Os clichês para novos e velhos fãs de anime

Eu já disse aqui no Anikenkai que não necessariamente os animes de antigamente eram melhores que o de hoje em dia, mas tenho reparado que a cada nova temporada o número de séries que me interessa diminui. Curioso…

Muitos animes parecidos, pegando onda no sucesso de outros, muitas adaptações de visual novel e jogos… enfim… mais do mesmo. Porém, existe uma parcela enorme dos fãs de animes e mangás que curte esse tipo de série e que fica empolgado para assistir 10, 20, 30 séries por temporada. Isso me fez pensar na maneira como novos fãs e velhos fãs se relacionam com os clichês em animes.

Para começar, o próprio conceito do que é e do que não é clichê é bem relativo. Envolve algo que se repete tanto que acaba perdendo sua originalidade, expectativa e ou surpresa. Porém, e se você nunca tiver visto esse algo antes, mesmo existindo inúmeras outras obras com esse mesmo algo? Imaginem que vocês nunca leram uma história de romance onde o protagonista se apaixona pela amiga de infância, ou um torneio num mangá de batalha, ou um episódio da praia num anime qualquer? Essas coisas deixam de ser clichê?

Olha… sim.

O que é clichê para uma pessoa pode ser bem original para outra, nem que por um breve momento. Digo mais: tudo que hoje é clichê para nós já foi original, em alguma época, para nós mesmos.
Nossa cabeça funciona da seguinte maneira: todos temos um repertório que construímos ao longo da vida. Para montá-lo, nosso cérebro pega tudo aquilo que ouvimos, vimos, lemos, produzimos, etc, e começa a criar conexões entre elas. Desse modo, quando você se depara com algo igual ou parecido ao que você já experimentou antes, seu cérebro já está “preparado” para recebe-lo.

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Quando começamos a ver animes, tudo é novo, tudo é interessante, tudo é diferente. Nosso cérebro fica doidinho atrás de novas sinapses, novas conexões, novos conteúdos. Daí, conforme vamos assistindo mais e mais animes, a quantidade de coisa que o nosso cérebro “já viu” fica bem maior do que quando começamos, o que, instintivamente, é menos interessante do que algo novo.

Ao mesmo tempo nós pegamos essas conexões e, em uma explicação bem simplória, vamos categorizando-as e ranqueando-as como coisas que gostamos e que não gostamos, de modo a estabelecermos nosso gosto pessoal. Curiosamente nós podemos também nos apegar a clichês e gostarmos deles a ponto de que, para nós, eles não são um problema, mas sim, muitas vezes, algo bom de se ter em uma obra.

Afinal, ficar só vendo coisa nova ad eternum é cansativo e praticamente impossível. Ainda bem que nos apegamos e/ou, pelo menos, relevamos clichês pois as vezes só queremos ver algo para relaxar, curtir e se divertir, fazendo proveito do que nosso cérebro já está preparado para receber. Não é preciso desconstruir conceitos e dar um nó no cérebro toda vez que vemos um anime ou lemos um mangá.

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Nós não usamos apenas nosso repertório para definir se gostamos ou não de uma obra, mas também para interpretá-la e assimilá-la. Nosso cérebro irá usar tudo que temos armazenados para poder assimilar aquele novo conteúdo. Por isso que algumas pessoas podem acabar vendo Madoka Magica como um simples anime de garotas mágicas enquanto outras veem muito mais profundidade e coisas no subtexto do que está sendo apresentado. Isso vai da cabeça de cada um, das experiências de cada um e da expectativa de cada um. Nosso cérebro é uma coisa verdadeiramente fascinante.

Para embolar ainda mais o meio de campo, nenhum de nós pode garantir que nosso gosto permanecerá o mesmo. Conforme o tempo vai passando e nós temos novas experiências, nosso repertório vai mudando e, muito possivelmente, nosso gosto também. É possível até que deixemos de gostar de animes! Olha que absurdo! Mas não se preocupem. Se isso acontecer mesmo, vai ser algo tão natural que vocês provavelmente não vão se importar muito.

