minha querida colega @beta_blood no Elfen Lied Brasil: Perfect Blue: Um eletrizante thriller psicológico!

— O que? Isso não é verdade! Eu não escrevi […]

O Grande Mestre (Ip Man, 2008) – Um herói romantizado na 2ª guerra sino-japonesa.

— Qual o seu nome?
— Eu sou só um homem chinês.

Se você já se deparou com esse filme em algum lugar, sabe que ele é uma produção chinesa. Então o que cargas d’água ele tá fazendo no Anikenkai Movie Week onde deveríamos falar só de filmes japoneses? A resposta é simples: porque ele é muito bom… e porque o Japão está envolvido.

A História

A cidade de Foshan, nos anos 30, era bem conhecida na China por ser um antro de excelentes escolas de kung fu. Nessa cidade vivia Ip Man, um esplendido artista marcial, mas que nunca havia aberto uma escola para ensinar seus conhecimentos. Alguns poucos tinham a oportunidade de lutar com ele e aprender com suas derrotas. Um dia, um grupo de baderneiros resolve entrar na cidade desafiando a todos os mestres. Ip Man acaba se envolvendo e após derrotá-los e expulsá-los da cidade, vira um herói local. O tempo passa e já no final da década, o Japão invade a China, dando início à 2ª Guerra Sino-Japonesa. Os danos à sociedade civil foram imensos. Ip Man e tantos outros foi forçado a viver em casebres e a sobreviver com a pouca comida que sobrou depois dos confiscos japoneses. Acontece então que em um campo de mineração de carvão onde Ip Man trabalhava, um grupo de militares japoneses está recrutando artistas marciais chineses dispostos a treinarem com os japoneses. Quem ganhasse a luta, levaria um saco de arroz para casa. A principio, Ip Man não se manifesta, mas após saber da morte de um conhecido seu por lá, ele decide ir atrás de informações. Sua incrível habilidade atrai a atenção de um importante general do exército japonês.

Comentários Preliminares

Quando pensamos em filmes realmente bons de artes marciais, nos remetemos aos tempos em que Bruce Lee brilhava nas telas de cinema. Parece que com o aumento da qualidade técnica das produções, os atores não mais precisavam se esforçar para fazer um bom filme. O Grande Mestre (e outros tantos, para não ser injusto) foge a essa regra e nos traz um filme de excelente roteiro e que conta com coreografias de luta muito bem executadas. Fiquei feliz pois não é muito comum de vermos filmes sobre a 2ª Guerra Mundial focados nas guerras do oriente e, muito menos, sendo narradas de tão perto da sociedade da época. O filme nos mostra como, mesmo em uma era de armas de fogo, bombas, aviões, etc, a China ainda valorizava, e muito, sua tradição marcial e seus mestres e como estes eram importantes e influentes membros da sociedade.

Contexto Histórico

A 2ª Guerra Sino-Japonesa é conhecida por ter sido extremamente violenta da parte dos invasores, no caso, os japoneses. Até hoje temos reverberações dessas atrocidades em ambos os países. A sociedade civil foi a que mais sofreu. Força exagerada por parte dos militares, estupros de mulheres, racionamento de comida…

A China do início do milênio enfrentava diversos conflitos internos. Após o recente fim do império, o poder republicano central não conseguia lidar com as diversas lideranças que surgiam por todo o país. E além de tudo isso, os comunistas começavam uma forte campanha contra o Kuomintang (partido nacionalista chinês). A fragilidade do Estado caiu como uma luva aos novos desejos expansionistas japoneses. O exército imperial de Hirohito não teve praticamente nenhuma resistência em sua investida ao país vizinho.

Como a ideia do Japão nunca foi tomar controle sobre a totalidade do exército chinês, ele começou a instalar centros de governo local em vários pontos da China.

O Filme

Em uma comparação um tanto esdruxula, mas aplicável, O Grande Mestre funciona mais ou menos como as obras do escritor Bernard Cornewell. Nelas, temos eventos e figuras históricas que são desconstruídas em favor de uma história. No filme, tanto Ip Man quando a 2ª Guerra Sino-Japonesa existiram, mas as coisas não aconteceram muito como são narradas.

Ip Man era sim, um excelente artista marcial, um dos melhores, e o responsável por popularizar o estilo Wing Chung de kung fu, porém, como exemplo, ele era um policial em Foshan e isso em momento nenhum é mostrado no filme. Pelo contrário, temos, inclusive, uma cena de confronto com um policial que aponta uma arma para ele.

