Pessoas mudam, opiniões também

Você já re-assistiu algum filme e achou ele melhor ou pior do que você lembrava? Você já re-leu um livro e teve uma experiência completamente diferente da primeira vez? Pois é… nós, enquanto seres pensantes, julgamos “arte” (seja ela na forma que for) por meio da experiência que temos com ela. Assim sendo, arte nunca vai ser algo estático, imutável, muito embora a “objeto artístico” em si não se altere. Isso acontece pois a cada dia nós mudamos um pouquinho, temos novas experiências de vida, adquirimos novos conhecimentos, e isso torna nossa percepção diferente.

Eu estava ouvindo ao Mangá² #80, o segundo deles sobre Resenhas e Críticas, e ao terminar, a ideia para esse post logo me veio à cabeça. Durante a discussão eles mencionam o fato de que é normal as pessoas mudarem de opinião e isso é um fato. Você assistir um filme do Miyazaki quando criança é completamente diferente de você assisti-lo quando adulto (para melhor ou pior, diga-se). No entanto, parece que nós, que expomos nossa opinião para os nossos leitores/espectadores/ouvintes/etc, as vezes preferimos esquecer esse fato por julgarmos que reconhecer que aquele review que você fez há tempos atrás não é um MONOLITO DA VERDADE teoricamente comprometeria sua confiabilidade para com o seu público.

The-Critic-Gracie-Productions

Isso não poderia estar mais errados.

No geral, preferimos avaliar uma obra levando em conta nosso gosto pessoal. Para alguns isso pode soar como um absurdo. Reviews tem que ser imparciais. Só que não. Não existe texto sem pessoalidade. Todo texto carrega um pouco de quem o escreve, por mais, supostamente, imparcial que seja. Alguns se escondem por trás de um tecnicismo (nem sei se essa palavra existe) exagerado, avaliando a obra quase como um engenheiro faz a avaliação final de um prédio, o que não é errado, tem seu lugar e sua utilidade, para aqueles que se importam com isso. Porém, para mim, e acredito que para muitos outros blogueiros & cia, o que nós queremos passar para nossos leitores foi a nossa experiência com aquela obra. O que aquela obra passou para nós, como foi assistir àquilo. Assim sendo, quando eu publico um texto, não quer dizer que o que eu escrevi naquele momento seja algo que eu vá levar para o resto da vida.

Um exemplo claro aqui no Anikenkai foi com Nazo no Kanojo X, cujo minhas primeiras impressões do anime o classificou quase que como lixo, mas quando, um ano e meio depois, escrevi sobre o mangá para a Corrente de Reviews, o elogiei bastante e hoje o considero um mangá muito bom em publicação. Por que eu mudei de opinião? Porque minha experiência com a obra foi diferente. Eu consegui enxergar coisas que o choque inicial com aquela premissa não me permitiu ver na época. Eu acredito que muitos que leem o blog o fazem porque compartilham dos meus gostos (ou da maioria deles), ou que considera minha opinião relevante. Assim sendo, se eu ficasse falando só da parte técnica das coisas, eu não estaria sendo justo com essas pessoas que esperam justamente saber como foi a experiência para mim. road-to-100k-end-of-the-road-the-critic

Vale dizer também que não só minha opinião sobre as coisas mudam, mas a minha opinião sobre resenhas, críticas, reviews, etc, como um todo também mudam. Acredito que muitos outros blogueiros também pensem em coisas como “por que eu escrevo reviews?”, “como devo escrever esse review?”, “escrevo ou não escrevo sobre essa obra?”, e por aí vai. Já tive diversas fases aqui no Anikenkai e nunca consegui me estabelecer em apenas uma maneira de analisar uma obra. Se eu mudei, a maneira como eu avalio algo também muda. Acredito que, pelo menos para mim, eu sempre estarei querendo melhorar e trazer um conteúdo melhor para o meu leitor. Pode ser que daqui a um ou dois anos eu volte aqui e diga que tudo que escrevi aí em cima seja besteira.

Ao escutar um podcast com uma discussão interessante sobre o assunto, eu acabo pensando sobre ele e isso acaba me fazendo mudar algumas coisinhas, melhorar um pouquinho aqui, um pouquinho ali. E é isso que hoje, eu enxergo como uma review: um texto que possibilita discussão. Um texto que vai fazer meu leitor pensar sobre aquela obra, antes ou depois de assisti-la, não uma definição absoluta se uma obra é boa ou ruim.

