Avaliação: Henshin Mangá #01

Mais de um ano se passou desde que a Editora JBC anunciou no Henshin+ 2013 que iria fazer um concurso nacional de mangás, que mais tarde seria nomeado Brazil Manga Awards. O concurso aconteceu, quase 200 quadrinistas participaram, e o resultado finalmente foi para as bancas: Henshin Mangá #01, uma antologia reunindo os cinco vencedores do concurso.

As obras são bem variadas, com estilos e histórias bem diferentes. Posso dizer que só desse produto existir já é uma vitória para todos nós, mas agora tá na hora de analisar o que ele nos oferece. Para isso, decidi reunir toda a equipe do Anikenkai para avaliarmos história a história e darmos a você pontos de vista diferentes. Então vamos nessa!

Quack (de Kaji Pato)

Diogo: Eu achei que a escolha de Quack para abrir o Henshin Mangá foi muito acertada. Ele é o que tem o traço mais parecido com um mangá estilo Shonen Jump da vida e isso com certeza atrai gente para lê-lo. Além disso, adorei a química entre os personagens principais e como o diálogo deles flui bem. Inclusive gostei bastante como o autor não teve medo de escrever em “brasileiro”, com vários maneirismos particulares da nossa língua. Na arte eu destacaria os cenários. Estão muito bonitos e bem detalhados, dando bastante vida àquele mundo. De ponto negativo acho que foi toda a passividade da obra. O humor tava bom, mas nada acontecia de fato. Pareceu apenas um monte de momentos colados uns aos outros.

Clara: Criativo e carismático, Quack foi o único entre os cinco trabalhos que buscou se mostrar como um “mangá nacional” de fato. Ao mesmo tempo que sua arte tem um estilo próprio, é possível identificar diversos recursos gráficos típicos do quadrinho japonês, o que torna a obra especialmente divertida aos já familiarizados com mangá. Apesar da história maluquinha, percebe-se que houve um esforço por parte do autor em pesquisa, de maneira que a ambientação fosse impecável, apesar do gênero comédia não exigir tanto. Além de entreter o leitor com uma história agrádavel, Quack reafirma que é possível aproximar a nossa cultura e mangá, assim como os trabalhos do nosso já conhecido Studio Seasons. Uma vitória merecida, de um artista com claro potencial para se tornar profissional.

Fred: É o mais parecido com um mangá shonen de todos os que temos aqui, o que por um lado é bom e por outro é ruim. Você não tem surpresas com ele, porém é só mais uma história comum em um one shot que já vimos tantas vezes. Não é uma história que desce bem porque tem um ar de introdução. Os desenhos são médios, achei que os personagens tinham muitas expressões, mas também achei que não foram bem desenvolvidos e não achei as piadas interessantes.

Crishno: O Escolhido (de Francis Ortolan e Lielson Zeni)

Diogo: Eu fui um daqueles que dobrei o nariz para a arte desse mangá mas logo me vi virando as páginas freneticamente para ver aonde aquilo iria chegar. Isso é favorecido por um roteiro de falas curtas e ritmo rápido de acontecimentos. Curiosamente, pra mim, a cena final não foi tão impactante e a gag que se segue foi previsível demais. Sinto como que já tivesse visto aquilo antes. Como toda a história se prende muito a esse momento final, acabou perdendo pontos pra mim.

ClaraCrishno gera estranheza pela pobreza estética (salvo os monstros-árvore) e principal simplório, para não dizer sem apelo algum, especialmente se lido logo em seguida à Quack como a ordem induz. Sua leitura é genuinamente entediante, além de dificultada pelo uso excessivo de uma ferramenta cômica nada engraçada. O final, a única coisa que se salva na one-shot além da bela página dupla do monstro-árvore, é aquela típica ideia que passa pela cabeça, tira uma risadinha, mas não tem nada de genial para merecer ser contado a alguém. Estarei sendo dura agora, mas é impossível acreditar que não havia algo melhor para ser publicado.

Fred: Eu achei esse um dos melhores da coleção. Muito divertido com desenhos simples, mas que tinham personalidade e fizeram o trabalho direito. Muito bem conduzido do começo ao fim.