Podemos dizer que o filme se baseia na vida do Ip Man real para criar seu próprio Ip Man. Se o filme fosse um documentário, eu ficaria irritado com essas inveracidades históricas, mas como o objetivo do filme é entreter e não documentar, elas se fazem bem aplicáveis frente a uma melhor dramatização dos fatos. A história de Ip Man, no filme, é um exemplo de jornada do herói, mas ainda assim, um herói que já é herói, se tornando mais herói ainda. Tudo isso em uma ambientação muito bem desenvolvida, com coreografias de luta muito bem executadas e com um roteiro bem amarrado.

Considerações Finais

O Grande Mestre nos trás uma ambientação histórica inusitada de um ângulo ainda mais inusitado. A romantização de um personagem histórico da china só se faz acrescentar à qualidade final do filme. Temos uma história empolgante e um personagem que cativa por sua simplicidade. Filme, sem dúvida, recomendado. Não ache que vai ter uma aula de história ao assistir, mas um entretenimento de primeira. Ainda assim, apesar de tudo, dá pra pescar muito bem a ganância e o egocentrismo japonês dessa época. A ideia de que eles eram superiores a tudo e a todos.

Ah… e eu já ia me esquecento. Ip Man foi mestre de Bruce Lee na vida real.

— Qual o seu nome? — Eu sou só um […]

“5 centímetros por segundo” (Byousoku 5 senchimeetoru, 2007)

— Eles dizem que é cinco centímetros por segundo.
— Do que você está falando?
— A velocidade com que uma flor de cerejeira cai… cinco centímetros por segundo. 

Tomei primeiro contato com o diretor Makoto Shinkai com o OVA The voices of a distant star (Hoshi no Koe, 2002) e logo virei fã de seu estilo. Na época, tinha acabado de sair o blu-ray de 5 centímetros por segundo, 2º filme escolhido para esse Anikenkai Movie Week. Obviamente tratei logo de assistir. Meu primeiro longa do diretor. Estava empolgado.

A História

5 centimetros por segundo conta, em três partes, acontecimentos da vida de Toono Takaki. Na primeira parte, Oukashou (Flor de Cerejeira, em japonês), Takaki, então com 13 anos, está indo visitar sua amiga, Shinohara Akari, que se mudou no ano anterior, para avisar que ele é quem estaria se mudando agora, para uma cidade bem longe. Descobrimos que além de muito amigos, eles sentem algo a mais um pelo outro. Ao se despedirem, o voto de nunca se esquecerem um do outro é feito. Na segunda parte, Kosumonauto (Cosmonauta, em japonês), Takaki agora já está com uns 18 anos e há muito adaptado à nova escola. Acompanhamos então a jornada de Sumida Kanae, uma colega de classe que está apaixonada por ele, rumo à arranjar forças para se confessar. Acaba que ela percebe que Takagi não está interessado nela… ele está sempre “olhando para algo além dela” e, mesmo ainda apaixonada, decide não se confessar. Na terceira e última parte, Byousoku 5 senchimeetoru (5 centímetros por segundo, em japonês), Takaki, já um adulto formado, programador em Tóquio, ainda luta contra sua busca por Akari. Sua vida já foi muito prejudicada por isso, ele já largou outras meninas, está frustrado em seu trabalho. Acaba que em um relance na rua, ele passa por Akari ao atravessar os trilhos de um trem que está quase a passar. Ao se virar para ver se era realmente ela, o trem passa e mesmo ele tendo esperado, Akari seguiu em frente.

A Simplicidade

Esse filme tem praticamente três personagens: Takaki, Akari e Kanae. Sua trama segue uma linha cronológica simples. Sua narrativa é aparentemente muito direta. Os, já poucos, personagens não são tão desenvolvidos quanto estamos acostumados para filmes do gênero. Durante os 60min de filme, o espectador acompanha o personagem principal) sem muito se questionar. Esse próprio tempo de duração é mais um aspecto da simplicidade de 5 centímetros por segundo.

Porém, não se engane. Essa aparente simplicidade faz parte de todo o sentido metafórico que o autor quer nos passar.

