Uma conversa entre Takehiko Inoue e Eiichiro Oda – Parte 4 de 6

Depois de um ótimo feriado que passei no interior de São Paulo, volto com as atividades do blog em grande estilo. Aí está a 4ª parte da conversa entre Takehiko Inoue (Vagabond, Slam Dunk) e Eiichiro Oda (One Piece) publicada na revista abaixo. Se você começou a acompanhar o blog recentemente e ainda não verificou os posts anteriores, clique na categoria “Entrevistas” e leia as outras 3 partes.

Agora sem mais conversa, clique no “Ler Mais” logo abaixo da imagem e aproveite…

******: Eu acho que uma coisa que vocês dois tem em comum é que vocês se esforçam para transmitir através de seus desenhos coisas que realmente querem dizer.

Inoue: Pode ser verdade. One Piece em particular parece realmente querer dizer algo. Essa vontade chega a transbordar da obra.

Oda: Eu sei que meus desenhos são um tanto bagunçados, mas eu realmente me sinto obrigado a desenhar tudo que está lá. Mesmo que esteja no caminho de algo ou seja lá mais o quê, é tipo, “Esse é o som que eu estou ouvindo agora!”

Inoue: Sons e vozes das pessoas aparecem por todos os lados. Realmente muita coisa acontece ao mesmo tempo em seus desenhos, não é?

Oda: É assim que sempre acaba saindo.

Inoue: Em One Piece eu sempre percebo seus sentimentos ali, a existência daqueles sons, daquelas pessoas, daqueles sentimentos nesse mundo. Essa “linha mestra” do seu trabalho sempre se mantém, não oscila. Acho que é dessa maneira que você conseguiu sustentar uma série de 12 anos.

Oda: Muito obrigado. A coisa que eu mais quero fazer com meus quadrinhos não é só contar histórias, mas criar modelos de personagens. Eu penso tipo “Esse tipo de pessoa pode existir?” O tempo que eu gasto fazendo os mais variados tipos de design se torna bem divertido.

Inoue: É o completo oposto de mim.

Oda: Coisas como quão musculoso deve ser um corpo para ficar bem com um certo tipo de estrutura facial são coisas que, no final, eu acabo não prestando tanta atenção (risos). Os momentos em que eu crio silhuetas para os personagens diferentes de tudo que se viu — esses são os momentos que me deixam mais feliz. E, tendo criado, eu quero usá-la o mais rápido possível. Eu crio episódios só por essa razão… eu faço isso o tempo todo, então a história acaba ficando cada vez mais longa.

Inoue: Então foi assim que você chegou até 52 volumes?

Oda: Sim (risos). Quais são os momentos divertidos pra você?

Inoue: Esses momentos estão diminuindo cada vez mais pra mim. O tempo que eu gasto desenhando os cabelos são bem divertidos. Enquanto eu estou progredindo com essa arte, a coisa é divertida, todo o tempo que eu gasto desenhando é proveitoso. Porém, recentemente, eu não tenho tido mais esse sentimento tão constantemente. Eu me sinto como se estivesse num momento de crise iminente.

Oda: Crise iminente?

Inoue: Sim. Fazer quadrinhos é algo que você supostamente faz porque gosta, certo? Nada deixa você mais empolgado do que desenhar, com isso você continua desenhando independente do quão difícil esteja.

Oda: É.

Inoue: Contudo, eu cheguei em um ponto onde, no balanço entre os momentos divertidos e os momentos difíceis, se o prazer de fazer o trabalho diminuir ainda mais, eu posso não ser capaz de continuar. Neste momento eu estou tentando buscar um meio de sair dessa, porque eu sei que eu tenho que sair.

Oda: No meu caso eu acho que não tenho nenhum tipo de crise com o meu trabalho.