[Re]Fabula (de Nameru Hitsuji)

Diogo: Tive mixed feelings com esse mangá. A arte começou me agradando, mas depois me pareceu confusa demais. No entanto, acho que o que mais me incomodou foi a narrativa. A condução da história me pareceu um tanto inconstante. Além disso – e já digo que pode ser algo bastante pessoal meu – cansei um pouco de histórias recontando fábulas. Quando a DC lançou Fables era tudo uma novidade, além de ter enorme qualidade. Daí, de uns tempos pra cá, vários autores em diversas mídias resolveram revisitar fábulas e recontá-las. Seja em séries como Once Upon a Time ou então em filmes como aqueles recentes da Branca de Neve, João e Maria, etc. Parece que está tudo muito saturado. Ainda assim, ao terminar a leitura, não consigo dizer que foi ruim. Que coisa…

Clara: Assim como o título induz, a obra se trata de uma re-apresentação de uma fábula, tipo de narrativa em que animais apresentam características humanas. Logo já simpatizei com o trabalho, por gostar muito de fábulas em geral e, em especial, o mito do horóscopo chinês, inteligentemente adaptado pelos autores de maneira a explorar mais a fundo os protagonistas da história original. [Re]Fabula, ao trabalhar com mais agressividade o conflito entre Gato e Rato, soube explorar tanto o instinto de sobrevivência, comum a todo ser vivo, quanto a sede pela luta – característica tão terrivelmente humana. Apesar de ter gostado bastante do oneshot, acredito que teria funcionado melhor se tivessem apostado mais na selvageria dos personagens. O impacto sobre o leitor seria mais forte, além de que aproveitaria o potencial da arte para ilustrações mais chocantes. Tenho certeza de que os autores fariam um ótimo trabalho com horror, espero que tentem algo por esse caminho algum dia também!

Fred: Desenhos que transitam entre o belo e o confuso. No começo achei que seria uma história entre animais e achei todo o tema muito interessante. Quando foi pra batalha acho que caiu demais e perdi completamente o tesão em continuar a ler. Acho que se fosse uma aventura de animais tentando fazer planos ou estratégias pra pegar outros, ao invés de só uma briga de poderes, seria muito mais interessante. Uma pena, porque achei que tinha muito potencial, mas o saldo é fraco.

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Entre Monstros e Deuses (de Pedro Leonelli e Dharilya)

Diogo: Que arte linda. Alguns podem dizer que essa obra foge demais do padrão do que conhecemos como “mangá”, mas eu digo que, o que importa, é que ela é uma boa história. Muito boa. Se possível adoraria ver essa história  colorida.

Clara: [preferiu se abster de comentar esse mangá]

Fred: Ao contrário do que os juízes falaram, não vi nada de Sandman aqui, o que não quer dizer que achei ruim,  pelo contrário. Acho que em termos de desenho foi sem dúvida o melhor (apesar de achar que o protagonista parecia uma menina mesmo sendo homem, mó trap, meu…) e a história também foi excelente. Acho que foi o que mais me deixou com vontade de ler mais. O escolhido foi ótimo, mas tinha bem cara de história fechada. Esse também tem, mas acho que esse universo podia ser bem abordado e o autor mostrou que tem talento pra isso.

Starmind (de Toppera TPR e Ryot)

Diogo: Esse mangá tem a magia. Sério. Todos os mangás que fizeram parte dessa antologia tem seus pontos positivos e negativos, mas o mais completo de todos é, sem dúvida, Starmind. Não é a toa que ele levou o prêmio de campeão. Mereceu. A arte é sensacional, cheia de personalidade e casa muito bem com o roteiro, também muito bem elaborado, ágil e que te prende do começo ao fim. Que mangá. Sério. Fiquei realmente impressionado e quero esses autores publicando mais coisas dessa qualidade logo! Pode ser clichê ter o campeão como favorito, mas é assim que me sinto.

Clara: Com uma arte sensacional e cheia de personalidade, Starmind conseguiu ser fofo, engraçado e original! O talento dos autores transborda das páginas, seja provocando ou divertindo o leitor. Apesar de simples, a história foi bem conduzida, o suficiente para que a arte brilhasse. De longe foi o trabalho apresentado mais próximo de uma qualidade profissional, a vitória deste BMA 2013-2014 foi com certeza merecida!