A Complexidade

É engraçado pois você só começa a pensar sobre o que viu algum tempo depois dos créditos finais subirem. Parece que Makoto Shinkai consegue brincar diretamente com a nossa cabeça. A aparente simplicidade aumenta a ideia de efemeridade da vida. Tudo é passageiro… e avida é curta.

Takaki serve como avatar para muitas pessoas que passam pelas mesmas coisas que ele passou: incerteza do futuro, amor, despedida, sofrer pelo outro…

Akari serve como avatar para o desejo que muitos de nós buscamos, muitas vezes inconscientemente ou de forma obcecada, mas que na maioria das vezes é praticamente inalcançável.

Kanae serve como avatar para as oportunidades que perdemos em nossa vida por estarmos cegos perseguindo um objetivo morto que, muito provavelmente, não nos fará tão felizes como nós achamos que nos fará.

Não sei se você já se apaixonou por uma pessoa e achou que ela era tudo em sua vida. Achou que vocês foram feitos um para o outro e que permaneceriam juntos por toda a eternidade. Mas esse tipo de paixão é algo perigoso. Ela cega. Deixa você iludido de que a pessoa é perfeita e que a relação de vocês é algo que foi planejado pelo destino. Quando finalmente vocês ficam juntos, quando o objetivo é alcançado, você pode acabar percebendo que ela não é tão boa assim, que você não era tão apaixonado assim por ela. Você era apaixonado pela ideia que você tinha dela em sua cabeça não por ela mesmo. Quantas oportunidades você deixou passar por causa disso? No filme sabemos que Takaki perdeu duas, mas deve ter perdido muitas outras.

E é engraçado ver como o filme deixa claro que Takaki fez a escolha errada. A metáfora dele esperando o trem passar para reencontrar com Akari e quando o trem passa ela não está mais lá pois ela seguiu em frente é certeira. Ela bota o dedo na ferida.

Akari não nega sua paixão por Takaki, mas a coloca como algo do passado, como algo utópico, que na vida real não pode mais acontecer. Ela guarda só as partes boas em sua memória e se sente feliz por isso. Enquanto que Takaki, ao ruminar aquilo por tanto tempo, acaba por se tornar amargo, torna sua vida amarga. Duas metades de uma paixão inocente que a desenvolveram de maneiras tão distintas.

Comentários Finais

Toda essa bagagem é ainda mais engrandecida pela preciosidade técnica da produção. Destaque, visualmente perceptível, para os belíssimos cenários! Obra de arte atrás de obra de arte. Um estilo visual a ser admirado durante toda a duração do filme. A animação também está muito bem feita. Ela não exige muito, mas nem por isso fica desleixada.

5 centímetros por segundo é um filme aparente simples, mas que esconde uma complexidade profunda e que trata de questões básicas do ser humano. É capaz de você assistir a esse filme e não captar nada do que eu acabei de falar aqui. Tive conhecidos que vieram a mim e disseram que esse filme não passava de mais um slice of life que vai do nada a lugar nenhum. Mas eu discordo. Recomendo que assistam essa obra de Makoto Shinkai, um dos diretores mais aclamados da nova geração no Japão. Comparado, ainda que exageradamente, mas ainda assim comparado, ao mestre Hayao Miyazaki.

— Eles dizem que é cinco centímetros por segundo. — […]

"5 centímetros por segundo" (Byousoku 5 senchimeetoru, 2007)

— Eles dizem que é cinco centímetros por segundo.
— Do que você está falando?
— A velocidade com que uma flor de cerejeira cai… cinco centímetros por segundo. 

Tomei primeiro contato com o diretor Makoto Shinkai com o OVA The voices of a distant star (Hoshi no Koe, 2002) e logo virei fã de seu estilo. Na época, tinha acabado de sair o blu-ray de 5 centímetros por segundo, 2º filme escolhido para esse Anikenkai Movie Week. Obviamente tratei logo de assistir. Meu primeiro longa do diretor. Estava empolgado.