Mas voltando à questão inicial desse post: clichês são percebidos e assimilados de maneiras diferentes por novos e velhos fãs e não há nada de errado quanto a isso. Quando ficamos mais velhos, não é que fiquemos mais chatos, nós simplesmente ficamos mais seletivos. E o pior é que isso é bem verdade pois nós temos uma bagagem muito maior do que uma pessoa mais nova. Isso vale para tudo, não só para animes e mangás.

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Claro que sempre vão existir aqueles que exageram para ambos os lados da balança: os fãs mais novos que querem assistir TUDO e passam o dia inteiro vendo animes (ok fazer isso de vez em quando, mas tem muita coisa boa por aí além de anime, pessoal) e os fãs velhos verdadeiramente chatos que ficam perdendo mais tempo falando que tudo hoje é uma porcaria e que nada mais o interessa ao invés de procurar por algo que lhe satisfaça.

Também existem as exceções. O próprio Starro, por exemplo, que alguns de vocês podem conhecer pelo Anikencast. Ele já é burro velho dessa indústria, já viu todo tipo de anime e, ainda assim assiste dezenas de séries por temporada, compra DVDs, BDs e o escambau.

Enfim, quero também saber a opinião de vocês quanto a esses assuntos. Sejam novos ou velhos fãs. Como vocês encaram clichês? Ainda não chegaram à fase em que eles incomodam? Já não aguentam mais ver episódio de praia? Digam aí o que acham nos comentários do post!

Sobre Diogo Prado

Tradutor, professor, host do Anikencast, apaixonado por quadrinhos, apreciador de jogos eletrônicos e precoce entendedor de animação japonesa.

Você pode me achar no twitter em @didcart.

Eu já disse aqui no Anikenkai que não necessariamente os […]

18 thoughts on “Os clichês para novos e velhos fãs de anime”

  1. Ha, eu sou desses que não se importam se algo é clichê ou não. O importante é que o anime/mangá em questão tenha capacidade de suprir os meus anseios. Assisto animes a mais de 25 anos e leio mangás a uns 20, e posso dizer que nunca li ou assisti tantos animes/mangás como hoje! Sempre vejo mais de 20 animes por temporada (principalmente animes Moe e Slice of Life! Meu amorzinho no momento é Kiniro Mosaic …) e estou acompanhando quase 40 mangás …

  2. Acho que o povo reclama de barriga cheia. Quer esperar a comida vir ao levantar a bunda do sofá e ir procurar algo diferente. E, no meu ponto de vista, clichês podem ser usados de maneiras diferentes, e por isso nem todo clichê é ruim.

    A magia de assistir um Naruto e vibrar a cada segundo se perde depois que nos tornamos críticos e velhos. Mais consumimos, mas filtramos. É uma coisa boa. E não é. Mas podemos simplesmente esquecer disso por meia hora e aproveitar o máximo que o anime tenha a oferecer.

  3. Alguns clichés quando bem utilizados ficam excelentes. Por exemplo o shock factor presente em madoka. As garotas ou mulheres (wtf?) moe acabaram tornando-se necessárias para um mercado que nós brasileiros não consumimos. Os mangás hentai inspirados nessas personagens, o que de vez em quando nos traz bons mangakas. O problema dos clichés é quando a obra abusa demais disso para fazer sucesso e acaba deixando de lado o potencial da história (como SAO). Enfim, assisto pelo menos 6 animes a cada temporada e da maioria gosto!

  4. Acho que virou moda falar mal dos animes atuais. Já vi amigos meus entrar em contradição dizendo que gostava de x anime, mas quando juntava uma turminha falando mal, falava tbm. E depois eu perguntava em particular, e ele dizia que gostava disso, mas não gostava daquilo e só se complicava. No geral, o clichê da sim pra ser bem utilizado, e hoje tem mais de 40 animes por temporada. Eu costumo assistir uns 5 a 10 por temporada, e dou graças a Deus que eu não gosto de todos, porque simplesmente eu não teria tempo de assistir tudo.