Fred: Eu gostei muito dos desenhos. Eles tem um ar de desenho animado japonês infantil e quando chegam na parte mais maluca lembra algo como Bobobobobo. Achei competente. Acho que as piadas foram legais e acho até que dava pra trabalhar uma série com esses personagens, além de ter ficado surpreso com alguns dados que faziam sentido, mas também queria deixar claro que navier stokes são equações relacionadas a hidrodinâmica e não tem nada a ver com quântica, que é algo que se refere a… Quantizações e nem o quadro nem os ditos pelo herói tinham qualquer menção a uma quantização de qualquer forma… Mas se fosse reclamar de como a quântica é tratada na mídia eu ia ficar chorando o tempo todo… Ah, já faço isso.

Comentários Finais

Ao terminar de ler o Henshin Mangá senti que um importante passo foi dado em prol do quadrinho nacional. Ver autores tão competentes e tão diferentes sendo publicados numa mesma revista trazendo conteúdo 100% feito aqui me encheu de alegria. Claro que nem todas as histórias vão agradar a todo mundo e pode ser até que nenhuma agrade você, mas pode ter certeza que ano que vem tem mais e eu espero que esse concurso se repita ano após ano trazendo uma nova leva de autores com várias novas histórias prontinhas para serem lidas. Um dia, quem sabe, teremos um mercado rico cheio de boas histórias nas bancas feitas por autores nacionais?

Não leiam essas histórias com preconceito. Preconceito para o bem ou para o mal. Tanto tem gente que diz que é tudo uma bosta porque foi feito no Brasil quanto tem gente que diz que por ser feito no Brasil se for ruim já tá bom. Não, leia da mesma forma que você leria qualquer outro quadrinho. Com o mesmo olhar crítico. Eu li e curti bastante.

E vocês? O que acharam dos vencedores? Qual foi o seu favorito? Deixem suas opiniões nos comentários!

Sobre Diogo Prado

Tradutor, professor, host do Anikencast, apaixonado por quadrinhos, apreciador de jogos eletrônicos e precoce entendedor de animação japonesa.

Você pode me achar no twitter em @didcart.

Mais de um ano se passou desde que a Editora […]

4 thoughts on “Avaliação: Henshin Mangá #01”

  1. Bom, achei algumas análises interessantes, mas cada nova resenha me mostra como minha atração pelos quadrinhos é extremamente diferente do que atrai a maioria.
    E acabo achando que os comentários na antologia dos avaliadores foram um certo tipo de erro por de alguma forma influenciar na opinião de quem lê (impossível não acontecer).
    Outra coisa: a utilização desse termo de “nível profissional” ou trabalho profissional fica um tanto confusa também, uma vez que sabemos que o mesmo não significa qualidade, vide muitas coisas ruins que são publicadas aqui e em todo lugar do mundo. Basicamente profissional define apenas se a pessoa trabalha com isso ou não, o que é o caso de vários desses que estão na revista.

    E por fim: aproveitando que um dos comentários mencionou o interesse em outras obras dos autores de Starmind, um deles, Ricardo Tokumoto, é um dos quadrinistas com trabalho mais bacana aqui no Brasil na minha opinião.
    Pode procurar os trabalhos Ryotiras, O Pequeno Song, Manual da Auto Destruição, Ovelha Negra, e muito mais coisa bacana por aí. Excelentes.

  2. Starmind sem dúvida foi a grande novidade! Entre Monstros e Deuses também me impressionou… Gostei dessas duas!

  3. Quero muito comprar! Mas só uma coisinha e incomodou nesta análise. Esta frase:
    “um importante primeiro passo foi dado em prol do quadrinho nacional”

    Acho que este primeiro passo já aconteceu há muito tempo, não? Tudo bem que houve uma quantidade imensa de tropeços pelo caminho, mas dificilmente este Henshim Mangá é o ponto zero

    1. Nossa, você está certa. Eu mesmo tinha me corrigido, mas pelo visto marquei a versão anterior. Sem dúvida o Henshin Mangá não foi o primeiro passo, mas foi um bem importante. Valeu pelo toque.

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