A História

5 centimetros por segundo conta, em três partes, acontecimentos da vida de Toono Takaki. Na primeira parte, Oukashou (Flor de Cerejeira, em japonês), Takaki, então com 13 anos, está indo visitar sua amiga, Shinohara Akari, que se mudou no ano anterior, para avisar que ele é quem estaria se mudando agora, para uma cidade bem longe. Descobrimos que além de muito amigos, eles sentem algo a mais um pelo outro. Ao se despedirem, o voto de nunca se esquecerem um do outro é feito. Na segunda parte, Kosumonauto (Cosmonauta, em japonês), Takaki agora já está com uns 18 anos e há muito adaptado à nova escola. Acompanhamos então a jornada de Sumida Kanae, uma colega de classe que está apaixonada por ele, rumo à arranjar forças para se confessar. Acaba que ela percebe que Takagi não está interessado nela… ele está sempre “olhando para algo além dela” e, mesmo ainda apaixonada, decide não se confessar. Na terceira e última parte, Byousoku 5 senchimeetoru (5 centímetros por segundo, em japonês), Takaki, já um adulto formado, programador em Tóquio, ainda luta contra sua busca por Akari. Sua vida já foi muito prejudicada por isso, ele já largou outras meninas, está frustrado em seu trabalho. Acaba que em um relance na rua, ele passa por Akari ao atravessar os trilhos de um trem que está quase a passar. Ao se virar para ver se era realmente ela, o trem passa e mesmo ele tendo esperado, Akari seguiu em frente.

A Simplicidade

Esse filme tem praticamente três personagens: Takaki, Akari e Kanae. Sua trama segue uma linha cronológica simples. Sua narrativa é aparentemente muito direta. Os, já poucos, personagens não são tão desenvolvidos quanto estamos acostumados para filmes do gênero. Durante os 60min de filme, o espectador acompanha o personagem principal) sem muito se questionar. Esse próprio tempo de duração é mais um aspecto da simplicidade de 5 centímetros por segundo.

Porém, não se engane. Essa aparente simplicidade faz parte de todo o sentido metafórico que o autor quer nos passar.

A Complexidade

É engraçado pois você só começa a pensar sobre o que viu algum tempo depois dos créditos finais subirem. Parece que Makoto Shinkai consegue brincar diretamente com a nossa cabeça. A aparente simplicidade aumenta a ideia de efemeridade da vida. Tudo é passageiro… e avida é curta.

Takaki serve como avatar para muitas pessoas que passam pelas mesmas coisas que ele passou: incerteza do futuro, amor, despedida, sofrer pelo outro…

Akari serve como avatar para o desejo que muitos de nós buscamos, muitas vezes inconscientemente ou de forma obcecada, mas que na maioria das vezes é praticamente inalcançável.

Kanae serve como avatar para as oportunidades que perdemos em nossa vida por estarmos cegos perseguindo um objetivo morto que, muito provavelmente, não nos fará tão felizes como nós achamos que nos fará.

Não sei se você já se apaixonou por uma pessoa e achou que ela era tudo em sua vida. Achou que vocês foram feitos um para o outro e que permaneceriam juntos por toda a eternidade. Mas esse tipo de paixão é algo perigoso. Ela cega. Deixa você iludido de que a pessoa é perfeita e que a relação de vocês é algo que foi planejado pelo destino. Quando finalmente vocês ficam juntos, quando o objetivo é alcançado, você pode acabar percebendo que ela não é tão boa assim, que você não era tão apaixonado assim por ela. Você era apaixonado pela ideia que você tinha dela em sua cabeça não por ela mesmo. Quantas oportunidades você deixou passar por causa disso? No filme sabemos que Takaki perdeu duas, mas deve ter perdido muitas outras.

E é engraçado ver como o filme deixa claro que Takaki fez a escolha errada. A metáfora dele esperando o trem passar para reencontrar com Akari e quando o trem passa ela não está mais lá pois ela seguiu em frente é certeira. Ela bota o dedo na ferida.

Akari não nega sua paixão por Takaki, mas a coloca como algo do passado, como algo utópico, que na vida real não pode mais acontecer. Ela guarda só as partes boas em sua memória e se sente feliz por isso. Enquanto que Takaki, ao ruminar aquilo por tanto tempo, acaba por se tornar amargo, torna sua vida amarga. Duas metades de uma paixão inocente que a desenvolveram de maneiras tão distintas.

Comentários Finais

Toda essa bagagem é ainda mais engrandecida pela preciosidade técnica da produção. Destaque, visualmente perceptível, para os belíssimos cenários! Obra de arte atrás de obra de arte. Um estilo visual a ser admirado durante toda a duração do filme. A animação também está muito bem feita. Ela não exige muito, mas nem por isso fica desleixada.