    1. Concordo! Muito melhor assistir algo muito bom que seja novo ( pela primeira vez) do que ter que assistir pela segunda, terceira vez um anime para assistir algo bom!

  5. Gosto de animes bons, sendo velhos ou novos. Clichês só chegaram a ser clichês, porque funcionam. Se forem bem executados e fizerem sentido dentro da obra não vejo por que não utilizar.

  6. adoro alguns tipos de clichê, aquela sensação q vem na mente, “e agora q ele vai fazer isso ou aquilo” e vem o personagem e faz e massa + sou macaco velho e só uns tipos d clichê mi agradão cada temporada vendo menos animes + ainda vendo um monte poste massa de mais adoro os poste do genkidama + os do xil e do anikenkai são os melhores (males mais e essa ordem mesma )

  7. Eu não chego a “cansar” dos animes até porque nunca tive essa fase de “ah, tudo antes era melhor” porque eu sempre enfiei na minha cabeça que tem coisa boa em todo lugar, só que agora tem que procurar de verdade e não esperar que caia do céu.
    E de que, segundo eu li numa entrevista uma vez, 90% de tudo na vida é lixo então eu sei que coisa boa demora pra aparecer.

    Por mais que eu tenha ficado “chata” e escolhido bem menos animes pra ver do que antigamente seja por gosto ou por questão de tempo… o que aconteceu que alguns tropes dos animes eu passei a evitar (como conteúdo ecchi e hárens), e fique mais crítica com o que assisto. Desisto fácil de séries que acho que não tem futuro e to sempre vendo o que o povo tá comentando que parece interessante ou não.

    Mudei a postura e acho irritante pra cacete esse mimimimi nostálgico que surge da ignorância de quem parou de ver anime nos anos 90.

  8. Tem clichês que você ama, e tem clichês que você não suporta mais. Por exemplo, gosto de histórias de troca de corpos e todos os clichês que vem junto, assim como viagem no tempo. São coisas que podem ser bem idiotas, mas eu sempre vou gostar mesmo assim.
    Mas romance com amigo de infância, já vi tanto, mais tanto que enchi o saco. É o tipo de história que tem que ser muito boa pra eu continuar.

    1. Neh, e todo anime com romance de amigo de infancia, 99% o amiga/amigo de infancia nunca fica com a protag kkk

    2. Histórias de voltar no tempo, nossa AMO! sempre lembro de Inuyasha ou até fushigi yuugi. Animes sensacionais, com romance e luta e muita coisa além!

  9. Eu realmente acho que os animes de antigamente são muito melhores que os atuais. Em relação aos animes Shoujo que são os meus preferidos e que eu tenho muita experiencia para falar, dificilmente sai algo muito bom, saí as vezes, os mais recentes que eu lembro, por exemplo são sukitte ii na yo, kimi ni todoke, kaichou wa maid-sama, ao haru ride, entre outros](que eu não lembro agr – não devem ser tão bons), e esses nem são tão recentes assim.
    Eu não me importo de que toda temporada saia um anime shoujo que seja colegial, com menino popular/bonito, com cenas na casa de praia ou excursão do colégio (MUITO CLICHÊ mas eu amo) desde que ele seja muito bom, que tenha uma historia de romance envolvente, com mais cenas de beijos e etc e além disso, UM BOM TRAÇO que é essencial para mim. Eu procuro, procuro e não acho nada! Esse tipo de anime está em falta, infelizmente! Se alguém souber de algo legal para me indicar agradeço! :*

  10. Não vejo os clichês como um problema. Quando eles são executados de modo que não atrapalhe o desenvolvimento da obra e dos personagens. Um clichê bem executado ou trabalhado, com uma abordagem diferente é até um charme a mais no Anime/ Mangá. Alguns clihês me cativam mais e outros menos, mas não detesto nenhum, por mais batido que ele seja para mim.