Embora eu queira muito continuar falando sobre como eu vejo a ideia de reviews hoje em dia, eu prefiro parar por aqui para não cansar vocês. Afinal, seria ótimo se vocês pudesse postar o que vocês acham desse assunto lá nos comentários. Espero que o que eu disse aqui faça vocês começarem a pensar sobre isso. Eu estarei satisfeito se tiver conseguido isso.

Sobre Diogo Prado

Tradutor, professor, host do Anikencast, apaixonado por quadrinhos, apreciador de jogos eletrônicos e precoce entendedor de animação japonesa.

Você pode me achar no twitter em @didcart.

Você já re-assistiu algum filme e achou ele melhor ou […]

12 thoughts on “Pessoas mudam, opiniões também”

  1. Concordo com isso totalmente! Da mesma forma que o mundo não para, nós também não, por mais que as vezes nós estejamos numa rotina, e nossa cabeça e modo de pensar também.

    Falo isso pois estou para fazer 18 anos e sempre encarei as coisas na minha vida da forma mais simples possível! Sem fazer complexidades com a maioria dos assuntos, e hoje em dia eu lembro de quando tinha entrado no ensino médio e sinto que não mudei muito, e por mais que eu me sinta o mesmo, sei que minha forma de pensar é quase que completamente diferente.

    E isso reflete por exemplo quando leio ou releio mangás ou assisto animes. Eu não curto comédias românticas, isso é algo que desde pequeno era uma certeza, mas hoje eu estou curtindo o anime Goldem Time e o anime/mangá de Nisekoi! E ja consigo ver Dragon Ball sem o saudosismo da infância!

    Ou até meu gosto por livros, que curti muito a saga Percy Jackson (OS LIVROS SÃO TOTALMENTE SUPERIOR AOS FILMES), mas hoje minha série favorita é a Assassin’s Creed!

    Ficar mais velho não quer dizer parar de gostar das coisas, mas aprimorar (ou/e expandir… ou não) sua forma de pensar, agir e sentir as coisas!

  2. Realmente um ótimo texto. Eu costumo dizer que, por mais ignorante que soe, quem não consegue mudar de opinião são pessoas sem capacidades de analisar algo, pessoas completamente fechadas. Aquela que, mesmo provado que está errada, se esforça em manter sua opinião por vergonha de mudar. Eu acredito que mudar faz parte do nosso aprendizado. Seja em relação a fatos ou coisas ambíguas.

    Eu mudo bastante conforme as coisas vão acontecendo na minha vida. Fairy Tail ainda é meu mangá favorito, acima das coisas mais magnificas que já li, no entanto eu não fico negando seus incontaveis defeitos, na verdade até os exponho. Coisa que no inicio eu insistia em defender.

    Envolve um pouco orgulho também, e difinivatamente há bastante conflito entre lado critico e pessoal. Bem, não sei se eu estou no ponto certo, de qualquer forma, ótimo post.

    (E espero que isso não signifique que tu deixou de se impressionar com Kill La Kill :v)

    1. Me siga no twitter e verá que ainda estou achando Kill la Kill muito legal. rs. Principalmente agora nesse final.

  3. hum…… eu fui inventar de rever depois de mais de 10 anos Shurato , que no fundo da minha memória nostálgica, era uma das melhores coisas que já tinha visto, mas tecnicamente não é ….. minha mente não funciona mais como antes , hoje estou mais exigente .. é normal né.. com o tempo a pessoa tem um senso crítico mais ”afiado” , e isso vale para filmes, livros , músicas e tudo, opiniões mudam sempre .. para melhor ou para pior … , e isso é muito bom

  4. Vou comenta aqui um exemplo que aconteceu comigo atualmente: antigamente nos meus 13 anos de idade eu assisti um anime chamado Code Geass, diga-se de passagem que eu achei FODA , mas anos depois quando eu fui procurar um imagem desse anime para relembrar do quão foda era eu vi crianças com um desing ”estranho” e nada ali me chamou atenção, depois disso eu fiquei com medo de reassistir o anime e ter uma experiencia totalmente diferente da que eu tive e achar aquilo que para mim era FODA seria um merda.