5 centímetros por segundo é um filme aparente simples, mas que esconde uma complexidade profunda e que trata de questões básicas do ser humano. É capaz de você assistir a esse filme e não captar nada do que eu acabei de falar aqui. Tive conhecidos que vieram a mim e disseram que esse filme não passava de mais um slice of life que vai do nada a lugar nenhum. Mas eu discordo. Recomendo que assistam essa obra de Makoto Shinkai, um dos diretores mais aclamados da nova geração no Japão. Comparado, ainda que exageradamente, mas ainda assim comparado, ao mestre Hayao Miyazaki.

— Eles dizem que é cinco centímetros por segundo. — […]

“Dança Comigo?” (Shall we DANSU?, 1996) – Um filme para relaxar, mesmo frente a preconceitos da sociedade japonesa

“No Japão, dança de salão é vista com muita desconfiança. Num país onde marido e mulher não andam de braços dados, muito menos dizem “eu te amo” em voz alta (…) A ideia de que marido e mulher devem se abraçar e dançar na frente de outras pessoas é para lá de embaraçosa. Dançar com outra pessoa, então, seria mal interpretado e ainda mais vergonhoso. Ainda assim, mesmo sendo japoneses, existe uma admiração secreta pelos prazeres que a dança pode proporcionar.”

É com essas palavras que começa o filme Dança Comigo?, de 1996. Dos que estão lendo que já ouviram esse nome, muitos provavelmente o remetem ao remake americano, de 2004, com Richard Gere, porém, o filme que falarei hoje se trata de uma produção japonesa e que para muitos, inclusive para mim, é infinitamente superior. Porém, evitarei ficar fazendo comparações sem sentido, mas sim falarei do filme japonês que tive o prazer de assistir.

A História

Sohei Sugiyama é um bem-sucedido contador, porém, tendo alcançado o último desejo material de sua vida, comprar uma casa, ele olha pra trás e vê que teve uma vida extremamente sem graça e infeliz. Ao dedicar sua vida ao trabalho, não pôde aproveitar a vida em família e nem curtir sua própria vida pessoal. Quando ele está voltando para casa uma noite, da janela do trem avista um prédio onde uma bonita, porém triste, mulher olha para fora da janela. Nas noites seguintes ele volta a prestar atenção naquele mesmo ponto e percebe que lá funciona uma escola de dança. Com aquilo o deixando obcecado, ele decide ir até lá a fim de encontrar a tal mulher. Mai Kishikawa é o nome dela, professora no lugar. Encantado, Sugiyama começa em segredo suas aulas. A partir desse instante, ele terá que lidar com o preconceito da sociedade japonesa para com os que dançam, as suspeita de sua própria família e esse interesse por uma jovem professora mesmo estando casado e com uma filha.

Comentários Preliminares

Foi curioso eu ter decidido assistir a esse filme. A primeira vez que soube dele, foi, como muitos, quando o remake americano foi feito. Na época, lembro de minha mãe, fã de dança, ter falado que assistiu tanto o americano quanto o japonês e dizendo que o japonês era bem melhor. Então desde 2004-2005 até hoje eu fiquei com essa ideia na cabeça, mas nunca fui lá e assisti. Minto. Assisti ao americano na televisão em algum canal a cabo… não gostei. Muito provavelmente por causa disso eu não me interessei por ver a outra versão.

Até que semana passada, fuçando o catálogo do NETFLIX, me deparei com esse filme e me surpreendi ao ver que era a versão japonesa. A oportunidade perfeita para finalmente assisti-lo. Eu o fiz e não me arrependi.

Achava que seria um filme focado em dança e que todo mundo iria dançar e ser feliz e bla bla bla. Sendo sincero… achava que seria um filme raso e sem graça. Daquele tipo que você assiste, mas esquece logo em seguida. E, tendo em vista que estou aqui escrevendo esse post, não foi o caso com Dança Comigo?. O início do filme, falando sobre como o japonês enxerga a dança já enunciava que o clima desse seria sério e um tanto denso.

Os Conflitos

Logo somos apresentados ao conflito inicial, o de Sugiyama. Ele resolveu entrar nas aulas de dança por causa da moça. Pegou gosto e decidiu continuar não só por ela, mas por si mesmo. Ainda que ele tivesse que esconder sua nova atividade de seus colegas de trabalho e de sua família, já que isso seria visto como extremamente vergonhoso e inapropriado para um homem como ele.