Inoue: Dá pra perceber isso só de ler One Piece. Eu tenho certeza que você tem suas próprias coisas com que lidar, mas eu acho que está realmente bem longe desse sentimento de crise. Para mim, eu sinto que estou realmente sendo tragado por Vagabond. É como se a própria natureza do trabalho estivesse me afetando. Eu desperdiço tantas horas pensando em questões sem respostas. Eu penso que esses sentimentos devem sumir se eu passar a desenhar um tipo de entretenimento mais feliz e mais simples.

Oda: Você sente alguma mudança no ritmo quando você alterna entre Vagond e Real?

Inoue: Sim, eu sinto. Existe algo em Real que me dá fôlego. Não posso dizer que chega a ser realmente divertido, mas comparado com Vagabond é bem mais fácil de se trabalhar. Eu consigo ter ideias só de andar pela rua.

Oda: É realmente difícil você encontrar mestres espadachim no meio das ruas.

Inoue: Exatamente (risos).

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Oda: Pode ser um pouco tarde pra perguntar isso mas o que te motivou a escrever sobre a história de Musashi?

Inoue: No começo não era nada demais. Alguém me recomendou o romance Musashi de Eiji Yoshikawa e foi realmente uma boa leitura. Fazia mais ou menos um ano do fim de Slam Dunk e eu não estava fazendo nenhuma outra série. Eu queria começar a trabalhar em algo e eu pensei que seria legal transformar aquilo em quadrinhos. Então, eu fiz uma proposta, tudo correu tranquilamente e logo eu consegui o “ok” para começar. No começo eu não tinha a mínima ideia de qual poderia ser a dificuldade de se fazer algo do tipo. Eu meio que comecei a fazer sem o menor conhecimento, energia e técnica que seria necessária para eu fazer um trabalho histórico. Foi uma verdadeira luta.

Oda: Se você não pesquisar a sério os materiais históricos não tem como fazer o trabalho, tem?

Inoue: Se eu não tivesse conseguido fazer isso, eu teria desistido. Nós até cogitamos a possibilidade de ter um especialista para checar as referências históricas, mas no fim eu acabei decidindo por fazer à minha maneira, a minha visão da história de Musashi.

Oda: Os personagens são os mesmos do romance?

Inoue: Os personagens são quase todos os mesmos, o que muda mesmo são suas personalidades.

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Bem, por enquanto é só. Na próxima parte teremos os dois mestres dos mangás discutindo sobre a épica batalha que aconteceu em Vagabond entre Musashi e os 70 espadachins da Escola Yoshioka.

Eu, assim como vocês, espero ansioso pela próxima parte.

Sobre Diogo Prado

Tradutor, professor, host do Anikencast, apaixonado por quadrinhos, apreciador de jogos eletrônicos e precoce entendedor de animação japonesa.

Você pode me achar no twitter em @didcart.

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6 thoughts on “Uma conversa entre Takehiko Inoue e Eiichiro Oda – Parte 4 de 6”

  1. Parece que o Inoue está de saco cheio de Vagabond mesmo, a qualidade do mangá caiu bastante, agora ele anunciou que vai demorar mais um tempo pra voltar do hiatus…

    Vida de mangaka deve ser legal, porém complicada também. Trabalhar com algo que não está te deixando satisfeito é chato, sei muito bem como é isso. hehe

    1. Como assim, amiche? rs.
      Não ignorei, apenas não dei um reply.

      Já conhecia a série e não gostei tanto, me pareceu estranha. rs.
      De temática “otaku” temos o famoso NHK Ni Yokusou ou Welcome to NHK que eu gostei bastante. Por sinal, este deverá ser lançado pela Panini aqui no Brasil em breve!

  2. Mais uma vez eu estou super atrasado aqui, porém, como diz aquele ditado, “antes tarde do que nunca”. A entrevista continua ótima e fico cada vez mais em êxtase para ver a próxima parte. Por falar nisso, deixa eu parar de perder tempo comentadno e ir para a parte 5 logo.

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