    Bem essa foi a historinha 😛 desculpem algum erro de português ou algo do tipo valeu e tchau

    1. Code Geass para mim é foda não importa quantas vezes eu veja pretendo ver de novo certas obras mesmo com tempo continuam a ser boas tem os filmes só que com outra história uma especie de continuação pelo que notei code geass boukoku no akito

  5. concordo geralmente a gente tem uma certa opinião sobre mas quando ouvimos a opinião de outro ouvimos ou lemos sobre aquilo a gente reflete e começa a pensar diferente de antes isso é claro para quem está disposto a aceitar ideias e formas de pensar diferente ja vi pessoas que só ficam, presas a sua forma de pensar se mudamos a nossa forma de pensar e avaliarmos as coisas de pontos diferentes nós mudamos mas também devemos estar dispostos a mudar para melhor é claro eu mesmo ja percebo que não sou mais a pessoa que era um ano atrás pois penso diferente não lembro qual filosofo diz isso mas ele fala que o ser humano esta em constante mudança um processo de adaptação dessa forma adquirimos mais experiencias e nos tornamos pessoas maduras mas não é para todos vejo isso quando vejo pessoas que não sabem dialogar ou fazer um comentário construtivo pois partem para a ignorância eu procuro não me envolver em discursoes em que cada pessoa tem ponto de vista variados como comparações ou qual jogo é melhor isso só dor de cabeça quando aparece um troll enfim eu mesmo desde que entrei para o ensino médio foi uma grande mudança pois passei a ter várias experiencias e interagir com pessoas diferentes por estudar em um instituto nessa época começei e ver animes e só fui aprimorando meus gostos me lembro de ver Tari Tari ano passado achei muito ruin resolvi ver semana passada e achei ótimo achei até estranho isso isso ocorreu com animes e mangás tbm dava para escrever uma coluna inteira mas até aqui ta bom gostei do assunto

  6. O que eu penso…
    Primeiro, concordo na parte q é possível mudar de opinião mas acho q faltou mais desenvolvimento aqui. Existem várias variáveis que nos fazem mudar de ideia sobre algo ou não. Existem obras que vamos gostar sempre e sim, outras em que mudaremos de opinião.

    Quanto aos reviews, é sim possível fazê-lo imparcial mas é praticamente uma “arte” à parte fazê-lo. Para isso é necessário um conhecimento/experiência muito grande no assunto em que se critica (o que leva a um cruzamento com essa ideia sua, um bom crítico é justamente aquele que tem uma base muito boa e assim, dificilmente irá mudar a opinião sobre algo).
    Um bom exemplo são os reviews de hardware [celulares/computadores,etc.], para fazer uma avaliação sobre esses produtos é só compará-los com a média de sua categoria para dizer se ele é bom ou não [agora, fazer essa comparação exige o uso de muitos argumentos de testes]. Já sobre produtos culturais é mais difícil, os detalhes que podem fazer uma obra melhor que a outra são muitos [eu diria q a argumentação necessária seria pelo menos a tripla da de um hardware por exemplo]; acho que nesse caso, o melhor que a maioria pode fazer é analisar a obra sobre o máximo de detalhes possíveis. Há! Há também a opinião sobre cada detalhe em si [um romance meloso pode ser bom pra alguns e ruins pra outros por exemplo], o crítico nesse caso deve deixar claro para qual “lado” sua opinião pende, sem menosprezar aqueles “do outro lado”.

    Ufa! Enfim, é isso. Infelizmente é triste ver que a maioria dos blogueiros por aí acha que seus sentimentos e opiniões são inquestionáveis e superiores, eles são ditadores da opinião e pronto. Seria um sonho imaginar um cenário onde todos seguissem uma etiqueta como essa proposta por mim… Quem sabe um dia não? [daqui uns 50 anos quando vivermos num mundo sem PT, talvez… :P]

    1. Amiche, a pessoalidade existirá sempre, mesmo em reviews imparciais. A grande “arte” que você provavelmente está se referindo, é a habilidade do crítico em conseguir neutralizar esse fator em nível aparente, mas no subtexto a pessoalidade estará lá. Seja na escolha de palavras, no desenvolvimento da argumentação, etc etc etc. Retirar completamente a pessoalidade é impossível, mas é claro que há níveis.

      1. E vou além, Diogo.
        Lucas, análise de hardware se baseia em qualidades extremamente objetivas, como durabilidade, capacidade, resistência, etc. Tudo isso é mensurável, comparável e facilmente compreensível por qualquer um. Todos vão concordar que uma bateria que dura mais é melhor.

        Quando estamos falando de arte, não existe mensuração e, em consequência, fica difícil fazer comparações. Você consegue me fazer uma lista definitiva e absoluta sobre quais aspectos e qualidades tornam uma obra boa? Essa lista tem que ser completa e perfeita o suficiente para que todo mundo que veja a lista consiga concordar com ela de primeira.
        Se você conseguir, eu aceito sua teoria, senão você tem que aceitar que não ter como ser imparcial quando os critérios analisados são tão subjetivos assim. A sua própria escolha dos critérios já demonstra parcialidade o suficiente para quebrar a teoria.

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