No decorrer do filme, somos apresentados a outros conflitos que acrescentam à ideia central… como o do superior de Sugiyama no escritório, Tomio Aoki. Ele, na presença de seus subordinados, só parece um “chefe esquisito”. Mas há anos ele se dedica à dança latina e na pista incorpora um alter ego com personalidade e atitude extremamente oposta à que ele aparenta ter. Sua maior frustração é não conseguir se fixar com uma parceira de dança para as competições que quer tanto participar. Apesar de dançar muito bem, ele acaba assustando suas companheiras por acabar se interessando só por moças bem mais jovens do que ele. O que ocorre são frustrações atrás de frustrações.

Temos também o caso de Masahiro Tanaka, um colega de Sugiyama nas aulas de dança que, a principio tinha entrado nas aulas de dança por recomendações médicas, mas que acaba por revelar, em uma cena um tanto tensa, que está ali mais para ajudar na sua autoestima depois dele ter sido rejeitado de maneira muito dura pela última menina de quem ele gostou.

Ainda há o caso da própria Mai. Durante o início do filme ela é uma pessoa fria, triste e que não parece aproveitar nada de sua vida nem de sua profissão. No desenrolar da trama descobrimos coisas sobre seu passado que a fizeram parar de se divertir como a dança, mesmo sendo uma excelente dançarina.

Comentários Finais

Fica então aquela pergunta no ar: Vale a pena assistir Dança Comigo?. Minha resposta, como já deve ter dado para perceber, é que SIM, vale a pena. Temos em cena bons personagens em uma situação que foge do lugar comum e de sua zona de conforto e ainda tem que lidar com uma sociedade que condena tal prática, mesmo ela dando tanto prazer e satisfação. Mas ainda que traga a tona todos esses conflitos, a trama é desenvolvida de forma a poder se classificada como heartwarming, um filme que faz você relaxar e aproveitar o momento assistindo de forma tranquila.

É provável que vocês tenham estranhado a escolha desse filme para abrir a Anikenkai Movie Week, mas assim como gosto de slices of life nos animes, eu gosto de filmes que falam da vida… que falam de pessoas em situações corriqueiras e comuns. Espero que vocês gostem de Dança Comigo? como eu gostei.

Termino deixando um apanhado de trailers e teasers do filme:

httpvh://www.youtube.com/watch?v=RUA7BiMsf6c

“No Japão, dança de salão é vista com muita desconfiança. […]

"Dança Comigo?" (Shall we DANSU?, 1996) – Um filme para relaxar, mesmo frente a preconceitos da sociedade japonesa

“No Japão, dança de salão é vista com muita desconfiança. Num país onde marido e mulher não andam de braços dados, muito menos dizem “eu te amo” em voz alta (…) A ideia de que marido e mulher devem se abraçar e dançar na frente de outras pessoas é para lá de embaraçosa. Dançar com outra pessoa, então, seria mal interpretado e ainda mais vergonhoso. Ainda assim, mesmo sendo japoneses, existe uma admiração secreta pelos prazeres que a dança pode proporcionar.”

É com essas palavras que começa o filme Dança Comigo?, de 1996. Dos que estão lendo que já ouviram esse nome, muitos provavelmente o remetem ao remake americano, de 2004, com Richard Gere, porém, o filme que falarei hoje se trata de uma produção japonesa e que para muitos, inclusive para mim, é infinitamente superior. Porém, evitarei ficar fazendo comparações sem sentido, mas sim falarei do filme japonês que tive o prazer de assistir.

A História

Sohei Sugiyama é um bem-sucedido contador, porém, tendo alcançado o último desejo material de sua vida, comprar uma casa, ele olha pra trás e vê que teve uma vida extremamente sem graça e infeliz. Ao dedicar sua vida ao trabalho, não pôde aproveitar a vida em família e nem curtir sua própria vida pessoal. Quando ele está voltando para casa uma noite, da janela do trem avista um prédio onde uma bonita, porém triste, mulher olha para fora da janela. Nas noites seguintes ele volta a prestar atenção naquele mesmo ponto e percebe que lá funciona uma escola de dança. Com aquilo o deixando obcecado, ele decide ir até lá a fim de encontrar a tal mulher. Mai Kishikawa é o nome dela, professora no lugar. Encantado, Sugiyama começa em segredo suas aulas. A partir desse instante, ele terá que lidar com o preconceito da sociedade japonesa para com os que dançam, as suspeita de sua própria família e esse interesse por uma jovem professora mesmo estando casado e com uma filha.