  11. Para mim o pensamento é simples. Tem muito obra boa e de qualidade existente, de várias mídias e de vários países, e a pergunta é porque insistir em assistir conteúdos repetitivos, quando eu poderia ver algo melhor e mais original e inteligente ? Se é para ficar acompanhando algo cliché, não é melhor que você veja um que esteja passando na Tv, invés de ter de procurar na internet algo cliché para ver ?

    Eu vejo uma série ou cartoon/anime na internet, por fugir do padrão, por não ser repetitivo, por me fazer pensar, refletir, criticar ou até mesmo ver algum contexto legal, e o que fica na cabeça é : com tanto coisa boa por aí, porque irei desejar ver mais do mesmo ? Porque terei de aguentar clichés insuportáveis para uma possibilidade de ter uma boa história ? Já pensou que o problema não é o cliché, mas sim o excesso do mesmo ?

    Não digo que os animes de antigamente eram melhores, porque até eu percebi que se encontrava ainda bastante animes ruins, mas sim que os costumes e gostos dos japoneses mudaram e não batem muito com os meus gostos. Antes não se forçava excessivamente clichés e fanservices na maioria dos animes, antes, as histórias mais sérias não precisavam todo episódio de um personagem de alivio cômico para quebrar todo o clima do anime, antes não se precisava colocar muito moe e kawaii nos animes… na verdade o problema foi mais pelas novas tendências dos animes, do que pela qualidade, e é como você falou, é questão de gosto. Afinal não é todo mundo que é disposto a aguentar clichés, fanservices e as tendências kawaii da nova geração, para assistir a um anime.

    Ah, e só para registrar, hoje antes de ver um anime, principalmente se for novo, eu vejo as criticas e vejo se tem presença de artifícios indesejados nos animes, para aí sim decidir se vou ver ou não, e acredite, acabam sendo raros os que passam no teste, então sim, a qualidade caiu… para o público mais exigente.

  12. Realmente, seu ponto de vista é interessante, mas realmente, (para mim) não importa se é clichê ou não, o que importa realmente, é o que eu gosto no anime/manga, também posso dizer, que clichê não é ruim, por que esperamos ansiosos, para que usem-nos como uma arma, para assim nos surpreender, usando-os de forma diferente, em situações diferentes e enredos, o que importa realmente, é que o anime/manga possa passar o sentimento do autor para os leitores, assim os envolvendo totalmente no seu mundo particular!
    Realmente primeira vez que entro nesse blog surpreendente, visitarei mais vezes, vocês postam coisas interessantes!
    Bom trabalho!!

  13. Na verdade o que importa é um bom desenvolvimento do enredo e o que o personagem transmite de sentimentos, sejam bons ou ruins, sendo ou não clichês, desde que o anime me envolva eu continuo assistindo. Assisto animes a uns 18 anos (na época da saudosa manchete, comecei com sailor moon, yu yu hakusho, shurato, ai que nostalgia boa rsrsr) e realmente meu gosto mudou muito desde então, afinal nos praticamente passamos da infância a vida adulta assistindo animes, assim como os gostos pelos gêneros de filmes e bandas musicas mudam os de animes tb, mas espero nunca deixar de gostar de animes, mas isso só o tempo dirá porque não da para garantir nada (eu dizia que nunca deixaria de gostar dos backstret boys aos meus 15 anos, hj nem lembro mais quem são, kkkkk). Não acho que ficamos apenas mais seletivos depois de mais velhos, pois ao mesmo tempo deixamos de lado certo preconceitos e abrimos nossos horizontes para coisas que torcíamos o nariz. Hj eu assiso e lei de tudo, não importa o gênero, desde que me envolva!
    O que acho que realmente mudou de antigamente para hoje em dia é que tem muitas industrias de anime voltadas apenas para o lucro, o que torna o trabalho de seleção mais difícil, porém um bom apreciador de animes sabe se divertir atém enquanto escolhe e le sobre animes em busca do que assistir, mesmo que sem aquela enorme ansiedade dos mais novos!

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