Comentários Preliminares

Foi curioso eu ter decidido assistir a esse filme. A primeira vez que soube dele, foi, como muitos, quando o remake americano foi feito. Na época, lembro de minha mãe, fã de dança, ter falado que assistiu tanto o americano quanto o japonês e dizendo que o japonês era bem melhor. Então desde 2004-2005 até hoje eu fiquei com essa ideia na cabeça, mas nunca fui lá e assisti. Minto. Assisti ao americano na televisão em algum canal a cabo… não gostei. Muito provavelmente por causa disso eu não me interessei por ver a outra versão.

Até que semana passada, fuçando o catálogo do NETFLIX, me deparei com esse filme e me surpreendi ao ver que era a versão japonesa. A oportunidade perfeita para finalmente assisti-lo. Eu o fiz e não me arrependi.

Achava que seria um filme focado em dança e que todo mundo iria dançar e ser feliz e bla bla bla. Sendo sincero… achava que seria um filme raso e sem graça. Daquele tipo que você assiste, mas esquece logo em seguida. E, tendo em vista que estou aqui escrevendo esse post, não foi o caso com Dança Comigo?. O início do filme, falando sobre como o japonês enxerga a dança já enunciava que o clima desse seria sério e um tanto denso.

Os Conflitos

Logo somos apresentados ao conflito inicial, o de Sugiyama. Ele resolveu entrar nas aulas de dança por causa da moça. Pegou gosto e decidiu continuar não só por ela, mas por si mesmo. Ainda que ele tivesse que esconder sua nova atividade de seus colegas de trabalho e de sua família, já que isso seria visto como extremamente vergonhoso e inapropriado para um homem como ele.

No decorrer do filme, somos apresentados a outros conflitos que acrescentam à ideia central… como o do superior de Sugiyama no escritório, Tomio Aoki. Ele, na presença de seus subordinados, só parece um “chefe esquisito”. Mas há anos ele se dedica à dança latina e na pista incorpora um alter ego com personalidade e atitude extremamente oposta à que ele aparenta ter. Sua maior frustração é não conseguir se fixar com uma parceira de dança para as competições que quer tanto participar. Apesar de dançar muito bem, ele acaba assustando suas companheiras por acabar se interessando só por moças bem mais jovens do que ele. O que ocorre são frustrações atrás de frustrações.

Temos também o caso de Masahiro Tanaka, um colega de Sugiyama nas aulas de dança que, a principio tinha entrado nas aulas de dança por recomendações médicas, mas que acaba por revelar, em uma cena um tanto tensa, que está ali mais para ajudar na sua autoestima depois dele ter sido rejeitado de maneira muito dura pela última menina de quem ele gostou.

Ainda há o caso da própria Mai. Durante o início do filme ela é uma pessoa fria, triste e que não parece aproveitar nada de sua vida nem de sua profissão. No desenrolar da trama descobrimos coisas sobre seu passado que a fizeram parar de se divertir como a dança, mesmo sendo uma excelente dançarina.

Comentários Finais

Fica então aquela pergunta no ar: Vale a pena assistir Dança Comigo?. Minha resposta, como já deve ter dado para perceber, é que SIM, vale a pena. Temos em cena bons personagens em uma situação que foge do lugar comum e de sua zona de conforto e ainda tem que lidar com uma sociedade que condena tal prática, mesmo ela dando tanto prazer e satisfação. Mas ainda que traga a tona todos esses conflitos, a trama é desenvolvida de forma a poder se classificada como heartwarming, um filme que faz você relaxar e aproveitar o momento assistindo de forma tranquila.

É provável que vocês tenham estranhado a escolha desse filme para abrir a Anikenkai Movie Week, mas assim como gosto de slices of life nos animes, eu gosto de filmes que falam da vida… que falam de pessoas em situações corriqueiras e comuns. Espero que vocês gostem de Dança Comigo? como eu gostei.

Termino deixando um apanhado de trailers e teasers do filme:

httpvh://www.youtube.com/watch?v=RUA7BiMsf6c

“No Japão, dança de salão é vista com muita desconfiança. […]